Mobilidade Urbana
Acidentes expõem falhas na distribuição de passarelas da BR-101
Três atropelamentos recentes com mortes acenderam o alerta

Os três atropelamentos com mortes nos últimos meses atentam para um questionamento na BR-101 (Niterói-Manilha), principalmente entre São Gonçalo e Itaboraí, na Região Metropolitana do Rio: o número de passarelas é suficiente? A distância entre elas é adequada? Especialistas esclarecem a distância ideal e os perigos enfrentados por motoristas e pedestres.
Em toda a extensão da Niterói-Manilha, a distância média entre as 23 passarelas, do Barreto, em Niterói, até Manilha, em Itaboraí, é de mais de um quilômetro. Em alguns trechos, a situação é ainda mais grave com cerca de um quilômetro e meio até dois quilômetros de distanciamento.
Professor de Sustentabilidade, Mobilidade e Logística da da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Márcio D'Agosto afirma que a distância aceitável é de 300 a 500 metros a um quilômetro de distância no máximo.
Podemos considerar como confortável para caminhadas de pedestres em rodovias com adensamento populacional a distância de 500 metros a um quilômetro como fazemos nos transportes urbanos, ou seja, distâncias entre estações de trem e metrô.
Critérios técnicos

O professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Escola Politécnica da UFRJ, Victor Hugo Abreu, não só confirma as distâncias ideais entre passarelas em rodovias cortadas por áreas urbanas descritas pelo colega D'Agosto como detalha os critérios técnicos.
"A definição se baseia em critérios técnicos de Engenharia de Tráfego e Segurança Viária. Não há uma única norma nacional que defina uma distância fixa e obrigatória, mas há diretrizes técnicas e práticas recomendadas que consideram fatores locais. De modo geral, os estudos e manuais técnicos, como os utilizados pelo DNIT, DERs estaduais e outras entidades", explicou o especialista.
Ainda de acordo com o professor, os principais critérios usados em Engenharia de Tráfego para definir localização e necessidade de passarelas incluem:
- Volume de travessias de pedestres (fluxo diário significativo);
- Índice de acidentes envolvendo pedestres no local;
- Proximidade de polos geradores de tráfego de pedestres, como escolas, pontos de ônibus, comunidades, etc;
- Velocidade regulamentada da via, entre outras.
A decisão pela instalação de passarelas envolve uma análise multidisciplinar, que busca equilibrar segurança, conforto do usuário e racionalidade no uso de recursos públicos.
O risco ou longas distâncias até as passarelas
Quem faz uso das passarelas reclama das distâncias, resultando em lonbas caminhadas e atrasos nos compromissos.

"As passarelas são muito distantes uma para outra, assim como os pontos de ônibus. As pessoas têm que andar bastante para chegar em casa", reclama o aposentado João de Abreu, de 73 anos, na altura de São Gonçalo.
Em Itaboraí, a comerciária Jessica Oliveira, de 32 anos, também precisa fazer uma longa caminhada para alcançar uma passarela.
"Quem atravessa, se arrisca ou tem que andar um longo pedaço para chegar a uma passarela, como é meu caso. Poderia ter mais uma nesse meio que estou caminhando", desabafa.
Procurada, a Arteris Fluminense, concessionária que administra a BR-101, justifica que o espaçamento entre as passarelas está dentro dos parâmetros previstos no contrato de concessão vigente. A concessionária garante que são 24, diferente das 23 constatadas no trecho.
A concessionária esclareceu ainda que a instalação de novas passarelas 'depende da conclusão do processo de repactuação contratual, atualmente em fase final, já aprovado pelo Tribunal de Contas da União (TCU)'.
Mais passarelas
A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) informou que o trecho está, atualmente, em processo de otimização de contrato, e o projeto prevê a implantação de quatro novas passarelas, cuja localização será definida posteriormente, durante o trâmite do projeto, e poderá contemplar o trecho.
A agência informou ainda que 'a implantação das passarelas, e a distância entre elas, é definida com base em estudos técnicos e normas aplicáveis, considerando fatores como demanda de travessia, características geométricas, segurança viária e viabilidade de implantação. No caso da Fluminense, a localização e o espaçamento previstos estão sendo tratados no âmbito da fase de otimização'.

Estrada veio depois dos bairros
Com o objetivo de desafogar o trânsito na rodovia RJ-104, o trecho Niterói-Manilha da BR-101 foi inaugurado em 1984, quando os bairros que margeiam a rodovia já eram bastante povoados, principalmente em São Gonçalo.
Três mortes em 10 dias
No dia 7 de julho, um idoso de 66 anos morreu atropelado na BR-101, altura do km 300, próximo à Manilha, sentido Espírito Santo. Dois dias antes, um menino, de apenas 10 anos, já tinha sido atropelado quase no mesmo trecho.
O primeiro caso envolveu um homem de 42 anos, na altura do Km 309, também em São Gonçalo, na pista sentido Espírito Santo.


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