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    Sem atendimentos

    Fantasma e esqueleto 'assustam' a saúde de São Gonçalo e Niterói

    Obra inacabada e ambulatório abandonado são descaso do Estado

    Publicado 23/08/2025 às 7:08 | Autor: Dayse Alvarenga
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    O que seria uma maternidade, é um 'esqueleto ' de prédio às margens da RJ=104, no Colubandê
    O que seria uma maternidade, é um 'esqueleto ' de prédio às margens da RJ=104, no Colubandê |  Foto: Gabriel Rechenioti

    O que há de comum entre a obra inacabada do Hospital da Mulher, em São Gonçalo, e o Ambulatório do Iaserj abandonado, em Niterói? A resposta é a falta de investimento do Estado durante sucessivos governos para colocar em pleno funcionamento as unidades públicas de saúde que poderiam estar atendendo a milhares de usuários. Essa é a denúncia feita por representantes do Sindicato dos Servidores da Previdência Social (Sindsprev RJ). 

    De acordo com o Movimento de Mulheres de São Gonçalo (MMSG), foram inúmeros os atos públicos realizados para cobrar a retomada das obras do hospital na cidade, iniciadas há mais de 10 anos, segundo a própria entidade. Já o Ambulatório do Iaserj está subutilizado como um imenso prédio "fantasma" de mais de quatro andares também há mais de 10 anos, segundo o  Sindsprev RJ. 

    No lugar do que seria uma maternidade às margens da RJ-104, ao lado da UPA do Colubandê, há um “esqueleto” de um prédio com apenas vigas levantadas, além do mato e lixo no entorno e até o que parecem ser usuários de drogas morando no local.

    • Fantasma e esqueleto 'assustam' a saúde de São Gonçalo e Niterói
      | Foto: Gabriel Rechenioti
    • Fantasma e esqueleto 'assustam' a saúde de São Gonçalo e Niterói
      | Foto: Gabriel Rechenioti
    • Fantasma e esqueleto 'assustam' a saúde de São Gonçalo e Niterói
      | Foto: Gabriel Rechenioti
    • Fantasma e esqueleto 'assustam' a saúde de São Gonçalo e Niterói
      | Foto: Gabriel Rechenioti
    Aspas da citação
    Desde agosto de 2012, quando começaram as rodas de conversa com gestantes e puérperas no MMSG, iniciamos uma mobilização pela redução das mortes maternas e neonatais e violência obstétrica. Logo após, houve o início das obras da Maternidade Estadual da Mãe para atender os sete municípios da Metropolitana 2. Desde quando foram paralisadas as obras, temos feito atos públicos e chamado atenção através da mídia aguardando respostas.
    Rita Costa, enfermeira diretora do Movimento de Mulheres de SG e professora da Fiocruz
    Aspas da citação

    Para moradoras de São Gonçalo, é fundamental a conclusão das obras para evitar que muitas delas sejam obrigadas a buscar outros municípios para ter seus bebês. Caso da assistente administrativa Ana Paula Vieira, de 42 anos, que deu à luz há três anos no Hospital Estadual Azevedo Lima (Heal), na vizinha Niterói.

    “A conclusão do Hospital da Mãe de São Gonçalo é fundamental para aprimorar o acesso aos serviços de saúde materno-infantil, contribuindo para a diminuição da mortalidade e assegurando atendimento especializado à população da região”, declarou Ana Paula, que detalhou ainda as dificuldades da gestação:

    “Encontrei muitas dificuldades no atendimento de emergência, pois minha gestação era de alto risco por conta de três miomas, o que contribuiu para o quadro de hipertensão e diabetes gestacional”, acrescentou.

    A assistente administrativa também revelou que, em alguns momentos, lidou até com dificuldades financeiras para se dirigir ao hospital de Niterói, pois não era sempre que tinha condições de custear a passagem de ônibus ou o carro de aplicativo, quando necessário.

    Aspas da citação
    Tive vários episódios de sangramento e, algumas vezes, não fui atendida por ser moradora de São Gonçalo. A retomada da obra do Hospital da Mãe, em São Gonçalo, vai evitar que outras mulheres passem pelos mesmos obstáculos que eu vivenciei.
    Ana Paula Vieira moradora de São Gonçalo
    Aspas da citação

    Sem previsão de retomada e conclusão da obra 

    A Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou que a Maternidade de São Gonçalo e Clínica da Mãe (inicialmente chamada de Hospital da Mulher) tem previsão de repasse de R$ 1,4 milhão da própria Secretaria para adequação do projeto inicial, a cargo da Empresa de Obras Públicas do Estado (Emop)". A Emop, por sua vez, diz que aguarda previsão orçamentária da Secretaria de Estado de Saúde para readequação do imóvel para a construção da maternidade". 

