Renascimento
Moradora de São Gonçalo revela medo de morrer após corte com linha chilena
Juliana Pinto estava indo ao mercado quando foi atingida

Uma ida ao mercado quase terminou em tragédia para a fisioterapeuta Juliana Pinto Jaccoud, de 33 anos, que foi atingida por uma linha chilena no pescoço no último sábado (31), no bairro Fazenda dos Mineiros, em São Gonçalo. Assustada com a gravidade do ferimento, Juliana temeu não sobreviver e deixar seu filho de apenas cinco anos. Nesta segunda-feira (2), ela recebeu alta médica após passar por uma cirurgia e descreveu o episódio como um verdadeiro renascimento.
Segundo Juliana, ela não percebeu se havia crianças ou adultos empinando pipa na rua onde estava. Por volta das 16h, enquanto estava na garupa da motocicleta do marido, sentiu algo estranho no pescoço: ela havia sido atingida pela linha chilena.
“Senti uma ardência no pescoço e, quando coloquei a mão, encontrei a linha. Tirei-a e disse para o meu marido: ‘acho que me cortei’. Quando ele olhou, viu que meu pescoço estava sangrando muito”, contou.
Juliana relata que, ao ver a gravidade do ferimento, seu marido entrou em desespero e começou a chorar, temendo o pior. Ele retirou a própria blusa e enrolou no pescoço da esposa para estancar o sangue. Logo em seguida, um conhecido do casal passou pelo local e ofereceu ajuda. Ele a levou de motocicleta até o quartel do Corpo de Bombeiros, onde Juliana recebeu os primeiros socorros e, em seguida, foi encaminhada ao Hospital Estadual Alberto Torres (Heat), no bairro Colubandê.
“Nessa hora passou um conhecido dele...Te digo, foi Deus que mandou aquele menino. Ele foi um anjo na minha vida naquele momento”, declarou, emocionada, em agradecimento ao homem que a socorreu.
O ferimento, de aproximadamente seis centímetros, foi profundo, mas felizmente não atingiu estruturas vitais. O marido, que estava pilotando a moto, não foi ferido.

Durante a cirurgia, a fisioterapeuta também passou por momentos de aflição.
“Como eu tinha comido há pouco tempo, os médicos não puderam me dar anestesia geral. Foi com anestesia local, e eu fiquei acordada o tempo inteiro".
Na cabeça de Juliana, só passava uma coisa: seu filho de apenas cinco anos.
Passei todo o tempo com medo de morrer e deixar meu filho de apenas cinco anos. Eu só pensava nele. O tempo todo eu pedia: ‘Deus, não me deixa morrer, eu ainda tenho que criar meu filho’
A fisioterapeuta ainda relata ter conhecimento de vários casos que terminaram em fatalidades por conta desse material e reconhece que teve sorte em sair viva da situação.
"Hoje eu tive sorte, mas quantas pessoas não tiveram a mesma sorte que eu? Se a linha tivesse atingido uma veia, eu poderia ter morrido. O perigo é enorme."
Uma linha chilena quase tirou minha vida. Muitas pessoas dizem que isso é brincadeira, mas para mim é um crime a partir do momento em que se sabe que aquilo pode matar alguém e ainda assim continua sendo usado. Isso é crime
Apesar do susto, Juliana recebeu alta médica nesta segunda-feira (2), após três dias internada, e segue em casa se recuperando bem dos ferimentos. Muito grata pelo renascimento que teve, ela agradeceu à equipe médica que cuidou dela.
"Graças a Deus, fui atendida por uma equipe de plantão maravilhosa, que realizou o atendimento com excelência e salvou a minha vida."
O que é linha chilena
A linha chilena, popularmente chamada de cerol, é composta por uma mistura de cola com vidro triturado, limalha de ferro ou pó de quartzo, aplicada nas linhas de pipas para cortar as de outras no ar. O uso dessa substância é ilegal, pois representa um sério risco à segurança das pessoas, podendo provocar ferimentos graves e até mesmo fatalidades.
Crime
A prática popular de empinar pipa pode se tornar perigosa e ilegal quando envolve o uso de linha chilena. Essa conduta configura crime, conforme previsto no artigo 132 do Código Penal, que trata de expor a vida ou a saúde de outras pessoas a perigo iminente.
Quem empina pipa utilizando cerol pode responder criminalmente pelos danos causados a terceiros, que variam desde lesões corporais leves até homicídio doloso, quando há dolo eventual — situação em que o autor assume o risco de causar um resultado grave, mesmo que não o deseje diretamente. Se o responsável for criança ou adolescente, a conduta será tratada como ato infracional, com medidas socioeducativas aplicadas conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Além disso, a venda ou exposição para venda de cerol ou linha chilena também é considerada crime. Conforme a Lei nº 8.137/1990, constitui crime contra as relações de consumo vender ou ter em depósito mercadoria imprópria para consumo, sujeitando o infrator a detenção de 2 a 5 anos ou multa. Também é aplicada a penalidade prevista no artigo 278 do Código Penal para quem fabrica ou comercializa substâncias nocivas à saúde.
Em resumo, empinar pipa é uma atividade saudável e divertida, desde que seja feita com responsabilidade e sem o uso dessas substâncias perigosas, cujo uso é crime previsto em lei.


Perdeu documentos, objetos ou achou e deseja devolver? Clique aqui e participe do grupo do Enfoco no Facebook. Tá tudo lá!