Cidades
UFF atua em áreas de preservação ambiental do Estado
Apesar de o formato do planeta, que é esférico por natureza, nunca mudar, os modos de representação simbólica de sua estrutura podem ser alterados com o tempo, a exemplo dos mapas. A cada novo território identificado e descoberto, segue-se um ritual de catalogação e nomeação para que sua existência possa ser conhecida oficialmente por todos, não se limitando àquelas pessoas que têm um contato direto com o lugar.
Esse é o caso, por exemplo, da Praia Índia Potira e da Praia do Sal, que pertencem ao município de São Pedro da Aldeia, no estado do Rio de Janeiro. Elas foram cartografadas, recebendo uma denominação ainda provisória, através do trabalho de mapeamento desenvolvido pelo Núcleo Experimental de Iguaba Grande (NEIG), da Universidade Federal Fluminense (UFF).
O estudo desenvolvido pela instituição foi responsável não somente por delimitar o espaço, mas definir essas novas praias, propondo inclusive sua nomenclatura. Os nomes sugeridos, no entanto, ainda não foram oficializados e a decisão ficará a cargo do Poder Executivo Municipal.
O coordenador do NEIG e professor do Departamento de Patologia e Clínica Veterinária da Faculdade de Veterinária da UFF, Sávio Freire Bruno, explica que a Praia do Sal foi assim nomeada em função da proximidade em relação à antiga Estrada do Sal, utilizada para chegar até a antiga salina local, favorecendo o transporte desse produto, no passado.
Nesse recorte geográfico, percebe-se uma enseada bem característica de praia, com suas singularidades próprias. Já com relação à outra região, o coordenador afirma que, considerando a história local, sugeriu-se batizá-la de Praia da Índia Potira, nome dado em alusão à nativa Tamoio, filha do chefe indígena Aimberê.
Localizado na divisa entre os municípios de Iguaba Grande e de São Pedro da Aldeia, o NEIG é um campus pertencente à Faculdade de Veterinária e ocupa uma área de 1.449. 047 metros quadrados. Sua aquisição ocorreu na década de 1960, através de uma doação do ex-presidente Juscelino Kubitschek, com a finalidade de se tornar uma granja-escola para aulas práticas de grandes animais. Nessa época, a área era conhecida como “Morro do Governo”.
Por se tratar de uma região com alta salinidade, ventos fortes, vegetação de restinga e terreno levemente acidentado, com solo ácido e raso, o objetivo inicial de se tornar uma granja-escola, um local para práticas com animais domésticos de grande porte, como idealizado no passado, acabou não prosperando.
O Núcleo, no entanto, reformulou sua proposta de atuação, passando a assumir um papel ativo na conservação e no ordenamento sustentável local, por meio da elaboração de plantas topográficas e mapas confeccionados, entre outras ferramentas úteis para esse fim.
Além disso, ressaltou Sávio Bruno, “a vasta diversidade biológica, as peculiaridades geomorfológicas e os aspectos socioeconômicos e ambientais, entre outras características, reforçam a importância do Núcleo para a preservação e desenvolvimento da região em que está inserido”.
A adoção dessa nova estratégia por parte do NEIG não é casual: a área onde ele está localizado integra uma região de proteção ambiental, que está inserida na Área de Proteção Ambiental (APA) Estadual Serra de Sapiatiba, reconhecida como unidade de conservação de uso sustentável, e tendo como um dos parceiros oficiais o Instituto Estadual do Ambiente (INEA/RJ).
Em conformidade com sua atual função dentro e fora da universidade, inclusive, o NEIG em breve passará a se chamar Reserva Ecológica Ponta da Farinha / Faculdade de Veterinária / UFF, ocasião que pretende marcar sua plena inserção em atividades inerentes às suas características socioambientais.
Atento ao potencial dessa área dedicada a projetos de preservação de espécies animais e da vegetação nativa, o reitor da UFF, Antonio Claudio Nóbrega, visitou recentemente o espaço a fim de verificar suas necessidades estruturais atuais, assim como elaborar um planejamento estratégico, com o propósito de assegurar ao Núcleo uma posição institucional avançada, referenciada e com segurança patrimonial.
“A ideia é desenvolver projetos que atendam às demandas da universidade e que, como resultado, tragam benefícios à sociedade, sempre com base nos princípios da preservação dos ativos ambientais, desenvolvimento sustentável e utilização racional dos recursos naturais”, enfatiza.
Sávio Bruno destaca que a importância ecológica dessa região vai além da beleza de sua vegetação nativa. Mesmo possuindo uma extensão territorial reduzida, ela abriga muitas espécies ameaçadas de extinção, a exemplo das aves formigueiro-do-litoral (categoria ameaçada), o trinta-réis-real e a borboleta-da-praia (ambos na categoria vulnerável).
Esse é um dos motivos pelos quais “é preciso favorecer o entendimento da importância socioambiental dessa área onde está localizado o NEIG, considerando seus aspectos ecológicos e econômicos, de maneira a preservá-la e dar-lhe subsídios para sua ordenação territorial”, sublinha.
Frente a isso, o coordenador acrescenta que foi firmada, recentemente, uma parceria com a Prefeitura Municipal de Iguaba Grande, por meio de convênio, buscando reforçar a inserção do campus regionalmente, assim como também no âmbito acadêmico. Outra ação prática proposta foi a criação de um laboratório/observatório de ornitologia (estudo de aves), com forte potencial de pesquisa e desenvolvimento socioeconômico regional, considerando a observação da espécie como atividade dentro de uma proposta de turismo sustentável.
Sávio Bruno explica que a observação de aves segue uma tendência global de atividades que visam à valorização da biodiversidade, e se alinham ao desenvolvimento econômico e social da região. Segundo o coordenador, uma das premissas dessa prática é a de manter o ambiente inteiramente preservado, pois as aves são elementos integrantes do ecossistema a que pertencem. “É um tipo de atividade que confronta a ideia utilitarista, mercantilista, produtivista da natureza, nos moldes de sua derrubada e destruição ‘em prol do progresso’, como historicamente tanto alardearam em nosso país”, enfatiza.
Para Sávio, a comunidade biótica e especialmente a fauna ornitológica tornam-se, nesse sentido, atrativos para o turismo sustentável.
“Toda uma gama de serviços para este público tão importante, que exerce o que chamamos de cidadania participativa, servem de base para a conservação de espécies. A observação de aves tem sido, portanto, não só uma expressiva fonte de renda para os serviços prestados direta e indiretamente pelas comunidades onde determinada avifauna se mantém, mas também representa um grande exemplo de que manter os recursos naturais de uma localidade ou região não só garante a continuidade dos ‘serviços ambientais’ mas do equilíbrio ecossistêmico, da Saúde Única e por que não, da Saúde Planetária”, finaliza.
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