    Os órgãos não informaram, no entanto, outras informações importantes, como: quanto já foi gasto dos cofres públicos com parte da estrutura erguida, quando a obra começou, foi paralisada e uma previsão de retomada e conclusão assim como se houve uma avaliação da estrutura e está comprometida ou não e a capacidade de atendimento (número de leitos, centros cirúrgicos e outros setores). 

    Prédio do Iaserj abandonado em Niterói 

    O ambulatório do Iaserj funciona na Rua Heitor Carrilho, no centro de Niterói
    O ambulatório do Iaserj funciona na Rua Heitor Carrilho, no centro de Niterói |  Foto: Lucas Alvarenga

    No prédio de mais quatro andares do Iaserj, na Rua Heitor Carrilho, no Centro de Niterói, que atendida aos servidores públicos estaduais e seus dependentes em várias especialidades médicas, hoje só funciona no térreo com apenas duas especialidades (Neurologia e Cardiologia) e atendimento três vezes por semana (segunda, terça e quinta-feira) e no período da manhã, como informou um vigilante ao ENFOCO.

    O imóvel com consultórios médicos e de odontologia, farmácia, salas para pequenas cirurgias deu lugar ao silêncio de espaços vazios e sucateados, com janelas quebradas, aparelhos de ar condicionado sem uso, além de pichações e mato alto no entorno do prédio que ocupa um quarteirão.

    Segundo a diretora do Sindsprev RJ, Clara Fonseca, o ambulatório está sem funcionar em toda sua capacidade há mais de 10 anos. O sindicato apoia as lutas do funcionalismo estadual.

    "O único ambulatório do Iaserj com mais especialidades que o de Niterói funciona no Maracanã, no Rio, com consultas marcadas e de forma presencial. A outra unidade, que funcionava em Campo Grande, para pessoas acima de 60 anos foi transformada pelo Estado em hospital para a população em geral", revelou a servidora da saúde estadual, informando ainda que inúmeras solicitações já foram feitas para a reestruturação do Iaserj.

    Maria Ivone Suppo, outra diretora do Sindsprev RJ, contou que uma proposta para cessão do ambulatório para Niterói já foi feita em uma Conferência Municipal de Saúde.

    "É um crime a forma como está o ambulatório do Iaserj em Niterói. Se estivesse funcionando plenamente, quantas pessoas não estariam sendo atendidas?", questionou Maria Ivone, que também é do Sindicato dos Servidores Municipais da Saúde de Niterói.

    • Fantasma e esqueleto 'assustam' a saúde de São Gonçalo e Niterói
      | Foto: Lucas Alvarenga
    • Fantasma e esqueleto 'assustam' a saúde de São Gonçalo e Niterói
      | Foto: Lucas Alvarenga
    • Fantasma e esqueleto 'assustam' a saúde de São Gonçalo e Niterói
      | Foto: Lucas Alvarenga
    • Fantasma e esqueleto 'assustam' a saúde de São Gonçalo e Niterói
      | Foto: Lucas Alvarenga

    Estado diz que demanda é reduzida 

    A Secretaria Estadual de Saúde confirmou que a unidade do Maracanã atende aos servidores do Estado com diversas especialidades. Não comentou, no entanto, sobre o anúncio de leilão do prédio como parte do projeto de lei enviado pelo Governo do Estado a ser votado na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). 

    "Desde 2012, quando o Hospital Central do Iaserj foi extinto, as atividades do Instituto dos Servidores do ERJ foram transferidas para a unidade do Maracanã, que é referência para o atendimento a servidores do Estado e a usuários do SUS. Com diversas especialidades, entre elas, cardiologia, clínica médica, dermatologia, urologia, ginecologia, odontologia, mastologia e nefrologia, a unidade realiza cerca de 14 mil atendimentos mensais, incluindo exames", disse a Secretaria em nota. 

    A SES acrescentou ainda que "atualmente a demanda do Iaserj Niterói é reduzida, o que justifica o menor número de atendimentos. Cabe ressaltar que o município de Niterói possui ampla rede de saúde, incluindo o Hospital Estadual Azevedo Lima, que realiza atendimento de urgência e emergência. As consultas e exames nas unidades do Iaserj são reguladas por meio do SISREG (municípios), assim como pelo Sistema Estadual de Regulação (SER)", completou a Secretaria na nota. 

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    Dayse Alvarenga

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