Cidades
Secretário de Saúde do Rio diz que cidade terá índices para realização do Carnaval
A 100 dias da festa mais tradicional da cidade do Rio, e em sua última audiência pública, a Comissão Especial de Carnaval da Câmara do Rio recebeu, nesta sexta-feira (19), representantes do Poder Público, das ligas de escolas de samba, dos blocos de rua e dos trabalhadores ambulantes.
Na reunião, o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, afirmou que a cidade já atingiu praticamente todos os indicadores apontados em um estudo apresentado por especialistas da Fiocruz e da UFRJ à comissão.
Presidente da Comissão, o vereador Tarcísio Motta (PSOL) questionou Soranz sobre os indicadores epidemiológicos e os protocolos sanitários que serão usados pela Prefeitura do Rio para a realização do evento. O parlamentar apresentou os indicadores que foram propostos para um carnaval seguro na cidade. Entre eles o indicador de porcentagem de testes diagnósticos positivos, a taxa de contágio da cidade do Rio de Janeiro e a taxa de vacinação no Brasil, estados e municípios.
Em relação aos três índices, o Rio já conseguiu alcançar, no momento, a porcentagem de 3% de positivos sobre o total de testes, sendo que a meta a ser conquistada era de 5%. A taxa de contágio,que deve estar abaixo de 1, hoje é de 0,76.
A cidade também conseguiu zerar a fila de internação para casos de síndrome respiratória aguda grave. Um outro indicador importante é a taxa de vacinação, que deve estar acima de 80% da população total. Atualmente, a cidade se encontra com um percentual de 76%, mas deverá alcançar, até o carnaval, o índice estabelecido.
Com o cenário atual, Daniel Soranz garantiu que há, na cidade do Rio de Janeiro, segurança sanitária para a realização da festa de Momo.
"A cidade do Rio vem conseguindo reduzir os casos de Covid-19 e, nos casos de síndrome gripal, 97% são referentes a outras doenças não relacionadas à Covid-19", explicou. No entanto, o gestor ressaltou que, qualquer mudança dos indicadores, a população será notificada e a Prefeitura irá retornar com as medidas mais restritivas.
O epidemiologista Roberto Medronho, da Faculdade de Medicina da UFRJ, considerou os indicadores positivos, mas mostrou-se preocupado com a população de fora do Rio. Para ele, a Prefeitura precisa exigir o passaporte vacinal de quem vier aproveitar o carnaval carioca.
"A Prefeitura do Rio precisa deixar claro que exigirá o passaporte vacinal para quem adentrar ao município no Natal, Réveillon e carnaval".
O secretário Soranz afirmou que a Prefeitura irá analisar o cenário em outros países.
"A maioria dos países com muitos casos ainda não alcançou a cobertura vacinal adequada e não realizou a dose de reforço para idosos. No Rio, a cobertura vai aumentar nos próximos meses", complementou.
Soranz ainda revelou que a secretaria já cobrou que o Ministério da Saúde avalie a possibilidade de manutenção da exigência de passaporte vacinal dos estrangeiros.
Organização
Outros três temas foram tratados também na audiência pública. A possibilidade de concessão de um auxílio emergencial para os trabalhadores dos barracões foi descartada pelo diretor de Operações da Riotur, Rafael Bandeira. A decisão foi lamentada pelo vereador Tarcísio Motta.
"Os trabalhadores dos barracões passaram fome por causa da suspensão do carnaval durante a pandemia da Covid-19. Infelizmente, a Prefeitura do Rio fez o anúncio, mas não conseguiu implementar".
Sobre o carnaval das escolas de samba, foi cobrada a realização de obras na Cidade do Samba 1 e a construção de um novo espaço, que se chamaria Cidade do Samba 2.
Diretor-presidente da RioUrbe, Rafael Salgueiro explicou que, no momento, uma empresa trabalha na readequação de um projeto já existente para prevenir e combater incêndio nas instalações da Cidade do Samba 1. Para a Cidade do Samba 2, de acordo com Rafael Bandeira, da Riotur, ainda é preciso identificar o melhor terreno para abrigá-la.
Neste mesmo bloco, os convidados da audiência ainda comentaram sobre o carnaval da Intendente Magalhães, que vem crescendo nos últimos anos. A Riotur lançou o caderno de encargos para o desfile da estrada localizada no Campinho, Zona Norte do Rio.
