Inspiração
Elas são da 'Parada'! Mulheres de SG dão exemplo de empoderamento
Coletivo realiza uma série de iniciativas transformadoras

No Dia Internacional da Mulher, celebrado neste sábado (8), o coletivo Mulheres da Parada, de São Gonçalo, é um exemplo de empoderamento e solidariedade entre o público feminino nas periferias. O projeto realiza uma série de iniciativas transformadoras, como a distribuição de alimentos, incentivo ao empreendedorismo, a promoção da preservação ambiental, a oferta de cursos gratuitos de capacitação profissional e o cultivo de hortas comunitárias e caseiras.
Criado em março de 2020, o coletivo surgiu em resposta às dificuldades sociais e econômicas intensificadas pela pandemia da covid-19. Inicialmente, o grupo distribuiu cestas básicas para famílias em situação de extrema vulnerabilidade na comunidade Parada São Jorge, no bairro Sacramento.
Percebendo a dificuldade das pessoas e o desejo de ajudar a comunidade de alguma forma, a idealizadora do projeto, Letícia Dahora, esposa do ator Leandro Firmino, o Zé Pequeno do filme "Cidade de Deus", decidiu agir. Ela mobilizou familiares e amigos para arrecadar alimentos e, com a ajuda, começou a montar cestas básicas e as distribuir entre as pessoas em situação de vulnerabilidade.
"O número de pessoas em situação de vulnerabilidade era muito grande e, com o tempo, começamos a arrecadar cada vez mais alimentos. Chegamos a atender cerca de 300 famílias por mês com a ação de distribuição de alimentos" , explicou Letícia.

