Luta
'Guerra' em condomínio de SG: síndica é alvo de denúncias
Morador conta que se mudou após perseguição da mulher
A história do marinheiro Márcio Gomes, de 51 anos, ganhou as redes sociais recentemente por uma situação inusitada. Ele acusa a síndica do condomínio no qual morava no Alcântara, em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio, de abuso de autoridade e até desvio de dinheiro destinado às obras. Segundo Márcio, ele chegou a sair do seu apartamento devido às constantes intimidações e está licenciado do trabalho para tratamento psicológico por conta do conflito com a mulher.
Em foto compartilhada em redes sociais, Márcio aparece segurando um cartaz em protesto contra as supostas ameaças e perseguições sofridas por ele e outros moradores. Mais de 10 boletins de ocorrência foram registrados na 74ª DP (Alcântara) e já encaminhadas para o Juizado Especial Criminal (Jecrim), de acordo com a Polícia Civil. O condomínio tem seis blocos e 1.056 apartamentos.
Saí de lá porque era perseguido pela síndica, ao ponto da família dela tentar me linchar. Hoje faço terapia, tomo remédio controlado. Saí de lá com o psicológico abalado
Ele afirma que os problemas começaram há cerca de ano após a síndica deixar de realizar reparos essenciais. Entre as irregularidades apontadas, estariam grades de ventilação quebradas, fios desencapados e brinquedos enferrujados no parquinho.
“Havia várias situações de acidente que poderiam causar até morte. Por exemplo, as grades de ventilação que dão para o subsolo estavam quebradas, com risco de crianças caírem e até animais de pequeno porte. Havia fios desencapados, postes que davam choques e o parquinho das crianças com brinquedos enferrujados e ferro exposto”, relatou Gomes.
Após cobrar providências, Márcio teria sido alvo de difamação e exclusão de grupos de comunicação interna.
Comecei a filmar e divulgar os problemas para alertar os moradores e orientá-los a terem cuidado. Foi então que ela começou a me difamar, me excluir de todos os grupos do condomínio e me perseguir
Mesmo fora do condomínio, Márcio mantém o desejo de retornar, destacando os laços formados por sua família no local. Quando tentou fazer uma manifestação pacífica, foi impedido pela chegada da polícia.
Histórico de confusões e agressões
Outros moradores também relataram episódios de agressão envolvendo a síndica. Cláudio Martins, morador há sete anos no condomínio, contou ter sido verbalmente agredido por ela no estacionamento de um dos blocos.
Estava chegando no bloco onde a síndica mora para entregar um bolo. Quando ela me viu, começou a me ofender e xingar, e eu fiquei quieto. Me acusou de aliciador de menor, dizendo que eu estava divulgando foto da neta dela de 3 anos, e eu nem sabia que ela tinha neta.
“Depois que fiz a entrega do bolo e voltava para o carro, ela ficou me esperando. Quando os seguranças chegaram, ela se sentiu fortalecida, porque os seguranças estão aqui para protegê-la”, completou Márcio.
Uma moradora que vive há 10 anos no condomínio, que preferiu não se identificar, relatou ter sido quase agredida fisicamente pela síndica no mesmo dia, enquanto se dirigia à padaria com sua filha de 6 anos. Segundo ela, a situação só não se agravou porque zeladores intervieram.
"Eu estava passando pelo subsolo com minha filha de 6 anos para comprar pão, quando ouvi gritos perto do bloco dela e percebi que era a síndica. Apenas olhei e segui meu caminho, mas ela veio em nossa direção gritando e tentando nos agredir. Só não conseguiu porque os zeladores a impediram", relatou a moradora.
Na volta, minha filha disse: 'Mamãe, aquela mulher que ia te bater vai estar lá, não vamos por ali
Suspeitas de desvio de verbas
Além das denúncias de agressões, moradores apontam suspeitas de desvios de dinheiro por parte da síndica. Segundo Cláudio, obras superfaturadas teriam gerado um excedente financeiro que foi usado para a construção de uma casa em Maricá, também na Região Metropolitana do Rio.
“A pintura dos prédios foi orçada inicialmente em R$ 1,9 milhão e depois passou para R$ 2,6 milhões, mas apenas R$ 500 mil foram pagos aos pintores. Aqui é uma quadrilha!”, afirmou Cláudio ao ENFOCO.
Ele também denunciou que uma obra avaliada oficialmente em R$ 3 milhões teria custo real muito inferior, estimado em cerca de R$ 300 mil.
Márcio relatou à polícia que, em abril do ano passado, perdeu R$ 5 mil em um golpe atribuído à síndica. Ele também mencionou irregularidades em contratos com empresas de manutenção de elevadores, ausência de notas fiscais em obras realizadas e privilégios financeiros concedidos a comerciantes do condomínio.
Ainda de acordo com os depoimentos registrados em ocorrências, há rumores de que a síndica possui vários apartamentos no condomínio, reside em uma cobertura de alto padrão e recebe um salário de R$ 28 mil.
O que diz a síndica
O ENFOCO entrou em contato com a síndica, que inicialmente respondeu aos questionamentos, mas posteriormente decidiu não se manifestar.
O que diz a Justiça
Procurado pelo ENFOCO, o Tribunal de Justiça informou que a maioria dos processos contra a síndica do condomínio está em andamento. Apenas um foi arquivado até o momento, "tendo em vista a decadência ao exercício do direito de queixa".
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