Rotina intensa
Nos bastidores da Ponte Rio–Niterói: ENFOCO mostra como são os resgates
Equipes são acionadas, em média, 110 vezes por dia

Todos os dias, mais de 150 mil veículos cruzam os 13,26 km da Ponte Rio–Niterói. Com esse fluxo constante, vem também uma certeza: em algum momento do dia, haverá uma ocorrência. São em média, 110 acionamentos diários. No ano passado, foram 42.659 acidentes.
Pane seca, colisão, engavetamento, um atendimento médico. São situações que, quando acontecem, precisam da engrenagem bem treinada em ação. As equipes atuam em até 10 minutos após os acionamentos.
Neste Abril Verde — mês dedicado à segurança e à saúde no trabalho — o foco se volta para esses profissionais que enfrentam o asfalto quente, os ventos da Baía de Guanabara e o caos do tráfego, para garantir que tudo siga fluindo. O ENFOCO acompanhou um dia de trabalho das equipes.
"A rotina é bem atípica", resume Alehandro Silva, coordenador de operações
“Por se tratar de uma ponte, com poucos pontos de recuo, o trabalho exige rapidez, precisão e muito preparo técnico", continua dizendo o coordenador de operações, Alehandro Silva.
A administração do fluxo em uma das maiores pontes sobre o mar do Brasil se divide entre o Centro de Controle Operacional (CCO) e a pista.
Por trás de cada ocorrência, há uma estrutura que funciona 24 horas por dia, com monitoramento por mais de 50 câmeras e recursos operacionais posicionados estrategicamente.
Operações em tempo real

No Centro de Controle Operacional (CCO), onde Vinicius Magalhães lidera o monitoramento do tráfego, a comunicação é constante com toda a equipe em campo, composta, nos turnos da manhã, por três operadores e um auxiliar. À frente das telas, cada um tem bem esclarecida a sua função.
‘’Um fica responsável por toda a logística — as viaturas, atendimentos médicos e mecânicos. O outro operador fica responsável mais pela parte burocrática, o contato com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e com as prefeituras, caso aconteça alguma interdição. E o terceiro operador faz exatamente o suporte dessa questão de logística e a parte burocrática’’, conta.

Pane seca em alta
Segundo Magalhães, na parte da manhã, a pane seca — carros que param por falta de combustível — lidera os acionamentos. À noite, com menor fluxo, o número de ocorrências cai, mas a vigilância segue ininterrupta. De acordo com dados da concessionária, são em média, 110 acionamentos diários.
O monitoramento no Centro de Controle também leva em conta os fatores climáticos. Em dias em que o vento ultrapassa a velocidade que suporta o tráfego na Ponte, interdições acabam sendo recomendadas.
Quando há qualquer tipo de emergência, o primeiro contato pode vir por WhatsApp — o mesmo número do 0800 77 76683 e 0800 77 76684 (para deficientes auditivos) —, e o atendimento começa antes mesmo do motorista perceber: muitas vezes, o monitoramento já flagrou o problema.
Após contato com o Centro de Controle Operacional, os colaboradores têm um tempo de 10 minutos para ir até a localidade em que houve o chamado, seja ela na Reta do Cais, em Niterói, ou nos acessos para a Avenida Brasil, no Rio.
Como funcionam os resgates?

Em casos de ocorrências com acidentes, há, em todos os recuos da Ponte, ambulâncias com equipes de resgate compostas por médicos, enfermeiros e socorristas. No momento do acionamento, o veículo que estiver mais próximo do ponto onde a ocorrência foi gerada é selecionado para o atendimento. Quando o tempo de atendimento é extrapolado, o excedente deve ser justificado, serviço realizado pela equipe de administração da Ecovias.
O período existe e tem que ser cumprido, mas sofre influência de trânsito, de tempo. Tem a velocidade que a gente não pode exceder, tem que dirigir de forma segura. Não vamos também sair por aí para atender um acidente e acabar causando outro

Após o atendimento e regulação médica, as vítimas são direcionadas às unidades de saúde, escolhidas com base na gravidade dos ferimentos das vítimas, explica o coordenador de tráfego Alejandro Silva.
‘’Se ele precisar do atendimento médico e ser encaminhado para o hospital, ele é levado para o hospital de referência, mas isso tudo é através de uma regulação médica. O médico que está na ambulância é que vai direcionar. Se está no sentido do Rio, ele pode levar para o hospital do Rio de referência. Normalmente, são unidades de trauma’’, diz o especialista.

