Prisão

Criador de grupo no Discord aguardava a polícia, diz delegado

Acusado ainda teria apagado os registros do computador

Segundo o delegado, as investigações apontam que o jovem é o criador de um dos grupos
Segundo o delegado, as investigações apontam que o jovem é o criador de um dos grupos |  Foto: Lucas Alvarenga
 

O delegado da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV) Luiz Henrique Marques, responsável pela prisão de Pedro Ricardo Conceição da Rocha, de 19 anos, afirmou que o jovem disse aos policiais no momento em que foi preso que aguardava por eles.

O acusado ainda teria apagado os registros de seu computador. Ele foi preso na segunda parte da operação Dark Room, nesta quarta-feira (4), em Teresópolis, na Região Serrana do Rio. 

Segundo o delegado, as investigações apontam que o jovem é o criador de um dos grupos do Discord. Ele é acusado de envolvimento com pornografia infantil, estupro de vulnerável e associação criminosa. 

“Formalmente, ele não prestou depoimento e preferiu ficar em silêncio. Mas, informalmente, ele confirmou ser o criador do grupo do Discord, que foi usado como principal plataforma pelos crimes que estão sendo investigado, que incluem estupro, tortura e outros crimes graves”, afirmou o delegado. 

O nickname do acusado no Discord é “King”, que significa rei em inglês. “Ele tem a maior liderança no grupo, criou o grupo, e dava os comandos mais absurdos. A investigação não está concluída, mas segue para buscar entender mais sobre a participação do preso no caso”, afirmou ele. 

O grupo em questão funcionava por todo o Brasil e fazia diversas vítimas. “Esses participantes do grupo recrutavam crianças e adolescentes para participar de um chat de bate-papo, onde é possível abrir um vídeo ao vivo, e, depois de arrecadar imagens comprometedoras desses adolescentes, eles os ameaçavam e faziam as vítimas cometerem vários tipos de atrocidade, como zoofilia, tentativa de suicídio, automutilação e outros”, disse o delegado 

O grupo é grande e outros envolvidos ainda devem ser identificados. “Outras vítimas do grupo devem denunciar e comparecer à delegacia”, pediu Luiz Henrique. 

A prisão de Pedro Ricardo foi possível após uma adolescente, vítima do grupo dele, o acusar sobre o ocorrido em um depoimento na delegacia. 

Nesta terça-feira (4), foi cumprido um mandado de prisão temporária contra Pedro e outros três de busca e apreensão contra outros acusados. 

“Ele não estava na casa dele, estava escondido na casa de um parente próximo e, ao ser surpreendido pela polícia, ele disse que já nos aguardava. Na residência dele, não foi apreendido nada”, afirmou. 

O jovem foi preso na operação Dark Room 2 (Quarto Escuro). A operação ocorreu nas cidades de Cachoeiras de Macacu e Teresópolis. 

A investigação, que começou em março, teve início após o compartilhamento de dados de inteligência entre a Polícia Federal e as Polícias Civis de diversos estados do país. A investigação concluiu que três servidores da plataforma eram utilizados por um grupo de jovens e adolescentes de várias regiões do país para cometerem atos de extrema violência contra animais e adolescentes, além de divulgarem pedofilia, zoofilia e fazerem apologia aberta ao racismo, nazismo e a misoginia. 

Vídeos publicados na plataforma, e obtidos durante a investigação, mostravam mutilações e sacrifícios de animais como parte de desafios impostos pelos criadores e administradores dos servidores como condição para membros ganharem cargos na comunidade, o que se traduzia principalmente em permissões e acesso às funções dentro do grupo. A maioria dessas ações era transmitida ao vivo em chamadas de vídeo para os integrantes dos servidores.  

Adolescentes também eram chantageadas e constrangidas a se tornarem escravas sexuais dos líderes e eram vítimas dos “estupros virtuais” que eram transmitidos ao vivo por meio de chamadas de vídeo para os integrantes do servidor. Durante a sessão de sadismo as vítimas eram xingadas, humilhadas e obrigadas a se despir e se automutilar. Ao comando do seu “dono” faziam cortes com navalha nos braços, pernas, seios, genitália e tudo mais que mandassem fazer. Muitos expectadores daquilo que chamavam de “panela” riam e vibravam com a crueldade, uma prática conhecida como “LULZ” (trolar e rir do sofrimento alheio).

Oriundas de várias regiões do Brasil, as vítimas eram escolhidas no próprio Discord, em perfis abertos das redes sociais ou até mesmo indicadas por outros integrantes do grupo. Utilizando engenharia social e pesquisas em sites de bancos de dados de consulta de crédito e até de hospitais, os líderes obtinham e reuniam informações pessoais delas, numa prática conhecida como “DOXX”. A partir daí iniciavam uma série de chantagens até conseguirem exercer domínio sobre a vítima.

Na primeira fase da operação, deflagrada na última terça-feira (27), dois adolescentes foram apreendidos. O de 17 anos capturado em Pedra de Guaratiba era considerado um dos principais líderes do grupo. Mais de 12 pessoas foram presas/apreendidas pela Polícia Federal e Polícias Civis dos estados desde o início da força-tarefa.

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