Tragédia

Chacina da Candelária completa 30 anos neste domingo

Oito pessoas, a maioria adolescentes, foram assassinadas

Igreja da Candelária realizou vigília para lembrar a chacina
Igreja da Candelária realizou vigília para lembrar a chacina |  Foto: Divulgação

Neste domingo (23), completa 30 anos do trágico episódio que ficou conhecido como a Chacina da Candelária. O país lembra a noite do dia 23 de julho de 1993, quando, pouco antes da meia-noite, um grupo de extermínio, liderado por policiais e ex-policiais militares, divididos em um táxi e um Chevette com placas cobertas, se aproximou e parou em frente à Igreja da Candelária, no Centro do Rio. Em seguida, os integrantes do grupo efetuaram diversos disparos contra moradores em situação de rua, a maioria adolescentes que estavam dormindo nas proximidades do templo religioso.

Ao todo, oito pessoas morreram durante o ataque, entre elas seis menores de idade. As vítimas foram Paulo Roberto de Oliveira,  de 11 anos, Anderson de Oliveira Pereira, 13, Marcelo Cândido de Jesus, 14, Valdevino Miguel de Almeida, 14, “Gambazinho”, 17, Leandro Santos da Conceição, 17, Paulo José da Silva, 18, e Marcos Antônio Alves da Silva, 19.

A investigação feita na época conseguiu levar os policiais civis até Wagner dos Santos, um dos adolescentes que sobreviveu, apesar de ter sido atingido por quatro tiros. As investigações apontaram ainda que o adolescente sofreria um segundo atentado em 12 de setembro de 1994 na Central do Brasil e, a partir de então, o Ministério Público o colocou no Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas. 

A chacina escancarou o lado obscuro da Polícia Militar do Rio, uma vez que as informações passadas pelo adolescente foram fundamentais para reconhecer os PMs Marcos Aurélio de Alcântara, Marcus Vinícius Emmanuel Borges, Nelson Oliveira dos Santos Cunha e Maurício da Conceição, conhecido como Sexta-Feira Treze, envolvidos no crime. Após a identificação dos policiais, Wagner deixou o país com a ajuda do governo federal e ainda sofre com sérios problemas de saúde.

Marcos Aurélio foi condenado a 204 anos, Nelson Oliveira dos Santos Cunha a 261 anos, mas acabaram soltos. Já Marcus Vinícius foi  condenado a 300 anos e está foragido até hoje. O policial conhecido como Sexta-Feira Treze morreu antes de ser condenado.

Ao ENFOCO, Antonio Carlos Costa, fundador da ONG Rio de Paz, lamentou não existir, na época, a ONG para lutar pelas vítimas  da chacina.

“Estou entre os que se arrependem por não terem protestado na época contra crime tão hediondo, que revelou ao mundo o quanto o nosso país sofre de um déficit no processo civilizatório. As violações à santidade da vida humana são traço da cultura, e o poder público considera matável parte da população, a saber, negros, pardos e pobres. Gostaria que o Rio de Paz já atuasse naqueles anos de trevas, que ainda não foram dissipados”, disse.

Monumento 

Como forma de não deixar a tragédia no esquecimento, existe um pequeno monumento em frente à igreja. Ele é constituído por uma cruz de madeira, no qual há inscrito os nomes dos assassinados e uma placa de concreto. 

Na noite da última sexta-feira (21), mães e familiares participaram de uma vigília na porta da Igreja Candelária. A ação foi organizada pelo movimento Candelária Nunca Mais.

Dados

Um levantamento feito pelo Censo do IBGE mostrou que o número de pessoas em situação de rua no Rio de Janeiro aumentou desde 2020. De acordo com os dados, atualmente 7.865 pessoas vivem essa triste realidade na capital fluminense. Houve aumento de 8,5% em relação a 2020, quando foram contabilizadas 7.272 pessoas em situação de rua.

Em 2022, cerca de 80% do público-alvo eram pessoas que se encontravam na rua, enquanto 20% estavam em instituições. No primeiro grupo, 5.026 estavam na rua e 1.227 em cenas de uso de drogas. Entre todos os pesquisados, 17% têm residência fixa e 55% ainda mantêm contato com a família.

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