Concessão
João Pedro: policiais envolvidos voltarão a atuar em operações
Medidas cautelares contra os agentes são revogadas pela Justiça
A Justiça decidiu, nesta quarta-feira (13), em audiência realizada no Fórum Patrícia Acioli, no Colubandê, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, revogar as medidas cautelares contra os agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil, Mauro José Gonçalves, Maxwell Pereira e Fernando de Brito Meister, envolvidos na morte do adolescente João Pedro Mattos Pinto, durante operação policial no bairro do Salgueiro em 2020. Com a decisão, os acusados poderão voltar a participar de operações policiais.
A defesa dos policiais tenta reverter também a decisão da Justiça de homicídio doloso (quando há intenção de matar) pelo qual respondem por culposo, quando não há dolo. A Justiça ainda vai decidir ainda, nos próximos meses, se os acusados pelo crime vão a júri popular. Todos os envolvidos têm mais de 20 anos de trabalho na polícia e não possuem antecedentes criminais.
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Esta foi a 6ª audiência realizada do caso e, agora, somente três anos depois, a Justiça ouviu os policiais envolvidos no caso. Em depoimento, os agentes afirmaram que chegaram ao local de helicóptero e foram recebidos a tiros. Os agentes da Core e da Polícia Federal tinham como alvo a casa dos traficantes Faustão, Hello Kitty e Vinte Anos, que estavam escondidos no Salgueiro.
No entanto, ao desembarcarem do helicóptero em um campo de futebol próximo, o policial Mauro José Gonçalves afirmou que viu criminosos armados entrarem numa casa, onde estaria João Pedro e outros cinco adolescentes, e por isso, o imóvel, que não estava nos planos, virou alvo dos agentes.
Os envolvidos afirmaram ainda que, ao entrarem no quintal do imóvel, foram recebidos com muitos tiros e que revidaram. Porém eles também relataram que só efetivaram os disparos quando tinham os criminosos em vista. Um dos traficantes chegou a jogar uma granada em direção aos policiais, segundo o depoimento.
Ainda segundo os policiais civis, três criminosos entraram na casa. Sendo que um fugiu pelos fundos com a ajuda de uma escada, outro pelo lado esquerdo, e o último entrou no imóvel, pulou a janela de um dos quartos, depois subiu o muro e fugiu para uma mata que tinha atrás da casa.
Após cessar fogo, os policiais Mauro e Fernando revelaram que entraram na casa e encontraram os adolescentes com os braços para o alto como movimento de rendição. Os policiais relataram que não atiraram nessa hora e que os ajudaram a retirá-los. Foi quando Mauro percebeu que João estava ferido e o levou para o helicópetro para que pudesse ser levado a um hospital. João Pedro, com 14 anos à época, não resistiu aos ferimentos e morreu.
De acordo com o Ministério Público e a perícia, os policiais tentaram mudar a cena do crime para que eles não fossem condenados. No entanto, todos eles negaram em depoimento. Segundo os envolvidos, a pistola encontrada tinha a numeração raspada e não pertencia à coorporação.
João estava dentro da casa de um tio com mais cinco amigos, quando foi atingindo por um disparo de fuzil nas costas. Na perícia realizada, ficou constatado que o imóvel tinha mais de 70 marcas de tiro.
No final dos depoimentos, os policiais lamentaram a morte de João Pedro e trataram o caso como uma tragédia.
"Hoje em dia nós vivemos uma luta diária contra o tráfico de drogas. Nem eu, nem nenhum policial sai de casa com a intenção de matar. Nós somos treinados para ocasiões como essa. Infelizmente, algumas vezes, as operações têm suas consequências. Mas na maioria das veze causadas pelos traficantes. O que a aconteceu com o João Pedro foi uma tragédia e eu lamento muito. Mas tenho certeza que nós não o matamos", declarou Maxwell.
Depoimento de testemunha
O policial civil Fabio Vieira Rodrigues foi a única testemunha de defesa dos reús Mauro José Gonçalves, Maxwell Pereira e Fernando de Brito Meiste, que depôs na audiência desta quarta. A testemunha participou através de vídeoconferência.
Segundo Fabio Vieira, que estava na aeronave que transportou João Pedro, apenas um criminoso foi visto correndo para a mata em direção à casa onde o adolescente estava.
"Eu ouvi que criminosos haviam corrido para trás da casa. Eu estava do lado esquerdo da aeronave e só vi um criminoso com arma longa", disse.
Fábio contou ainda que a equipe que estava na aeronave viu os outros policiais civis na casa onde João Pedro foi baleado.
"Foi dada a ordem para aterrissar no campo. Nesse momento, ainda não estávamos sabendo que havia algum baleado, mas vimos uma pessoa sendo socorrida em um carro indo em direção ao local onde iríamos pousar a aeronave. Abri espaço dentro do helicóptero e socorremos João Pedro para o heliponto da Lagoa, pois é padrão nosso ir pra lá quando estamos socorrendo qualquer pessoa", contou.
O depoimento de Fábio foi o primeiro e durou cerca de 50 minutos. Os pais de João Pedro acompanharam todos os depoimentos e não quiseram comentar a decisão da Justiça no final da audiência.
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