A Ponte Rio-Niterói não flutua, é falso que tenha rachaduras e real que através dela é feita a travessia entre as duas cidades, por onde mais de 150 mil veículos trafegam por dia.
Prova disso é o marco de 50 anos de história e plena manutenção, aliada à tecnologia. O cinquentenário é completado nesta segunda-feira (4). São 13,26km de história.
Pouco lembrada pelo nome original, Presidente Costa e Silva, a mundialmente conhecida 'Ponte Rio-Niterói' é um monumento de ligação entre as cidades do Rio de Janeiro, Niterói e, por consequência, do interior do Estado, Região dos Lagos e o litoral norte fluminense.
Segundo a concessionária, com o Mergulhão da Praça Renascença, a Alça de Ligação com a Linha Vermelha e Avenida Portuária, somam-se 28,7 quilômetros de extensão.
A Ponte Rio-Niterói tem uma saúde de perder de vista Carlos Henrique Siqueira, engenheiro civil
Atemporal
A obra faraônica é um marco da engenharia no mundo. A construção da Ponte Rio-Niterói começou, efetivamente, em janeiro de 1969 e, após quase seis anos, foi inaugurada em 4 de março de 1974.
Para além das vias de acesso, engenheiros apontam a área erguida sobre o mar como a parte mais complexa de toda a construção.
Tudo isso por ter envolvido perfuração do subsolo oceânico, ou seja, da Baía de Guanabara, na busca por um terreno rochoso que suportasse a estrutura. E foi achado.
A cada cinco anos, inclusive, as equipes da Ecoponte realizam as inspeções submersas para verificação da saúde estrutural das fundações. A última foi em janeiro de 2024.
"Ela pesa, sozinha, 1 milhão e 400 mil toneladas. Tem 130 metros do alto até a fundação encravada na rocha", revela o engenheiro civil Carlos Henrique Siqueira.
História
Antes de 1974, a população que precisava ir ao Rio era obrigada a viajar cerca de 150km, indo por Magé, na Baixada Fluminense, para dar a volta na Baía de Guanabara, ou colocar o veículo em uma balsa, que demorava.
"[A viagem] durava por volta de 1h30 indo de balsa", lembra o engenheiro civil e doutor em Patologia das Estruturas, Carlos Henrique Siqueira, de 75 anos. Atualmente, o percurso é feito em 13 minutos, com a via em condições normais.
O especialista participou da construção da Ponte. Hoje ele é consultor da concessionária Ecoponte. São 52 anos de cooperação direta.
A ponte representa tudo. Não podemos viver sem ela Carlos Henrique Siqueira, engenheiro civil
Cerca de 10 mil operários levantaram a Ponte Rio-Niterói, diz o supervisor da construção. Ao todo, segundo ele, foram 200 engenheiros envolvidos no projeto made in Brazil e idealizado ainda na época do Império.
Para se ter noção, Dom Pedro II publicou decreto em 4 de março de 1876, sobre a criação de uma obra de grande porte.
Ele chegou a contratar o engenheiro inglês Hamilton Lindsay-Bucknall para realizar estudos sobre a viabilidade, sendo a primeira ideia construir um túnel. Porém, o projeto não foi para frente.
Tudo começou a sair do papel só mais de 90 anos depois, por questões diversas. A Ponte Rio-Niterói teve seu estudo de viabilidade financiado pela Finep.
"As tecnologias usadas aqui ainda são válidas. É o maior símbolo da engenharia brasileira, aqui e lá fora. Não só pela imponência, mas pela manutenção", diz orgulhoso o engenheiro civil Carlos Henrique Siqueira.
Siqueira apresentou uma evolução histórica de pontes ao redor do mundo, até citar o exemplo da Rio-Niterói.
Estrutura
São 453 pilares na estrutura da Ponte Rio-Niterói. Todos feitos de concretos — 103 deles ficam na Baía de Guanabara, segundo a Ecoponte.
Os pilares estão cravados em fundações submersas e as estruturas mais altas estão localizadas no Vão Central e medem aproximadamente 60 metros de altura, o equivalente a um prédio de 20 andares.
"No Vão Central é onde passam as navegações maiores", conta Patrícia Espinosa, coordenadora de Engenharia da Ecoponte.
Mitos e verdades
Rachaduras?