Mercadinho Solidário
Vendo a crescente demanda do projeto, surgiu a ideia do 'Mercadinho Solidário', no qual as pessoas que precisavam iam até o projeto, escolhiam o que estava em falta em suas residências e a quantidade de alimentos era determinada de acordo com o número de pessoas na família.
Moradores da comunidade ajudavam doando alimentos, que eram encaminhados para o mercadinho, que também arrecadava kits de higiene. O projeto continua sendo um sucesso até hoje, e a arrecadação de alimentos conta com contribuições de organizações sem fins lucrativos e entidades públicas.
As mulheres são atendidas mensalmente e têm a oportunidade de levar para casa itens como leite, feijão, arroz e outros produtos essenciais de uma cesta básica, além de absorventes, sabonetes, água sanitária e sabão em pó.
"No momento, apoiamos primeiro nossas aulas do curso. Quando conseguimos doadores suficientes, atendemos também o território ao redor do projeto. Dependendo da quantidade de pessoas na família, elas têm direito a 15 a 20 itens da cesta básica e podem escolher o que irão levar", explica a coordenadora do coletivo, Joyce Gravano.
Ela acrescenta que esse modelo proporciona autonomia às mulheres, permitindo que elas escolham os produtos que realmente precisam, sem que alguém decida por elas o que será doado. Além disso, o projeto conta com a entrega de quentinhas para almoço toda segunda-feira.
'Donas da Parada' e 'Donas da Agro'
Letícia, percebendo que o perfil das mulheres que mais recebiam as doações de alimentos era composto por mulheres que ficaram desempregadas devido à covid-19, muitas delas trabalhavam como diaristas e, em sua maioria, eram mulheres negras, mães com crianças pequenas, sem formação profissional e com baixa escolaridade, percebeu a necessidade de as mulheres aprenderem novas profissões que as possibilitassem garantir o próprio sustento.
Com isso, decidiu desenvolver projetos que abordassem a formação profissional e ações de sustentabilidade ambiental. Assim, nasceram tanto o "Donas da Parada", um projeto voltado para a qualificação profissional das mulheres, quanto o "Donas da Agro".
Pensamos no projeto 'Donas da Parada', que busca a qualificação profissional dessas mulheres. Por exemplo, com um curso de seis a 10 meses, conseguimos que essas mulheres se formem e conquistem uma profissão. Além disso, 60% das alunas já saem do curso gerando renda, conseguindo um retorno financeiro muito rápido. Já o 'Donas da Agro', que trabalha com sustentabilidade ambiental, também formou o 'Cheiro da Terra', que produz cosméticos naturais.
O projeto começou focado nos cursos, principalmente na área de beleza, que inicialmente foram os mais procurados. Hoje, oferece cursos de artesanato, cosméticos naturais, tranças, confeitaria e qualificação para instalação de energia solar, todos gratuitos. Esses cursos atendem mulheres de comunidades não só de São Gonçalo, mas também de Niterói e Itaboraí.
Os cursos incluem 100% dos materiais necessários e, dependendo do financiamento recebido, é fornecido o valor para o transporte público e apoio financeiro para que essas mulheres possam investir em seus próprios empreendimentos após a conclusão dos cursos.
Mulheres que levantam outras mulheres
O curso de Tranças não foca apenas no aprendizado dos penteados, mas também na importância e valorização do empreendedorismo, geração de renda e celebração de sua cultura, como o cabelo crespo, o cuidado e o acolhimento. O projeto também trabalha nas áreas de autocuidado, autoconhecimento, letramento racial crítico e história do povo preto.
O curso abriu nossos olhos. Tivemos uma mentoria de letramento racial, e muitas pessoas não têm noção de onde vêm, quais são suas origens, e da importância do nosso cabelo crespo. Aprendemos até como cuidar do nosso cabelo crespo.
"Quando trabalhamos essa valorização, essas mulheres começam a se enxergar, começam a se reconhecer como cidadãs, como sujeitas de direitos, também como empreendedoras e como mulheres bonitas, com cabelos bonitos, que conseguem tudo. Aqui é lugar de acolhimento, de apoio uma à outra e de força para a outra " , explica Letícia.
Além de trabalharem pela integralidade da mulher, o coletivo conta com profissionais da área de psicologia e assistência social para realizar o atendimento às mulheres que precisam de ajuda com saúde mental e empoderamento, visando impactar outras mulheres. O grupo também aborda temas como violência doméstica.
A ex-aluna do curso Agrofloresta, Juciléia Augustinho, entrou no projeto em 2024 com quadro depressivo após perder seu esposo e seu irmão. "Eu não tinha nada para fazer e comecei a participar do curso. Também comecei a receber os alimentos do Mercadinho Solidário e tive apoio ", relata ela.
Juciléia conta que sua vida mudou após a realização do curso e passou a influenciar outras mulheres a realizarem cursos e conhecerem o projeto.
Já para a aluna Marinês Francisca, ao entrar no curso, ela obteve uma visão diferente sobre diversos assuntos dos quais não tinha muito conhecimento e aprendeu no curso Agrofloresta. "Você entra uma pessoa e sai outra, com uma visão diferente, até fazendo a diferença para o planeta. A nossa ideia é levar isso para outras mulheres".
Após terminar o curso, uma das professoras teve a ideia de criar uma cooperativa chamada "Cheiro da Terra", que é uma extensão da realização com a própria plantação da agrofloresta. Elas produzem extratos e criam produtos naturais, como sabonetes, líquidos em barra e pomadas. O projeto é totalmente focado na sustentabilidade. Juciléia e Marinês abraçam a ideia e hoje fazem parte dessa extensão do projeto.
Elas contam também que muitas mulheres chegam ao local com a visão de que não conseguem ou não podem, mas, com o apoio e acolhimento durante as aulas, saem transformadas. Quando possuem uma rede de apoio, onde podem contar suas frustrações, seus medos, tudo fica mais fácil.
Origem do Dia Internacional da Mulher
Celebrado todo dia 8 de março, o dia vai além de uma simples data comemorativa: é um marco da longa trajetória das mulheres na busca por direitos, igualdade e respeito. A data tem suas origens nos movimentos trabalhistas e feministas dos séculos XIX e XX, quando as mulheres começaram a se organizar para exigir melhores condições de trabalho, direito ao voto e igualdade de oportunidades.
Embora muitas vitórias tenham sido conquistadas ao longo dos anos, a luta por igualdade de gênero continua sendo um desafio global. As mulheres ainda enfrentam diferenças salariais, obstáculos no mercado de trabalho, pouca representação em cargos de liderança e altos índices de violência de gênero.
Neste Dia Internacional da Mulher, o Mulheres da Parada reforça que a verdadeira celebração está na construção de um futuro mais igualitário e na valorização do protagonismo feminino em todas as esferas da sociedade.
"Juntas podemos muito mais. Precisamos apoiar uma às outras, levantar uma às outras. Assim como as mulheres se reuniam em 1900 para reivindicar direitos, a gente continua na luta. A gente não pode parar. Precisamos nos unir e continuar marchando." finaliza Letícia.


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