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Niteroiense retida na África do Sul faz apelo por repatriação

Quando o governo da África do Sul determinou quarentena e cercou as fronteiras na quinta-feira (26) — movido pelas duas primeiras mortes pelo novo coronavírus naquela manhã — a niteroiense Juliana Macedo, de 31 anos, e seu noivo dirigiam para Cidade do Cabo para devolver o carro locado.

No trajeto entre as cidades de Knysna e Mossel Bay, paraísos da Rota Jardim, conforme as notícias chegaram, ficou evidente que estavam trancados no continente africano. Desde então, a viagem dos sonhos se tornou um pesadelo.

O casal — agora trancafiado em quarentena dentro de um quarto de hotel — aguarda a repatriação imediata junto a outros 500 brasileiros retidos na África do Sul. No entanto, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores ainda não há previsão do resgate.

A securitária Juliana Macedo, de 31 anos, moradora de Niterói, alerta para repatriação de 500 brasileiros na África do Sul. Vídeo enviado ao Plantão Enfoco

“Nós ficaríamos quinze dias de férias aqui. Chegamos em Joanesburgo no dia 16 [de março] e percorremos algumas cidades. Até então, o país estava com algumas medidas preventivas em relação ao coronavírus, então as coisas estavam funcionando normalmente” relatou Juliana Macedo.

No entanto, a pandemia escalou. O país concentra 1187 diagnósticos da doença respiratória e dois óbitos e emerge como epicentro do contágio no continente, seguido do Egito.

A companhia aérea cancelou o retorno, que seria na segunda-feira (30), ainda antes das restrições. No desespero, Juliana arcou com passagens em outra companhia, mas o retorno foi cancelado quando presidente Cyril Ramaphosa bloqueou a malha aérea.

“Nos vimos presos aqui, de fato. Todos os hotéis estão fechados. Consegui negociar um hotel na mesma rede que eu tinha reservado, mas teremos que sair” relatou Juliana. Daqui dois dias, o casal partirá para um imóvel particular locado por aplicativo.

A companhia ofereceu um vôo em maio, quando encerram as três semanas previstas de quarentena para uma população de 56 milhões de habitantes. A perspectiva é de que o resgate do Itamaraty ocorra antes. Sem o reembolso das passagens, hospedagens e seguradora, o casal deve amargar um prejuízo de R$ 20 mil reais.

Pavor do contágio

Enquanto isso, a rotina é dura na Cidade do Cabo. O governo colocou o Exército e as forças policiais nas ruas para vetar o deslocamento. Nem ônibus, nem metrô, nem transportes por aplicativos circulam. Na semana do decreto emergencial, houve corrida aos mercados.

O casal não pode deixar o quarto. A gerência do hotel instalou um microondas no espaço e Juliana abasteceu a geladeira com comida congelada.

O governo federal proibiu, ainda, a comercialização de álcool para manter a população sóbria no período. Nas ruas, impera o vazio.

“Precisamos de repatriação imediata. Este seria o melhor cenário: retornar ao Brasil e conseguir fazer a quarentena. Aqui também há casos de coronavírus e a situação fica mais pavorosa porque não estamos nem no nosso próprio país” afirma, citando o medo de se contagiar em solo estrangeiro.

África do Sul resiste

As tratativas para o retorno dos cerca de 500 brasileiros na África do Sul passam pela Embaixada do Brasil em Pretória, capital, e o Consulado-Geral na Cidade do Cabo, que enfrentam resistência das autoridades locais.

O processo “envolve, entre outros aspectos, a contratação de voos charter e a obtenção de autorização para pouso e decolagem junto às autoridades sul-africanas”, explicou a cônsul Carmen Ribeiro Moura, em nota.

O Ministério das Relações Exteriores reforçou em nota que ‘a excepcionalidade da situação e as dificuldades impostas pelo isolamento imposto pelas autoridades no país desaconselham qualquer previsão, mas o Itamaraty está trabalhando, ininterruptamente, para lograr o retorno de nossos compatriotas’.

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