Alerta

Perigo sobre duas rodas: duas mil vítimas em hospital de SG

Dados se referem a 11 meses do ano passado

Motociclista morreu atropelado por caminhão na RJ-104, em Niterói, no dia 17 de janeiro
Motociclista morreu atropelado por caminhão na RJ-104, em Niterói, no dia 17 de janeiro |  Foto: Arquivo/Marcelo Eugênio
 

Dois mil e setenta e dois motociclistas feridos foram atendidos no Hospital Estadual Alberto Torres (Heat), em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, entre janeiro e novembro do ano passado. Em 2021, esse número foi ainda maior: 2.232 atendimentos. A direção da unidade revelou ao ENFOCO que registrou 1.917 atendimentos de pacientes que sofreram acidentes de moto em 2020.  

Segundo o hospital, o atendimento desses pacientes costuma demandar transfusão de sangue e, por isso, o alto número de casos impacta no banco de sangue.  

Devido ao baixo custo de manutenção, a motocicleta assumiu protagonismo no trânsito brasileiro: presença maciça nas vias em todo o país, esse veículo também ganhou participação relevante nos indicadores de sinistros, que em muitos casos terminam com mortes.

No último dia 17, um motociclista perdeu a vida ao se chocar contra um caminhão e um veículo de passeio na RJ-104, em Niterói. A vítima teria perdido o controle da moto e batido na lateral de um veículo de passeio, segundo testemunhas.

O piloto acabou se desequilibrando e caindo embaixo de um caminhão, que o atropelou, ainda conforme relatos. 

Até julho de 2022, cerca de 13 mil sinistros de trânsito, de forma geral, registrados em rodovias brasileiras tiveram como causa principal ou secundária questões relacionadas à condição de saúde dos motoristas, no momento da ocorrência. 

Esse volume de colisões, capotamentos e outros desastres deixou como saldo 13.744 feridos e 881 mortos – números que representam um aumento de quase 20% em relação ao mesmo período de 2021.

A conclusão é da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), que chama a atenção dos condutores e autoridades para a importância da prevenção à saúde para a redução de acidentes.

Com base na catalogação de dados coletados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), os médicos do tráfego reuniram os acidentes em categorias mais recorrentes, entre elas a falta de atenção, ingestão de álcool e substâncias psicoativas, sonolência do condutor e o mal súbito.

“As condições de saúde dos condutores são extremamente relevantes para a segurança do trânsito. Observamos que um terço dos mortos e feridos nas rodovias monitoradas pela PRF, só nos primeiros sete meses de 2022, podem ter sido acometidos por problemas como déficit de atenção (permanente ou circunstancial), deficiências visuais, distúrbios de sono e comprometimento motor ou de raciocínio”, pontua Antonio Meira Júnior, presidente da Abramet.

Para ele, a saúde do condutor é um aspecto que deve ser considerado no âmbito de ações e políticas públicas destinadas à redução dos indicadores e reforça o estímulo à realização periódica do Exame de Aptidão Física e Mental pelo motorista, mecanismo considerado decisivo para a redução da mortalidade no trânsito. 

Além de campanhas permanentes de conscientização e fiscalização, para além da Semana Nacional do Trânsito, Meira Júnior defende a prevenção adotada pelos médicos do tráfego.

A ingestão de bebida alcoólica é a terceira causa mais frequente, no que diz respeito à saúde de quem conduz. A causa deixou 2.233 feridos e matou 111 pessoas entre janeiro e julho de 2022. 

“Sabe-se que o álcool compromete o reflexo dos motoristas. Se fosse apenas isso, já não seria pouco, mas também reduz a capacidade de percepção da velocidade e dos obstáculos, reduz a habilidade de controlar o veículo, diminui a visão periférica, prejudica a capacidade de dividir a atenção e aumenta o tempo de reação”, alerta Flavio Adura.

Outra condição de saúde que mais aparece no levantamento é o sono. Quando insuficiente, é causa frequente e muito importante da sonolência diurna, sendo capaz de causar acidentes graves. 

Este fator motivou, segundo a PRF, 124 mortes e deixando 1.758 feridos, no período analisado. Completam o trabalho, o chamado mal súbito – perda de consciência devida mais frequentemente a doenças cardiológicas (infarto, arritmias) e neurológicas (AVC, convulsões) –, com um total de 390 mortos e feridos. 

Em termos globais, as informações contemplam apenas os sinistros registrados nas estradas e rodovias sob supervisão da PRF. Não foram contabilizados, portanto, transtornos em colisões que aconteceram em pistas, ruas e avenidas dos centros urbanos. Com isso, avalia o presidente da Abramet, “o quadro poderia ser até pior, pois um número importante de colisões não entra nas estatísticas”.

Segundo os dados analisados, 83% dos sinistros foram motivados exclusivamente pelo chamado fator humano. Além das causas relacionadas direta ou indiretamente à situação clínica dos condutores (fadiga, stress, cansaço, déficit de atenção ou comprometimento do raciocínio), são comuns as fatalidades relacionadas à imprudência ou transgressão às leis de trânsito. 

Os sinistros de trânsito são eventos não intencionais, evitáveis, causadores de lesões físicas e emocionais. "Neste trabalho verificamos que é possível atribuir ao ‘fator humano’ a causa de 83%, 5% ao ‘fator veículo’, 10% ao ‘fator via’ e 2% ao ‘fator ambiente’. Dentre estes fatores intervenientes e causadores dos sinistros, portanto, o comportamento humano é destacadamente o grande responsável, até mesmo porque como a manutenção é responsabilidade do condutor, as falhas no veículo devem ser vinculadas também ao fator humano”, comentou o diretor científico.

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