Apesar de tratadas de forma equivocada como 'rachaduras', por leigos, as aberturas vistas na extensão da Ponte Rio-Niterói se tratam de juntas de dilatação. "Essa abertura é propositada em projeto", enfatiza o engenheiro civil Carlos Henrique.
O espaçamento na estrutura da Ponte nada mais é do que juntas adotadas em grandes obras, servindo para acomodar as estruturas de concreto que dilatam com variações de temperatura.
"Como a estrutura da Ponte é em concreto, é um pavimento rígido, precisa ter essas separações, para que a estrutura trabalhe da forma adequada devido a movimentação dos veículos que passam ali", ensina Patrícia Espinosa, coordenadora de Engenharia.
Oscilação
Antigamente, devido aos ventos fortes, a Ponte Rio-Niterói era frequentemente interditada. Isso por conta dos balanços.
Mas graças ao sistema ADS, Atenuadores Dinâmicos Sincronizados, instalado no interior do Vão Central, houve redução de 90% nas oscilações.
Com isso, os movimentos verticais da Ponte, que antes chegavam a alcançar até 1,2 metro; o equivalente a 60 centímetros para cima e 60 centímetros para baixo, passaram a movimentar apenas 10 centímetros.
O ADS nada mais é do que 32 caixas de aço que pesam duas toneladas cada, presas a molas em espiral.
"Cada caixa pesa duas toneladas, suspensas por seis molas", diz a engenheira Patrícia Espinosa.
O projeto, elaborado nos anos 2000 foi colocado em prática em 2004. Uma solução totalmente brasileira da Coppe - Coordenação dos Programas de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Segurança
O gerente de Engenharia e de Atendimento ao Usuário da Ecoponte, Jean Moraes Rodrigues, revela que não há preocupações com a estrutura da Ponte. Tudo ao contrário disso, é apenas boato.
Há apenas protocolos de segurança viários, como a operação de comboio, que é quando atravessamos [os veículos] numa velocidade que nós controlamos, por questões climáticas, por exemplo. A questão estrutural foi sanada com o projeto da Coppe. Temos uma evolução da monitoração Jean Moraes Rodrigues, gerente de Operações da Ecoponte
Manutenção
A Ecoponte, que administra a Ponte Rio-Niterói desde junho de 2015, mantém processo rotineiro de inspeção e manutenção do trecho.
"Fazemos serviços de recuperação de concreto, soldas na estrutura metálica. A noite, quando o tráfego está mais tranquilo, fazemos a recuperação de pavimento flexível, rígido, revitalização de sinalização, troca de placas, quando há necessidade; pintura do chão, elementos de proteção, as lamelas", explica Patrícia Espinosa, coordenadora de Engenharia.
A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) junto à Polícia Rodoviária Federal (PRF) são agentes fiscalizadores da Ponte Rio-Niterói, que integra a extensão da Rodovia BR-101.
'BBB' da Ponte
Acessos e o trecho são monitorados por mais de 50 câmeras, a partir de um Centro de Operações. São quatro operadores atuando 24 horas, atentos às ocorrências: seja de acionamento de serviço mecânico; ou socorro médico, para casos de acidentes.
A comunicação direta é feita com as equipes via rádio. Há uma média diária de 80 ocorrências diversas. Em vésperas de feriados, quando o fluxo é maior, há um salto que chega em até 150 chamados, revela a concessionária Ecoponte.
Curiosidades
- Uma das principais curiosidades, por exemplo, é a participação da Rainha Elizabeth II e do Príncipe Philip, duque de Edimburgo, na cerimônia de inauguração da placa que anunciava o início das obras da Ponte Rio-Niterói, em 9 de novembro de 1968;
- A via também possui a mais importante estrutura protendida (técnica utilizada para aumentar a resistência do concreto) das Américas, com mais de 2.150 quilômetros de cabos no seu interior;
- Por conta de seu comprimento, largura e altura dos pilares e das fundações submersas cravadas em rocha, no fundo da Baía de Guanabara, a travessia Presidente Costa e Silva é uma das maiores pontes do mundo em área construída;
- É a maior do Hemisfério Sul;
- Tem o maior vão em viga reta contínua do mundo: o Vão Central de 300 metros de comprimento e 72 metros de altura.