Histórico

'Querem tirar da gente', diz lojista sobre feira de São Cristóvão

Edital foi publicado para entregar espaço à iniciativa privada

Lojistas se reuniram na manhã desta terça (25) no local para defender o espaço
Lojistas se reuniram na manhã desta terça (25) no local para defender o espaço |  Foto: Lucas Alvarenga
  

Feirantes e a comissão administrativa do Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, em São Cristóvão, protestaram, na manhã desta terça-feira (25), contra a privatização do espaço. Na última quinta-feira (20), a Prefeitura do Rio publicou o edital da licitação para realizar a concessão à iniciativa privada. 

Para os comerciantes do local, a iniciativa pegou todos de surpresa. Agora, todos temem o incerto e que a tradicional feira perca a principal essência, a representação do Nordeste. 

Magno Queiroz está no local há mais de 20 anos
Magno Queiroz está no local há mais de 20 anos |  Foto: Lucas Alvarenga
    
Fomos pegos de surpresa quando nos avisaram que a Feira de São Cristóvão seria privatizada até o dia 25 do mês que vem. A gente não estava sabendo, estamos aqui há 80 anos, isso veio de pai para filho, de avô para neto, há 20 anos conseguimos entrar aqui, passamos muito perrengue lá fora. Conseguimos conquistar o direito de estar aqui dentro e querem tirar esse direito da gente Magno Queiroz, lojista
  

Para o comerciante, que faz parte da comissão administrativa, há um pedido de revitalização no espaço por parte de todos os feirantes.

"A gente não quer a privatização, quer a revitalização! Que o poder público e executivo nos ajude a revitalizar. A gente trabalha para não deixar nenhum tipo de problema chegar na prefeitura, porque os problemas aqui são nossos, não dos outros. O que mais queremos é a revitalização. A privatização vai ficar bonito aos olhos de quem tem dinheiro, mas os costumes vão se perder", declarou. 

Marcus Lucenna, ex-gestor do espaço, de 66 anos, contou que a luta pela Feira de São Cristóvão vem de longa data.

Prefeitura publicou na última quinta-feira (20) o edital de licitação da concessão do Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, em São Cristóvão. O vencedor investirá quase R$ 100 milhões em intervenções
  

"Nossa luta aprovou a Lei 2052/93, que fixou a feira em torno de São Cristóvão e depois nos colocou aqui para dentro. Nós achávamos que aqui dentro nunca mais ninguém iria mexer com a gente, mas estão tentando recuperar um projeto antigo de fazer um shopping que eles não conseguiram há 30 anos atrás. Estamos lutando, novamente, para não perder novamente o espaço do nordestino no Rio de Janeiro", salienta.

Investimento privado

A Prefeitura do Rio publicou na última quinta-feira (20) o edital de licitação da concessão do Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, em São Cristóvão. O vencedor investirá quase R$ 100 milhões em intervenções que vão renovar toda a estrutura do imóvel e seu entorno (estacionamento e praça). Ao todo serão 82 mil m² de área revitalizada com investimento privado. 

A empresa será responsável pela gestão da Feira de São Cristóvão por 35 anos com obrigatoriedade de manter o local exclusivamente como centro de tradições nordestinas; dar prioridade à permanência das pessoas que trabalham atualmente no pavilhão; e fazer as intervenções por fases para garantir trabalho para quem vive da feira durante o período de obras que se estenderá por 30 meses. 

A CCPar fez um levantamento ao longo de uma semana com cadastramento dos trabalhadores do local junto à comissão dos feirantes e representantes dos artistas. Em meados de 2022, duas empresas participaram de Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI) para preparar material sobre a concessão. 

Uma delas, o Grupo AM Malls, entregou os estudos de viabilidade que desenvolveu. Após processo de análise o material foi usado como base pelo Município para estruturação da concessão com alterações e sugestões da associação de artistas e da comissão da feira.  A licitação foi marcada para o dia 25 de maio. 

O presidente da Companhia Carioca de Parcerias e Investimentos (CCPar), Gustavo Guerrante, explica que o imóvel precisa de importantes intervenções estruturais e reforça que os trabalhadores do local terão suas atividades de tradições nordestinas mantidas e respeitadas ao longo do processo. 

"É um ponto de encontro querido pelos cariocas e um importante centro de tradições da cultura nordestina no Rio. Hoje a infraestrutura do pavilhão erguido na década de 60 está precisando de grande modernização. Essa concessão trará os investimentos necessários sem dinheiro do tesouro e com as devidas garantias do poder público para a população que tira seu sustento dali", destacou.

Inaugurado em 1962 como centro de convenções, já foi usado como barracão provisório das escolas de samba e desde 2003 o pavilhão homenageia o rei do Baião, Luiz Gonzaga, que dá nome ao Centro de Tradições Nordestinas. O local também é conhecido como Feira de São Cristóvão e virou símbolo da cultura nordestina no Rio com música regional, Forró e ponto de encontro dos amantes do karaokê.

O pavilhão tem 31,7 mil m² de área construída e 29,8 mil m² de estacionamento. Ao todo são cerca de 600 boxes e restaurantes dos quais metade fechou durante o pior momento da pandemia de covid-19. Atualmente cerca de 150 mil pessoas visitam o pavilhão mensalmente. A entrada é paga no valor de R$ 10.

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