O que fazer em casos de pane?
Já em casos de suporte após panes, Alejandro Silva explica que há dois tipos, a pane elétrica e a pane seca — e o comportamento do motorista deve ser rápido e seguro em ambos os casos:
1. Identifique o problema:
- Se o veículo perde força, mas os sistemas elétricos (rádio, painel) continuam funcionando, provavelmente é pane seca.
- Se tudo desliga de repente, sem resposta ao girar a chave, pode ser pane elétrica.
2. Encoste com segurança:
- Se ainda for possível, leve o carro para a baia de recuo ou para o canto direito da via. Acione o pisca-alerta.
3. Não tente resolver sozinho:
- Evite sair do veículo para empurrar ou verificar o motor. Na ponte, o risco é elevado.
4. Acione a concessionária:
- Use o WhatsApp (mesmo número do 0800 77 76683 e 0800 77 76684 para deficientes auditivos), que conta com chatbot e atendimento humano 24h. O CCO já estará de olho. Em muitos casos, a viatura será enviada antes mesmo do pedido formal.

Nesses casos, o tempo de atendimento também é de 10 minutos. O operador que atua nessa função conduz um guincho pesado ou leve, que vai variar de acordo com o peso do veículo que será guinchado. Ainda neste ano, inclusive, a frota de guinchos será substituída por modelos elétricos, o que diminui os ruídos para os condutores e reduz a emissão de gases de carbono (CO2).
Mulher no comando
Carolina Rangel Silva de Castro é uma das motoristas de guincho da ponte — e uma das poucas mulheres na função. Ela começou como atendente de fila na praça de pedágio; depois, nas cabines, viu outras mulheres atuando na remoção e decidiu: queria fazer parte daquilo.
Tirei minha carteira D e vim para cá. Vou fazer três anos com o guincho. É totalmente diferente. O usuário da cabine é totalmente diferente do usuário do atendimento que a gente presta na pista. O carro quebrou, ele tá ali querendo apoio, ele quer ajuda. Lá na cabine, não. Eles querem pressa, eles querem ser atendidos o mais rápido possível
A recepção, ela diz, é quase sempre positiva — inclusive de outras mulheres, que se impressionam ao vê-la no volante do caminhão. “Nunca passei por preconceito. Às vezes, o usuário está abalado com um acidente, e eu estou ali para ajudar, acalmar. A gente veste o uniforme e deixa os problemas do lado de fora.”
Do treinamento à resposta
Todo colaborador que entra para a operação passa por uma jornada de treinamento exigente, que pode durar de 3 a 4 meses. “É teórico, prático e acompanhado dia a dia”, explica o coordenador de tráfego Alejandro Silva. Em 2024, a concessionária lançou o programa Segurança Sempre, que fortalece a cultura de proteção aos colaboradores.

“O programa Segurança Sempre veio para realmente estabelecer e fortalecer essa cultura de segurança entre os colaboradores — de forma que ele pense antes da atividade que está fazendo: se está usando o EPI adequado, se a via está sinalizada — de forma que evite o acidente com ele. Então, são realizados diversos diálogos de segurança diários para que o colaborador tenha essa reflexão, para que venha trabalhar e retorne para sua família”, completa.
Esse preparo é fundamental, especialmente em situações delicadas. Renan Salles, socorrista de 28 anos, explica que o trabalho começa bem antes de entrar na ambulância.
“Nosso dia começa antes do trabalho. Depois de conferir uniforme e EPIs, verificamos insumos, medicamentos, ventilação. Tem que estar tudo pronto.”

Paz no tumulto
O programa também promove a valorização da saúde mental, um fator crucial para que os operadores estejam aptos para fornecer atendimento ao próximo. Para Sebastião Morazzi, operador da equipe de resgate, o equilíbrio emocional é essencial na hora de atender acidentes:
“A gente deve estar bem fisicamente, mas também bem psicologicamente para tentar resolver, né? Levar da melhor forma possível um ambiente de paz no tumulto. Quando a gente chega num acidente, as vítimas já estão muito nervosas — uma porque perdeu bem material, outra porque tá com a saúde no momento comprometida —, e a gente tem que levar um equilíbrio. Nosso principal objetivo é esse'', finaliza.


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