Polícia

A união do tráfico e a ‘despedida’ de uma facção em São Gonçalo

De um lado, o Terceiro Comando Puro (TCP), facção em ampla minoria no estado do Rio e desesperada para manter o Complexo da Alma, único território sob o seu controle em São Gonçalo. Do outro, o Comando Vermelho (CV), grupo dominante em várias cidades, com o objetivo de expulsar e comandar a criminalidade do segundo município mais populoso do Rio de Janeiro.

Na última semana, a principal facção criminosa do estado se uniu e sob a batuta de criminosos, conhecidos como 'GB' ou 'Flamengo' e 'Paraíba', oriundos do Jardim Catarina e Salgueiro, respectivamente, invadiram o conjunto de favelas da Alma, e mudaram a bandeira da comunidade para o Comando Vermelho. Desde então, demonstrações de força e soberania puderam ser vistas nas redes sociais, utilizadas para provocações e palavras de ordem pelos traficantes.

Em uma dessas aparições nas redes sociais, traficantes do CV apareceram com armas de grosso calibre distribuindo cestas básicas para os moradores na localidade conhecida como 590, que compõe o conjunto de favelas da Alma. A tática, segundo a polícia, seria uma forma de conquistar a confiança dos moradores da região, com o objetivo de evitar possíveis informes sobre pontos de vendas de drogas e esconderijos para a antiga facção dominante na localidade.

“São Gonçalo ‘lacradão’ na bandeira vermelha. Morador da Alma, 590 e Candoza não aguentava mais, agora tá lazer. As crianças brincando, os moradores ficando a vontade. Isso aqui é a melhor gestão, São Gonçalo 100% CV”.

Post em um perfil ligado a facção criminosa nas redes sociais

Já em outro vídeo, publicado em uma rede social, traficantes do Comando Vermelho, ainda não identificados, aparecem desfilando a bordo de um carro de luxo com fuzis e ouvindo um proibidão que valoriza a invasão da facção na região.

Segundo um informe recebido pela Polícia Militar, somente o tráfico do Jardim Catarina distribuiu 15 fuzis para a invasão instaurada no último dia 16 e consolidada no resto da semana.

Após a invasão, as polícias Militar e Civil informaram que monitoram um possível plano de retomada por parte dos traficantes do Terceiro Comando Puro (TCP), que contariam com o apoio de criminosos do Complexo da Maré, quartel general da facção criminosa, localizado na Zona Norte da cidade do Rio.

Na guerra, quem perde são os moradores

Em meio a intensos confrontos entre as principais facções criminosas do estado quem perde são os moradores, que enfrentam longas e duradouras noites de sono ao som de tiros e sob a tensão de uma bala perdida.

“Cara, é complicado você opinar sobre o tema. Nos últimos anos, estamos vivendo um cenário de terror aqui na Amendoeira. Simplesmente pelo fato de morarmos em uma região que era dominada por uma facção em minoria. Perdi a conta de quantas vezes dormimos e acordamos ao som de tiroteio entre eles. É complicado! Acho que se fosse montada uma base da PM aqui dentro, solucionaria o problema”.

Morador da localidade, que preferiu não se identificar

Na última sexta-feira (19), policiais militares do Batalhão de São Gonçalo (7° BPM) fizeram uma operação com o objetivo de reprimir a criminalidade e evitar novos confrontos entre as facções criminosas.

Durante a incursão, houve um confronto entre policiais e traficantes, que estavam a bordo de um veículo branco, e duas primas foram atingidas no tiroteio.

Imagem ilustrativa da imagem A união do tráfico e a ‘despedida’ de uma facção em São Gonçalo
|  Foto: Foto : Lucas Benevides
Bala perdida atingiu duas primas na Vila Candoza, na última sexta-feira (19). Foto: Arquivo/Lucas Benevides

As vítimas foram socorridas e levadas para o Hospital Estadual Alberto Torres (Heat), no Colubandê. No hospital, familiares afirmavam que os últimos dias seriam de desconforto na região.

“Esse entra e sai de traficantes só prejudica a vida de nós, moradores. Quando não é a briga entre eles, é a polícia entrando e o tiroteio começando. Não vejo a hora de sair daqui para ir a um lugar mais tranquilo”, disse um familiar, enquanto aguardava notícias das entes queridas.

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