Justiça
'Negligência', diz viúva de sargento morto em treinamento do Bope
Segundo a mulher, o amigo da vítima confirmou o descaso
A enfermeira Viviane Rocha, de 44 anos, luta por justiça após a morte de seu marido, o sargento do Batalhão de Operações Especiais (Bope), Jaime José de Faria Neto, de 45, que faleceu no último dia 15 durante uma atividade militar em Ribeirão das Lajes, no Sul Fluminense.
Segundo a mulher, o policial militar, que participava do Curso de Operações Especiais (COEsp), ficou submerso por 40 minutos, o que, de acordo com ela, configurou negligência por parte dos instrutores.
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“Eu acho que foi negligência sim. Só não tenho certeza porque não estava lá”, desabafou Viviane em entrevista ao ENFOCO, que ainda revelou que um amigo de Jaime confirmou a versão de descaso. Segundo ela, o colega relatou que a ausência do militar foi percebida apenas durante a contagem dos alunos, um indício de negligência.
Era um pai, um marido, um filho exemplar. Meu marido foi um herói!
A moradora da Praia de Mauá, em Magé, na Baixada Fluminense, busca respostas após a perda do marido que, segundo ela, "era um integrante dedicado do Bope por 15 anos e da Polícia Militar há mais de 22". Jaime deixou também um filho de 8 anos.
Viviane Rocha contou que o sargento iniciou o COEsp no início deste mês, após um ano de preparação intensa que incluía acompanhamento médico, exames trimestrais e treinos rigorosos, como natação e trilhas nas serras de Petrópolis e Teresópolis, Região Serrana, o que indica para a enfermeira que o marido tinha saúde para acompanhar a turma.
Ele era excelente no que fazia. Ele era muito bom. Ele queria se superar a cada dia
Curso para ser um 'caveira'
O PM decidiu fazer o COEsp em busca de reconhecimento dentro da corporação que, segundo Viviane, discrimina os que ingressam pelo Curso de Ações Táticas (CAT), que era o caso do militar, em relação aos que passam pelo COEsp. “Por ele amar tanto essa instituição, ele decidiu fazer o COEsp, que é o ‘caveira’”, disse Viviane.
Apesar de ciente dos desafios do curso, a enfermeira acreditava na segurança proporcionada pelo Estado. “A única certeza que eu tinha é que eles iriam prezar pela vida do meu esposo”.
Contudo, essa certeza foi destruída. Jaime teve uma crise de tosse antes de mergulhar, mas continuou a atividade após afirmar estar bem, uma decisão que Viviane critica veementemente: “Quem precisa ter essa visão clínica é o instrutor”.
A esposa foi notificada da morte do marido em casa, com a informação de que ele havia se afogado e ficado submerso por 40 minutos.
“Eles poderiam ter parado o meu marido a partir da tosse. Ele não ia morrer porque interrompeu o curso", lamenta, que também não pode reconhecer o corpo devido às condições do cadáver.
Era um pai, um marido, um filho exemplar. Como fazem isso com o filho dos outros? Meu marido foi um herói!
O advogado da família, Joab Gama, acompanha o processo que investiga o caso tanto na Polícia Militar quanto na Polícia Civil.
O que dizem as Polícias Militar e Civil
A Polícia Militar não respondeu aos questionamentos feitos sobre o andamento da investigação e a possível causa do afogamento do militar. Em nota, a corporação lamentou o falecimento do sargento e limitou-se a dizer que há uma apuração em curso.
"O militar participava de uma instrução do curso, em meio aquático, quando se sentiu mal e foi socorrido pela equipe médica do GESAR, que estava no local, para o hospital de Piraí, onde foi constatado o óbito. Um procedimento apuratório foi instaurado para analisar as circunstâncias do fato".
Já a Polícia Civil disse que detalhes do caso deveriam ser solicitados à Polícia Militar.
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