Cidades

Pandemia e decepção espantam eleitores em cidades do Rio

Número de abstenções, brancos e nulos totalizou 43,62% do eleitorado. Foto: EBC

Os números de abstenções, votos brancos e nulos apresentaram aumento nas eleições deste domingo (15) no comparativo com o pleito municipal de 2016, em cidades como São Gonçalo. Em todo o estado do Rio, a quantidade de eleitores que não compareceu às urnas chegou a 3,4 milhões. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o índice de abstenção em todo o país neste primeiro turno foi de 23,14%.

Os dados nacionais sobre a abstenção no primeiro turno das últimas eleições municipais foram de: 17,58%, em 2016, e 16,41% em 2012. Já no pleito presidencial de 2018, segundo o TSE, a abstenção no primeiro turno ficou em 20,33%, revelando o crescente índice em todo o país. Em São Gonçalo, neste ano, somados os números (abstenções, brancos e nulos), o índice ficou em 43,62%.

Em números práticos, a quantidade apenas de votos brancos e nulos — ou seja, quando o eleitor vai à urna mas não vota em nenhum candidato — supera quantidade de votos recebidos pelo candidato Capitão Nelson (Avante), segundo colocado na disputa, que avançou para o segundo turno, previsto para acontecer no próximo dia 29. O policial militar reformado somou 85.399 votos válidos. Nulos e brancos totalizaram 91.911.

O eleitorado apto a votar no pleito municipal de São Gonçalo neste ano era de 663.833 pessoas. Em 2016, que tinha mais eleitores aptos, o número de abstenções, brancos e nulos somados foi um pouco menor, chegando a 40,98% (281.248).

Já Niterói registrou o caminho inverso, mas ainda alto, do número do eleitorado que não escolheu por nenhum dos candidatos disponíveis. Em 2016, o índice somado de abstenções, brancos e nulos totalizou 38,46% dos eleitores aptos. Já neste ano, correspondeu a 37,96%. Ainda assim, a soma desses dados chegou a 148.556 encostando no novo prefeito eleito Axel Grael (PDT), que recebeu 151.864 votos (62,56%).

O índice também impressiona porque representa cerca de 57 mil a mais do que a quantidade recebida por todos os outros oito candidatos à prefeitura, que juntos somaram 90.866 votos.

Fatores

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Esse ano Niterói teve 37,96% do eleitorado apto que optou não por não escolher nenhum dos candidatos. Foto: Pedro Conforte

Formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professor da Universidade Veiga de Almeida (UVA), o cientista político Guilherme Carvalhido atribui como fator determinante para os números altos de abstenções, a pandemia do novo coronavírus. Por outro lado, o especialista destaca que, no caso especial do estado do Rio, também precisa ser observada a 'decepção' do eleitor.

"São dois motivos basicamente que se relacionam. Primeiro a pandemia, um fato decisivo para redução do número de eleitores nas urnas e aumento da abstenção. Isso porque tem impactado na nossa vida há cerca de oito meses. O segundo aspecto, falando do estado, pode ter tido aumento em decorrência da decepção pelo processo do governador afastado Wilson Witzel, que obteve votação substancial nas últimas eleições"

Ainda de acordo com o especialista, a crescente de abstenções e votos brancos ou nulos tem sido observada porque o eleitor fluminense 'guarda' uma memória desde os escândalos envolvendo os últimos três governadores, Sérgio Cabral, Luiz Fernando Pezão e o próprio Witzel.

"Juntando a pandemia com as questões da decepção, a gente consegue associar portanto esses dois fatores. Porque, em outro componente qualitativo, podemos observar o cidadão que não gosta de política, que tem restrições e vê na pandemia o discurso perfeito para não votar. O cidadão sabe que o voto é importante, ele não tira essa questão, mas vê na pandemia até a facilidade pelo aplicativo de justificar a ausência", conclui.

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