Treinamento
Com roubos a rodo, reforço das tropas da PM será só para o G20
'Paliativo', diz especialista em Segurança Pública ao ENFOCO
O reforço na Segurança Pública para o G20, no Rio de Janeiro, tem sinais de brevidade, apesar dos roubos de rua, por exemplo, estarem em alta na capital. Foram 27.862 registros entre janeiro e setembro deste ano, contra 23.280 no mesmo período do ano passado, ou seja, 4.582 casos a mais — um 'boom' de 20%. Dados são do Instituto de Segurança Pública (ISP).
Policiais militares participaram de um grandioso Exercício Tático Especializado na sede do Comando de Operações Especiais (COE), localizado em Ramos, Zona Norte do Rio, na manhã desta quinta-feira (7). ENFOCO acompanhou.
Sob o argumento de preparação para a segurança da Cúpula do G20, a operação envolveu cerca de 120 policiais das unidades especializadas da corporação, as chamadas tropas de elite.
Durante o treinamento, houve a demonstração de escolta, controle de distúrbios e monitoramento, além da exibição de equipamentos modernos que estarão a serviço da segurança durante o evento.
"Esse treinamento é promovido pelo COE, demonstrando toda a capacidade desenvolvida pela Polícia Militar, especificamente para a cúpula do G20. Lógicamente se tratando de um evento como o G20, a gente vai ter essas ações também promovidas pelas forças federais e por outros entes, por conta de toda a necessidade de proteção da cidade", frisou a Tenente Coronel Cláudia Moraes, porta-voz da Polícia Militar.
Críticas
O G20 é um fórum de cooperação econômica internacional que tem como objetivo debater temas para o fortalecimento da economia internacional e desenvolvimento socioeconômico global, com autoridades do mundo inteiro.
Medidas emergenciais que são absolutamente paliativas [...] É uma espécie de uma vitrine de algo que não existe de fato na rotina e no cotidiano do Rio de Janeiro
Embora a iniciativa traga à tona a importância de um aparato de segurança em eventos globais como o G20, especialistas apontam que o exercício pode mais refletir numa exibição de força e poderio militar do que, de fato, ações de segurança efetiva.
“O fato é que nós temos aí já há bastante tempo medidas, ações na área de segurança pública que têm se demonstrado ineficazes para a garantia de segurança da população residente no Rio de Janeiro. E quando a cidade vai abrigar um evento desse porte, desse tamanho, dessa importância, então aí corre-se atrás de medidas emergenciais que são absolutamente paliativas, muitas vezes reforçam tendências de militarização, de controle de populações normalmente residentes em favelas, populações negras. E dessa forma o que aparece é uma espécie de uma vitrine de algo que não existe de fato na rotina e no cotidiano do Rio de Janeiro”, ponderou o especialista em segurança pública Daniel Hirata, formado pela Universidade Federal Fluminense (UFF).
Razões
Para o presidente do Instituto de Criminalística e Ciências Policiais da América Latina (Inscrim), José Ricardo Bandeira, alguns motivos devem ser observados, dentre os quais: pressão política, visibilidade e falta de planejamento.
“Podemos citar a pressão política: pois a realização de eventos internacionais de grande porte costuma gerar uma pressão política significativa para garantir a segurança e a imagem do país. Isso pode levar a uma alocação desproporcional de recursos para esses eventos. A visibilidade: ações de segurança em eventos internacionais têm grande visibilidade na mídia, o que pode gerar uma percepção positiva da atuação policial, mesmo que os problemas da criminalidade cotidiana persistam. A falta de planejamento: o Governo do Estado não tem um planejamento estratégico de longo prazo que contemple a necessidade de treinamentos contínuos e a atualização das técnicas policiais”, disse o especialista em Segurança Pública.
Tropa de elite
As unidades da Polícia Militar participantes do Exercício Tático Especializado foram o Batalhão de Polícia de Choque (BPChq), o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), o Batalhão de Ações com Cães (BAC), o Grupamento Aeromóvel (GAM), do Batalhão Tático de Motociclistas (BTM) e do Núcleo de Apoio às Operações Especiais (NAOE).
O efetivo do Centro de Instrução Especializada e Pesquisa Policial (CIEsPP), segundo a PM, estará dedicado ao apoio à realização do G20.
“Quando a gente fala de um evento como esse que movimenta a cidade, a gente tem a necessidade de promover a segurança. Principalmente nas vias especiais, a circulação das pessoas, então a gente está falando de todo o esforço que está sendo feito para que a gente consiga normalizar, ter ali as condições mínimas de circulação das pessoas, diminuindo o fluxo de carros e tudo mais feito pela Polícia Militar. Mas também a PM vai intensificar as condições para melhor, para que a gente possa adicionar segurança para todos”, sintetizou a Tenente Coronel Cláudia Moraes, porta-voz da Polícia Militar.
Treinamentos contínuos
O presidente do Instituto de Criminalística e Ciências Policiais da América Latina (Inscrim), José Ricardo Bandeira, ponderou que os treinamentos devem ser contínuos.
“É fundamental que o governo do Rio de Janeiro encontre um equilíbrio entre a preparação para eventos especiais e a sua atuação rotineira. É preciso investir em treinamentos contínuos, ferramentas de inteligência e investigação e valorização dos profissionais da segurança pública. Pois a segurança é um direito de todos os cidadãos e não pode ser negligenciada em nome de eventos pontuais, por mais importantes que sejam”, completou.
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