Polícia
Familiares de jovens mortos em Niterói pedem justiça
Publicada às 11h / Atualizada às 12h
Os familiares dos jovens Jefferson Bispo da Silva, de 15 anos, e Gabriel Machado Estevão, de 21 anos, se uniram num pedido de justiça, na manhã desta quarta-feira (6), no Serviço Médico Legal (SML) do Barreto, na Zona Norte de Niterói. Os rapazes foram mortos durante uma operação da Polícia Militar na comunidade do Santo Cristo, no Fonseca, na tarde de terça-feira (5).
O horário e local do sepultamento dos jovens ainda não foram definidos. Para o presidente da Associação dos Moradores Amigos do Santo Cristo, Begerson Reis, o episódio de violência é uma marca dolorosa para toda a comunidade, que se reuniu no início da noite de terça-feira (5), em um protesto que fechou parte das faixas da Alameda São Boaventura.
"Eles estavam no lugar errado e na hora errada e é até complicado dizer isso porque eles moram naquele local. Dentro das comunidades não existe abordagem humana, a polícia chega atirando e mais uma vez essa fatalidade aconteceu. Dessa vez o povo, já não aguentando mais, saiu para protestar e pedir às autoridades que olhem um pouco mais para a população carente. Hoje o que vemos são jovens negros, periféricos, que morrem a troco de nada", afirma.
Segundo familiares, Gabriel Estêvão tinha limitações intelectuais e atuava recolhendo recicláveis pela comunidade. Nesta terça-feira (5), inclusive, ele teria saído de casa com o carrinho para catar latinhas, como fazia quase todos os dias. A irmã do jovem, a dona de casa Jaqueline Machado, de 28 anos, conta que ele era o caçula da família.
"É muito triste isso tudo, sempre cuidei do meu menino depois que nossa mãe faleceu. Ele tinha problemas psicológicos, mas gostava de sair para trabalhar, para catar latinha. Estamos destruídos", disse.
Já a avó do adolescente, a aposentada Maria Luiza Coelho, de 62 anos, contou que estava na paróquia do bairro — onde faz um trabalho extra — na hora que ouviu os tiros. Ainda muito abalada com a situação, a moradora clama por justiça para o neto, do qual tinha a guarda após travar uma batalha judiciária.
"Fui almoçar e escutei um tiro. Naquele barulho eu senti um aperto no meu peito. Depois de um tempo, recebi uma ligação dizendo que ele tinha sido baleado e entrei em desespero. Eu lutei muito pela guarda dele, creio que não errei em nada. Eu quero justiça, que esses policiais saíssem, porque eles vão continuar matando. Eles sobem para matar, não para prender. Se prendessem meu neto, hoje estaria vendo ele. Agora eu vou ver ele no caixão", disse, aos prantos.
"Eu quero justiça"
Maria Luiza Coelho, avó de Jefferson.
Polícia
Em nota, a assessoria de imprensa da Polícia Militar informou que equipes do Batalhão de Niterói (12º BPM) estavam em patrulhamento pela comunidade Santo Cristo, quando foram atacadas a tiros.
Após o confronto, os dois foram encontrados feridos e o Corpo de Bombeiros foi acionado para realizar o socorro. No local, a equipe de designada constatou o óbito destes feridos e a perícia foi acionada.
Na ocorrência, houve apreensão de uma pistola com "kit rajada", uma granada, 163 trouxinhas de maconha e 196 pinos de cocaína.
Ainda segundo a PM, um procedimento interno de apuração também será instaurado pelo 12°BPM.
Investigação
O caso está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo (DHNSG). De acordo com o delegado Mário Lamblet, responsável pelo inquérito, dois fuzis de calibre 7.62 dos policiais foram apreendidos e serão encaminhados para a perícia técnica, assim como a pistola arrecadada na ocorrência.
"Vamos precisar ter em mãos o laudo da perícia. Já ouvimos alguns familiares, estamos analisando informações que estão chegando para complementar tudo. A gente pede que se alguém testemunhou ou tenha imagens que ajudem o caso, que compareça à delegacia. Os dois policiais que alegaram ter efetuado disparos também foram ouvidos e as armas foram apreendidas", afirmou.
Ainda segundo o delegado, nenhum dos dois jovens possuía antecedentes criminais. Entretanto, o adolescente de 15 anos já havia sido citado em uma ocorrência registrada na Delegacia de Alcântara (74ª DP), na época em que tinha apenas 10 anos.
"Ele quando ainda era criança teve uma ocorrência na delegacia de Alcântara, que envolvia uma tentativa de furto a um mercado. Mas pela idade na época não pode se dizer que ele tinha passagem pela Polícia. Estamos investigando todos os fatos para esclarecer o caso", explicou.
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