Liberdade
Transição capilar: como abandonar a química e assumir os cachos
Cabeleireira dá dicas sobre o processo e o 'big chop'
A tendência da transição capilar vem crescendo entre as brasileiras. O procedimento consiste em abandonar os processos químicos que alteram a estrutura do cabelo, como a progressiva, e retornar às madeixas naturais. Neste processo ocorre o "big chop", um corte que tira a parte alisada e deixa apenas os cachos.
A cabeleireira Lola Monteiro, de 38 anos, já fez transição capilar e recebe várias clientes que estão passando pelo mesmo processo.
"A transição capilar é o ato de você deixar de fazer a química e, nesse processo, deixar seu cabelo natural crescer. A transição começa a ocorrer a partir do momento em que a pessoa decide não fazer mais a química. O tempo na transição varia de pessoa para pessoa e,depois que a cliente faz a transição, vem o 'big chop', que é cortar toda a parte com química, e isso é pessoal. A cliente tem que estar confortável para realizar o corte. Uma outra opção é a pessoa ir cortando o cabelo aos poucos, mas o processo demora um pouco mais. Independentemente disso, no final, o resultado é o cabelo natural", afirmou Lola, que atua como cabeleireira há 13 anos.
Antes não existiam produtos e profissionais para cuidar do cabelo natural, mas aconselho que agora todas possam dar oportunidade ao cabelo natural e entender a transição, fazendo-a de forma assistida. Vai passar e é só uma parte do processo. No final vai valer a pena.
A transição pode ocorrer tanto para homens quanto para mulheres. Lola, por exemplo, atende rapazes que estão querendo deixar a progressiva de lado. Ela recomenda que, durante a transição, não seja usado nem chapinha nem secador.
"Atendemos muitos rapazes na transição. Durante o processo, não recomendamos ninguém a usar ferramenta térmica, o secador para escovar ou a prancha, porque não só as químicas alisam, existe também o alisamento térmico, que é pelo calor. O cabelo crespo/cacheado é muito sensível, então, com aquela tração e o calor, o fio desidrata a ponto de ficar alisado e, por isso, a gente não aconselha. O cabelo natural também não cresce com o uso constante da prancha", contou.
A maioria das mulheres que buscam a transição opta pelo processo por estarem cansadas da progressiva, por perderem muito cabelo e outras querem dar uma chance pro seu cabelo natural. O "big chop" é o ponto final da mulher que está em transição capilar.
A tradução de 'big chop' é o grande corte, que nada mais é do que cortar toda a parte com química.
"Tem cliente que diz que sim e tem cliente que pede para cortar menos. A cliente tem que se sentir confortável para o corte", explicou Lola, que passou pelo corte em 2008. Ela tinha química no cabelo desde os 5 anos de idade.
"Eu passei pela transição capilar em 2007 e nem ouvíamos falar direito sobre o assunto. Nessa época, eu já trabalhava em salão e tinha aquele 'padrão' da sociedade. Então, foi difícil para mim. Em 2008, antecipei o meu 'big chop', pois eu já trabalhava em salão e, por causa desse padrão de cabelo liso, passei a transição toda de coque", contou ela.
Sobre ser uma mulher negra fugindo desse padrão de cabelo liso imposto pela sociedade, Lola dá o seu testemunho de sofrimento.
"As mulheres negras precisam fazer com mais frequência esse processo de química. Nós sofremos com queda e alopecia, já que as químicas queimam o couro cabeludo. Então, o cabelo, mesmo com a mulher achando que está naquele padrão alisado, sofre com tudo isso. Por isso, sempre temos que deixar o cabelo crescer novamente para fazer mais química e isso dói".
A história de Lohane da Silva Valentim
Aos 21 anos, Lohane da Silva Valentim alisou o cabelo pela primeira vez aos 13. Foi aos 18 que decidiiu interromper esse processo e iniciou a transição em 2020, bem na pandemia.
"Meu cabelo vivia muito ralo, nunca dava certo. Sempre achava que meu cabelo ia ficar liso, demorar a crescer, mas nunca ficava desse jeito. Foi quando entramos na pandemia e não tinha como sair para lugar nenhum. Aproveitei e parei de alisar meu cabelo com química. Antes, meu cabelo quase não ficava com cacho, a raiz ficava crespa, cheia, e as pontas, ralas. Hoje, eu me sinto bem melhor, faço trança, penteado, deixo ele solto ou preso", afirmou ela.
A jovem relatou que estava se preparando para o corte ainda minutos antes de chegar ao salão. "Chegou o dia, estava preocupada, mas tomei minha decisão e vim! Minha família me acha melhor de cabelo cacheado. Para mim, a transição foi um autoconhecimento, uma forma de me reconhecer e voltar a enxergar meu cabelo de forma natural", completou.
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