Cidades
Programa da UFF oferece atividades para melhoria da qualidade de vida do idoso
Em meio a um contingente populacional no país de quase 208 milhões de pessoas, os idosos somam 30 milhões. Mesmo assim, quase não os vemos. Com seus cabelos brancos, passos lentos e olhares demorados para o horizonte, eles passam muitas vezes despercebidos, desafiando nosso modo de viver, baseado no cultivo de uma juventude eterna e em uma hiperacelaração do tempo. Na contramão dessa tendência, o Projeto de Extensão UFF Espaço Avançado (Uffespa) há vinte e quatro anos vem buscando estimular um protagonismo desses cidadãos no contexto social ao promover processos participativos de reflexão e trocas de experiência. Diariamente circulam nas oficinas e nos projetos oferecidos pelo espaço, localizado no Campus do Gragoatá, entre 30 e 50 idosos, moradores de Niterói e cidades vizinhas. No total, são mais de 160 inscritos. De acordo com a coordenadora do Uffespa, Maria Carmen Alvarenga, “se queremos trabalhar a cidadania, a metodologia tem que ser a da participação e decisão com relação aos projetos. Por cidadania, entendemos a possibilidade de exercitar direitos e deveres socialmente. Aqui os idosos oferecem oficinas, participam delas e decidem em assembleia suas demandas”.
Também frequentadora do espaço, Mara Rúbia, de 61 anos, é entusiasta da oficina teatral. Para ela, esse é um momento na sua rotina – e também na sua vida – em que se dedica a realizar um sonho: “Trabalhei fora desde os catorze anos. Minha vida inteira foi assim. Mas sempre fui louca para fazer teatro. Quando me falaram daqui, vim e adorei. O pessoal é maravilhoso. As ‘menininhas’ são animadas. Faço o que gosto e as apresentações são ótimas! Quem sabe um dia uma emissora grande não me chama?!”.
Além do teatro, o Uffespa oferece outras oficinas, como a de memória cognitiva e social, dança de salão, ioga, Tai chi chuan e psicologia, assim como acesso a consultas e atendimentos com enfermeiros. A coordenadora Maria Carmen explica que o espaço agrega projetos ligados a vários setores da universidade, como enfermagem, psicologia, serviço social, educação física, entre outros. Segundo ela, “cada atividade oferecida possui um projeto por trás”. Além das oficinas, os idosos participam de encontros temáticos, com profissionais de diferentes áreas, nos quais são exibidos filmes, realizadas palestras e rodas de conversa. Maria Carmen destaca que esses espaços de convivência têm como diferencial a troca de saberes a partir do que é produzido na UFF, das suas pesquisas, o que gera um impacto muito grande no usuário. Segundo ela, “eles adoecem menos, a solidão é amenizada. Eles ficam mais informados, passando a debater saúde, política, atualidades”. De uma forma geral, explica a coordenadora, ao participarem das atividades, “eles se abrem para outros temas que não somente o envelhecimento e doenças. O diálogo com a família fica diferente, mais fácil. Há muitos casos de transformação, de melhorias”. Um exemplo é Maria Adelaide Martoran, de 68 anos, que possui uma neuropatia degenerativa. Frequentadora do Uffespa há sete anos, ela conta que recebe muita força e ajuda das pessoas: “aqui me levam até o ônibus, fazem coisas para mim. Teve até uma vez que fizeram minha festa de aniversário e me botaram para dançar”. Marlene Peixoto, de 70 anos, é outro exemplo. Participante de várias oficinas, entre elas a de teatro e memória, Marlene ressalta a importância para a sua vida desse espaço, onde se encontra com muitas pessoas. Segundo ela, “aqui interagimos bastante. Não tem tempo para ter depressão”. Todas essas mudanças, no entanto, têm ocorrido ao longo dos últimos vinte e quatro anos no espaço privilegiado do Uffespa. Para a coordenadora, a contribuição do programa na transformação do envelhecimento em um tema prioritário na agenda pública contrasta com a realidade da política e da sociedade. Segundo ela, “apesar de constatarmos mudanças nesse cenário, o tema do envelhecimento não tem prevalência. As políticas na direção dos idosos têm se resumido a ações que assegurem gratuidade, meia-entrada, atendimento preferencial. Precisamos de uma atenção governamental mais específica”. Além disso, comenta ela, o olhar das pessoas com relação ao idoso ainda é muito preconceituoso: “há uma tendência de vê-lo como chato, rabugento ou como alguém ‘bonzinho’, mas ele sempre foi um ser humano. Talvez agora com algumas características mais acentuadas. Aqui ele é apenas e simplesmente uma pessoa envelhecida”. A empolgação das turmas durante as oficinas não deixa dúvidas. Sem estereótipos e com alegria, eles continuam a decidir sobre suas vidas. Informações e Contatos Avenida Professor Marcos Waldemar de Freitas s/n Campus do Gragoatá, Bloco E - salão térreo segunda a sexta, de 13:30 às 17h Tel.: (21) 2629-2715 Email: [email protected]Perdeu documentos, objetos ou achou e deseja devolver? Clique aqui e participe do grupo do Enfoco no Facebook. Tá tudo lá!