Especial Ponte 50 anos

Icônica, Ponte Rio-Niterói faz 50 anos quebrando mitos e avançando

Manutenção periódica, aliada à tecnologia de ponta, é destaque

A Ponte Rio-Niterói celebra 50 anos neste dia 4 de março de 2024
A Ponte Rio-Niterói celebra 50 anos neste dia 4 de março de 2024 |  Foto: Divulgação / Ecoponte

A Ponte Rio-Niterói não flutua, é falso que tenha rachaduras e real que através dela é feita a travessia entre as duas cidades, por onde mais de 150 mil veículos trafegam por dia.

Prova disso é o marco de 50 anos de história e plena manutenção, aliada à tecnologia. O cinquentenário é completado nesta segunda-feira (4). São 13,26km de história.

Pouco lembrada pelo nome original, Presidente Costa e Silva, a mundialmente conhecida 'Ponte Rio-Niterói' é um monumento de ligação entre as cidades do Rio de Janeiro, Niterói e, por consequência, do interior do Estado, Região dos Lagos e o litoral norte fluminense.

A concessionária Ecoponte administra a Ponte Rio-Niterói, desde 2015. E empresa faz parte do Grupo EcoRodovias, uma das maiores companhias de infraestrutura do país.

Segundo a concessionária, com o Mergulhão da Praça Renascença, a Alça de Ligação com a Linha Vermelha e Avenida Portuária, somam-se 28,7 quilômetros de extensão.

A Ponte Rio-Niterói tem uma saúde de perder de vista Carlos Henrique Siqueira, engenheiro civil

Atemporal

A obra começou em janeiro de 1969 e, após quase seis anos, foi inaugurada em 4 de março de 1974
A obra começou em janeiro de 1969 e, após quase seis anos, foi inaugurada em 4 de março de 1974 |  Foto: Divulgação / Memória do Transporte Brasileiro

A obra faraônica é um marco da engenharia no mundo. A construção da Ponte Rio-Niterói começou, efetivamente, em janeiro de 1969 e, após quase seis anos, foi inaugurada em 4 de março de 1974. 

Para além das vias de acesso, engenheiros apontam a área erguida sobre o mar como a parte mais complexa de toda a construção.

Tudo isso por ter envolvido perfuração do subsolo oceânico, ou seja, da Baía de Guanabara, na busca por um terreno rochoso que suportasse a estrutura. E foi achado.

A cada cinco anos, inclusive, as equipes da Ecoponte realizam as inspeções submersas para verificação da saúde estrutural das fundações. A última foi em janeiro de 2024.

"Ela pesa, sozinha, 1 milhão e 400 mil toneladas. Tem 130 metros do alto até a fundação encravada na rocha", revela o engenheiro civil Carlos Henrique Siqueira.

História

O engenheiro civil Carlos Henrique Siqueira
O engenheiro civil Carlos Henrique Siqueira |  Foto: Ezequiel Manhães

Antes de 1974, a população que precisava ir ao Rio era obrigada a viajar cerca de 150km, indo por Magé, na Baixada Fluminense, para dar a volta na Baía de Guanabara, ou colocar o veículo em uma balsa, que demorava.

"[A viagem] durava por volta de 1h30 indo de balsa", lembra o engenheiro civil e doutor em Patologia das Estruturas, Carlos Henrique Siqueira, de 75 anos. Atualmente, o percurso é feito em 13 minutos, com a via em condições normais.

O especialista participou da construção da Ponte. Hoje ele é consultor da concessionária Ecoponte. São 52 anos de cooperação direta.

A ponte representa tudo. Não podemos viver sem ela Carlos Henrique Siqueira, engenheiro civil

Cerca de 10 mil operários levantaram a Ponte Rio-Niterói, diz o supervisor da construção. Ao todo, segundo ele, foram 200 engenheiros envolvidos no projeto made in Brazil e idealizado ainda na época do Império.

Para se ter noção, Dom Pedro II publicou decreto em 4 de março de 1876, sobre a criação de uma obra de grande porte.

Ele chegou a contratar o engenheiro inglês Hamilton Lindsay-Bucknall para realizar estudos sobre a viabilidade, sendo a primeira ideia construir um túnel. Porém, o projeto não foi para frente.

Tudo começou a sair do papel só mais de 90 anos depois, por questões diversas. A Ponte Rio-Niterói teve seu estudo de viabilidade financiado pela Finep.

"As tecnologias usadas aqui ainda são válidas. É o maior símbolo da engenharia brasileira, aqui e lá fora. Não só pela imponência, mas pela manutenção", diz orgulhoso o engenheiro civil Carlos Henrique Siqueira. 

Siqueira apresentou uma evolução histórica de pontes ao redor do mundo, até citar o exemplo da Rio-Niterói.

Estrutura

Construção imponente levou quase seis anos para ficar pronta
Construção imponente levou quase seis anos para ficar pronta |  Foto: Péricles Cutrim

São 453 pilares na estrutura da Ponte Rio-Niterói. Todos feitos de concretos — 103 deles ficam na Baía de Guanabara, segundo a Ecoponte.

Os pilares estão cravados em fundações submersas e as estruturas mais altas estão localizadas no Vão Central e medem aproximadamente 60 metros de altura, o equivalente a um prédio de 20 andares.

"No Vão Central é onde passam as navegações maiores", conta Patrícia Espinosa, coordenadora de Engenharia da Ecoponte.