"Já temos uma empresa vitoriosa que ratificará a execução do seu projeto até o fim do mês. No entanto, a Riotur tem estrutura para realizar, com recursos próprios, o que está sendo proposto no caderno", revelou Bandeira. A organizadora será responsável pela produção, montagem e remoção de toda a estrutura dos desfiles.
Blocos
O último tema tratado foi o carnaval de rua, incluindo os desfiles na Avenida Chile, além da garantia de uma política de incentivo cultural permanente para os blocos.
"O Poder Público precisa criar uma linha de incentivo específica e permanente para o carnaval de rua", ressaltou Tarcísio Motta.
Ausente na audiência pública, a Secretaria Municipal de Cultura lançou o edital Cultura do Carnaval Carioca, para a folia de rua. De acordo com o representante da Riotur, haverá um aumento do número de macas e ambulâncias para atender o folião.
"Estamos no momento fazendo o mapeamento das áreas mais críticas para o atendimento das demandas", disse Bandeira.
Segundo o gestor, este ano, serão 621 desfiles e 506 blocos, com os desfiles sendo iniciados em 29 de janeiro. O diretor da Riotur ainda explicou que, até 6 de dezembro, os blocos deverão receber seus cadastros provisórios, e deverão ter, até 29 de dezembro, os documentos permanentes. No entanto, após reclamações dos representantes dos blocos, que terão pouco tempo para conseguir as autorizações nos órgãos municipais e estaduais, o prazo poderá ser revisto.
Sobre o carnaval na Avenida Chile, os representantes dos blocos vêm solicitando a volta dos desfiles para a Avenida Graça Aranha. Luiz Gustavo Mendonça, da CET-Rio, descartou a mudança de local no carnaval de 2022, mas, segundo ele, o assunto poderá voltar à pauta na organização do carnaval de 2023.
"A rota do trânsito da Graça Aranha é indispensável para a organização da festa. No entanto, existem algumas possibilidades que precisam ser conversadas com as agremiações e os órgãos do Poder Público", revelou. Entre as possibilidades, estão a Rua Santa Luzia, a Avenida Churchill, a Avenida Presidente Antônio Carlos, a Evaristo da Veiga e a Araújo de Porto Alegre.
Presidente da Superliga Carnavalesca do Brasil, Clayton Ferreira cobrou um planejamento mais ágil para o carnaval de 2023.
"Precisamos de antecipação para angariar fundos e renda com a iniciativa privada. Quanto menos dependentes dos recursos públicos, melhor". Ferreira alertou que o carnaval da Intendente Magalhães vem crescendo muito e que o local já não comporta os desfiles.
Rita Fernandes, presidente da Sebastiana, e Kiko Horta, do Cordão do Boitatá, defenderam a instituição de uma política de incentivo permanente para o carnaval de rua.
"O edital para o carnaval de rua merece uma discussão mais profunda junto aos agentes da Secretaria de Cultura", apontou Rita, que ainda se mostrou preocupada com uma possível cobrança por parte do Poder Público para que os blocos garantam UTIs e ambulâncias em seus desfiles.
Relatório
Tarcísio Motta adiantou alguns pontos que deverão fazer parte do relatório final da comissão, que deverá ser lançado no dia 6 de dezembro. Uma das sugestões será que a Secretária Municipal de Saúde, junto com a Fiocruz, possa fazer uma campanha para conscientizar os trabalhadores dos barracões a se vacinarem e usarem máscaras.
O parlamentar ainda defendeu a implementação de uma política permanente de incentivo aos blocos de rua e a distribuição paritária de recursos entre as diversas agremiações dos diversos grupos do carnaval carioca, incluindo as escolas mirins.
"Queremos estar nas ruas, mas precisamos ter responsabilidade sanitária. O carnaval é um direito do cidadão, e o Poder Público tem o dever de garanti-lo", concluiu o parlamentar.
Participaram também da audiência pública a vereadora Monica Benicio (PSOL), relatora do colegiado; Marcelo Salek, do Instituto Municipal de Vigilância Sanitária; Marcello Vianna, da Cet-Rio; o pesquisador Hermano Castro, da Fiocruz; Bruno Tete, diretor da Liga Independente do Grupo A do Rio de Janeiro; Antonio Gonçalves, representante da Liga Livres/RJ; Valéria Wright, representante da Liga Sambare; Dani Freitas, representante da Liga Coretos; o carnavalesco Milton Cunha e Paulo Cesar Xavier, presidente da Federação dos Blocos Afro do Rio de Janeiro.
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