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    Fiscalização

    Rock in Rio tinha trabalhadores em situação análoga à escravidão, diz MPT

    Diárias de trabalho variavam entre R$ 90 e R$ 150

    Publicado 18/12/2024 às 13:19 | Autor: Tiago Souza
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    Funcionário deitado no chão
    Funcionário deitado no chão |  Foto: Lucas Alvarenga

    Uma fiscalização realizada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) resgatou 14 trabalhadores em condições análogas à escravidão durante a edição 2024 do Rock in Rio. O flagrante ocorreu na madrugada do dia 22 de novembro, último dia do evento, e revelou situações de extrema precariedade enfrentadas pelos funcionários. Segundo o MPT, os funcionários estavam diretamente ligados à empresa Força Bruta Backstage.

    Os trabalhadores foram encontrados dormindo no chão, em papelões e lonas, sem acesso a condições básicas de higiene. Segundo Raul Capparelli, auditor-fiscal do trabalho, alguns funcionários chegaram a levar roupas de cama e malas, conscientes de que passariam dias no local.

    "Havia 14 trabalhadores dormindo de forma precária. Não havia chuveiro e o banheiro estava muito sujo, com papelões espalhados. Eles precisavam tomar banho em um vestiário no andar de baixo", relatou.

    Coletiva de imprensa realiada pelo MPT
    Coletiva de imprensa realiada pelo MPT |  Foto: Lucas Alvarenga

    A investigação apurou que os trabalhadores eram obrigados a carregar objetos pesados em jornadas superiores a 20 horas, com a promessa de receber diárias entre R$ 90 e R$ 150. Conforme a denúncia, o cansaço extremo era evidente, e alguns estavam tão exaustos que não conseguiram acordar para prestar depoimentos aos auditores no momento da fiscalização.

    Para Alexandre Lyra, outro auditor envolvido na operação, as condições enfrentadas pelos trabalhadores são inaceitáveis.

    “É nosso dever atuar e respeitar a dignidade do trabalhador. Determinamos o afastamento imediato desses 14 funcionários e iniciamos a coleta de depoimentos", afirmou.

    Esta foi a terceira edição consecutiva do evento a passar por fiscalização do MPT, mas, pela primeira vez, a Rock World, organizadora oficial do festival, foi diretamente associada às irregularidades. Além das condições de trabalho degradantes, a auditoria encontrou diversas fraudes trabalhistas, comprometendo a saúde, segurança e integridade física dos trabalhadores.

    O auditor Thiago Gurjão destacou que o caso será encaminhado para análise de certificação da empresa organizadora.

    "Encaminharemos as informações para a certificadora responsável avaliar se a Rock World continuará sendo reconhecida como uma empresa de eventos sustentáveis. A sustentabilidade não é apenas ambiental, mas também inclui respeito aos direitos fundamentais, como a proibição de trabalho forçado ou análogo à escravidão em toda a cadeia de valor", explicou.

    O que diz a Rock World?

    Por meio de nota, a Rock World declarou "enorme estranhamento à divulgação do Ministério Público de fatos tão graves que sequer foram julgados".

    Segundo a empresa, "tais acusações ainda precisam ser esclarecidas para que, dessa forma, medidas cabíveis possam ser tomadas".

    A Rock World diz que repudia qualquer forma de trabalho que não siga as regras de respeito ao trabalhador. Destaca também o compromisso em instruir todas as empresas terceirizadas e fornecedores a realizarem os processos de contratação dentro da legislação brasileira.

    Por fim, informa que atua de forma transparente e que integrantes do Ministério Público do Trabalho acompanharam todas as etapas de contratação.

    "Ao longo de 24 edições, 300 mil empregos diretos e indiretos foram criados e milhares de pessoas fora das Cidades do Rock foram beneficiadas por meio dos projetos sociais que o festival apoia, reafirmando os valores de pluralidade, comunidade, sustentabilidade e seu compromisso com a construção de um mundo melhor para todos", enfatizou.

    Apenas na última edição do Rock in Rio de 2024, conforme a Rock World, foram gerados mais de 32 mil postos de trabalho.

    "Tais contratações foram distribuídas por 160 projetos de marcas e mais de 320 projetos de fornecedores, todos realizados e apresentados em mais de 30 mil documentos apresentados e analisados pelos órgãos competentes", finalizou.

    O que diz a Força Bruta Backstage

    O ENFOCO também tentou contato com a empresa Força Bruta Backstage, mas até a publicação desta matéria, não havia retorno.

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