Mitos e verdades

As juntas de dilatação evitam desgastes nas estruturas de concreto
As juntas de dilatação evitam desgastes nas estruturas de concreto |  Foto: Péricles Cutrim

Rachaduras?

Apesar de tratadas de forma equivocada como 'rachaduras', por leigos, as aberturas vistas na extensão da Ponte Rio-Niterói se tratam de juntas de dilatação. "Essa abertura é propositada em projeto", enfatiza o engenheiro civil Carlos Henrique.

O espaçamento na estrutura da Ponte nada mais é do que juntas adotadas em grandes obras, servindo para acomodar as estruturas de concreto que dilatam com variações de temperatura.

Diferente de fake news, que distorcem as reais funções das aberturas, elas, na verdade contribuem para a segurança da Ponte, já que deixam a construção mais flexível em caso de dilatação devido ao calor.

"Como a estrutura da Ponte é em concreto, é um pavimento rígido, precisa ter essas separações, para que a estrutura trabalhe da forma adequada devido a movimentação dos veículos que passam ali", ensina Patrícia Espinosa, coordenadora de Engenharia.

Sistema ADS, no interior do Vão Central, reduziu em 80% as oscilações da Ponte Rio-Niterói
Sistema ADS, no interior do Vão Central, reduziu em 80% as oscilações da Ponte Rio-Niterói |  Foto: Péricles Cutrim

Oscilação

Antigamente, devido aos ventos fortes, a Ponte Rio-Niterói era frequentemente interditada. Isso por conta dos balanços.

Mas graças ao sistema ADS, Atenuadores Dinâmicos Sincronizados, instalado no interior do Vão Central, houve redução de 90% nas oscilações. 

Com isso, os movimentos verticais da Ponte, que antes chegavam a alcançar até 1,2 metro; o equivalente a 60 centímetros para cima e 60 centímetros para baixo, passaram a movimentar apenas 10 centímetros.

O ADS nada mais é do que 32 caixas de aço que pesam duas toneladas cada, presas a molas em espiral.

"Cada caixa pesa duas toneladas, suspensas por seis molas", diz a engenheira Patrícia Espinosa.

O projeto, elaborado nos anos 2000 foi colocado em prática em 2004. Uma solução totalmente brasileira da Coppe - Coordenação dos Programas de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Segurança

Manutenção da Ponte Rio-Niterói é feita diariamente por diferentes equipes
Manutenção da Ponte Rio-Niterói é feita diariamente por diferentes equipes |  Foto: Péricles Cutrim

O gerente de Engenharia e de Atendimento ao Usuário da Ecoponte, Jean Moraes Rodrigues, revela que não há preocupações com a estrutura da Ponte. Tudo ao contrário disso, é apenas boato.

Há apenas protocolos de segurança viários, como a operação de comboio, que é quando atravessamos [os veículos] numa velocidade que nós controlamos, por questões climáticas, por exemplo. A questão estrutural foi sanada com o projeto da Coppe. Temos uma evolução da monitoração Jean Moraes Rodrigues, gerente de Operações da Ecoponte

Manutenção

A Ecoponte, que administra a Ponte Rio-Niterói desde junho de 2015, mantém processo rotineiro de inspeção e manutenção do trecho.

"Fazemos serviços de recuperação de concreto, soldas na estrutura metálica. A noite, quando o tráfego está mais tranquilo, fazemos a recuperação de pavimento flexível, rígido, revitalização de sinalização, troca de placas, quando há necessidade; pintura do chão, elementos de proteção, as lamelas", explica Patrícia Espinosa, coordenadora de Engenharia.

A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) junto à Polícia Rodoviária Federal (PRF) são agentes fiscalizadores da Ponte Rio-Niterói, que integra a extensão da Rodovia BR-101.

'BBB' da Ponte

Central de Operações da Ponte conta com mais de 50 câmeras e equipe atenta às ocorrências diversas
Central de Operações da Ponte conta com mais de 50 câmeras e equipe atenta às ocorrências diversas |  Foto: Péricles Cutrim

Acessos e o trecho são monitorados por mais de 50 câmeras, a partir de um Centro de Operações. São quatro operadores atuando 24 horas, atentos às ocorrências: seja de acionamento de serviço mecânico; ou socorro médico, para casos de acidentes.

A comunicação direta é feita com as equipes via rádio. Há uma média diária de 80 ocorrências diversas. Em vésperas de feriados, quando o fluxo é maior, há um salto que chega em até 150 chamados, revela a concessionária Ecoponte.

Curiosidades

Não há preocupações com a estrutura da Ponte, garantem engenheiros da concessionária Ecoponte
Não há preocupações com a estrutura da Ponte, garantem engenheiros da concessionária Ecoponte |  Foto: Péricles Cutrim
  • Uma das principais curiosidades, por exemplo, é a participação da Rainha Elizabeth II e do Príncipe Philip, duque de Edimburgo, na cerimônia de inauguração da placa que anunciava o início das obras da Ponte Rio-Niterói, em 9 de novembro de 1968;
  • A via também possui a mais importante estrutura protendida (técnica utilizada para aumentar a resistência do concreto) das Américas, com mais de 2.150 quilômetros de cabos no seu interior;
  • Por conta de seu comprimento, largura e altura dos pilares e das fundações submersas cravadas em rocha, no fundo da Baía de Guanabara, a travessia Presidente Costa e Silva é uma das maiores pontes do mundo em área construída;
  • É a maior do Hemisfério Sul;
  • Tem o maior vão em viga reta contínua do mundo: o Vão Central de 300 metros de comprimento e 72 metros de altura.

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