Representatividade
Roupa usada por Anielle Franco em posse é do Mercadão de Madureira
Estilista carioca produz roupas com tecidos africanos
Anielle Franco tomou posse como ministra da Igualdade Racial no dia 11 de janeiro. A escolha da roupa usada pela ministra foi um dos assuntos em alta do evento. A peça, feita sob medida, foi produzida pela loja Ayadjè, que fica no Mercadão de Madureira, na Zona Norte do Rio.
Foi das mãos da estilista Fernanda Carvalho, de 30 anos, que a obra ganhou vida. Junto do namorado, Eric loko, ela comanda os negócios do pequeno estabelecimento que trabalha com roupas que misturam ancestralidade e estilo. Ao ENFOCO, a empresária contou que depois da Anielle, as vendas na loja alavancaram.
"Uma situação que nem estamos acreditando, foi super rápido, está sendo um estouro. Uma representatividade que eu estava precisando para a minha marca", comentou empolgada.
Cada detalhe da roupa foi idealizado pela Thay Alves, Branding Pessoal da ministra. Nas redes sociais, ela publicou um relato da escolha.
"Tínhamos pouquíssimo tempo, estávamos em estados diferentes. Eu sabia que seria um baita desafio fazer tudo dar certo. Pensei, pensei e decidi: vai ter estampa, sim! E vai ser estampa/tecido africano. Não poderia ser diferente. Encontrei a Fernanda, um anjo em nossa vida, que aceitou o desafio de fazer do zero, em 3 dias, este kimono. TUDO COMUNICA. Mas a imagem comunica ANTES. Branding Pessoal não é styling, não é produção de moda, não é maquiagem. É conectar essas, e tantas outras ferramentas para alcançar o resultado de comunicação planejada anteriormente", escreveu.
Fernanda contou que, por uma simbologia além de cargos, a Anielle traz consigo uma história de resiliência e poder. Ela lembra que o dia em que Marielle Franco, irmã da ministra e vereadora do Rio, foi assassinada nunca será esquecido.
"No dia em que eu me formei foi o assassinato dela. Eu me formei em moda, foi no dia da minha formatura, nossa, nem sei como explicar, foi marcante. A Anielle em si é uma representatividade", relembrou.
A marca surgiu em 2017, quando Fernanda conheceu o Eric, que veio de Benin e importava tecidos africanos para o Brasil. Juntos, os dois decidiram montar um negócio. Todas as peças do estabelecimento são produzidas com tecidos vindos de diferentes regiões da África.
"Assim que me formei eu conheci ele, que já vendia os tecidos. Numa simples conversa eu falei: Poxa, a gente poderia marcar e fazer uma marca, juntar o tecido e a criação. A primeira loja foi em Bangu e a segunda aqui em Madureira", explicou.
Um detalhe curioso é que o maxikimono usado pela ministra na posse de Lula, no dia 1° de janeiro, é exclusivo. O tecido que deu origem à peça veio diretamente de Gana e, por lá, é popularmente conhecido por vestir reis e rainhas.
A empresária escolheu manter os preços das roupas de forma acessível, para que todos possam comprar as produções. O valor do kimono usado na posse presidencial custou R$ 350. Já o conjunto de três peças no grande dia da ministra, foi R$ 980.
Para Fernanda, saber que uma roupa toda elaborada por ela, saindo de um dos pontos mais populares da Zona Norte do Rio, e indo parar em Brasília, vai além de só vendas e comércio.
No começo foi uma emoção, não estava nem acreditando, fiquei: 'Meu Deus, será que isso é verdade?'. Caramba, eu vesti uma mulher negra, no poder, que está representando o Brasil, com essa história que ela tem, da família dela, foi muito importante. Foi tipo um anjo na nossa vida
Agora, na loja, a única coisa que prevalece todos os dias é, como o próprio nome já diz, 'ayadjé', que traduzido do Fongbe, um dos mais de 50 dialetos de Benin, significa felicidade.
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