Violência
Polícia identifica agressores de mulher trans em Niterói
Nycolle Veldeck foi alvejada na última segunda-feira (21)
A Polícia Civil já identificou os homens suspeitos de atirar na mulher trans Nycolle Dellveck, de 25 anos, em Niterói. Pai e filho são mototaxistas. Eles atuam próximo ao local onde a jovem trabalhava, por isso, todos já se conheciam.
Segundo as investigações, o homem que atirou em Nycolle seria Marciano da Silva Marques e o segundo envolvido seria o filho dele, de 17 anos. As imagens dos acusados já estão nas mãos da polícia.
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Ele parou a moto e já mostrou a arma e disse que eu gostava de fazer macumba, e deu o tiro
Dellveck foi baleada no rosto na última segunda-feira (21), na Rua São João, no Centro, e ficou internada no Hospital Estadual Azevedo Lima (Heal) por dois dias, devido a gravidade dos ferimentos. A situação teria ocorrido por intolerância religiosa.
Nesta quinta-feira (24), a vítima prestou depoimento na 76ª DP (Centro), onde o caso segue em investigação. A bala que atingiu Nycolle segue alojada entre o pescoço dela e o maxilar.
Ao ENFOCO, Nycolle contou que no sábado (19) ela discutiu com um dos acusados após ele dizer que não iria levar a minha amiga dela na moto. "Eles falaram que não levavam “viado” na moto. A gente estava saindo do trabalho para ir embora”, disse ela.
A partir daí, conforme a vítima, começou o primeiro desentendimento. E Nycolle e a amiga foram embora com outras pessoas.
Segundo o relato da jovem, já no domingo (20), um dos acusados mandou mensagem para ela, que não se sentiu confortável com a indagação dele.
“Ele perguntou se eu e minha amiga iríamos para a rua. Eu catei a maldade dele e disse que não iria para a rua, que estava em Copacabana. Na segunda (21), eu desci para a rua para trabalhar. Aí ele me encontrou e falou que tínhamos que desenrolar essa discussão de domingo e eu disse: 'Peraí, que eu tenho que acender um cigarro na encruzilhada para começar o dia de trabalho'".
Na sequência, de acordo com Nycolle, o acusado teria iniciado os insultos contra a religião dela, a umbanda, e em seguida feito disparos de arma de fogo.
"Ele perguntou se eu gostava de fazer macumba e indagou se eu estava bem protegida. Foi quando eu disse que: 'Graças a Deus e aos meus orixás eu estou protegida'. Ele deu a volta, foi no ponto de mototáxi, colocou o filho dele para pilotar a moto e veio na garupa. Eu estava agachada acendendo o cigarro, ele parou a moto e já mostrou a arma e disse que eu gostava de fazer macumba, e deu o tiro”, contou a jovem.
Nycolle disse que o acusado atirou várias vezes contra ela, mas por conseguir desviar, foi acertada por um disparo.
“Quando ele deu o tiro, eu corri, consegui levantar e correr. Nessa, ele tentou dar outro tiro. Foi quando o filho dele virou e falou que a outra estava ali e ele queria dar o tiro na minha amiga. Foi quando eu comecei a gritar e a praça toda gritou e eles deram fuga”, afirmou.
Mesmo no hospital, Nycolle recebeu mensagens do acusado. “Ele falou para amigos que o que ele não terminou, ele vai terminar”, revelou.
Nycolle morou por muito tempo em Copacabana. Ela estava retornando para Niterói para ficar próxima da família e atualmente mora com a avó em São Gonçalo.
Dores
A irmã dela, Gabrielly Pinto de Sá, conta que Nycolle sente muitas dores no rosto por causa do ocorrido.
“Eu recebi a notícia quando estava em casa. Um mototáxi que trabalha no mesmo ponto que eles disse que soube que a Nycolle tinha sido baleada no rosto e perguntou o que tinha ocorrido. Aí eu liguei pro telefone da minha irmã. As amigas dela atenderam e deram a notícia de que ela estava no hospital. Nós vimos ela toda ensanguentada. Essa situação é difícil, a Nycolle sente muita dor no rosto e chora em casa”, disse a estudante de 23 anos.
Nycolle é a mais velha de quatro irmãos. Ela tem um irmão gêmeo.
“Para a gente, esse preconceito é novo. Na nossa família, aonde moramos, na minha família, meus primos, sempre aceitamos. Ela sabe sair e chegar nos lugares. Não imaginei jamais que isso fosse ocorrer com ela. Com esse cara mesmo, ela tinha amizade”, disse a irmã da vítima.
A família teme pelo o que o acusado pode fazer se não for preso.
“Para mim, é difícil. Até eu mesma estou com medo, de ele não conseguir fazer com ela e fazer com a gente. Quero justiça, que ele seja preso”, afirmou a irmã Gabrielly Pinto.
Livres
Segundo a vítima Nycolle Dellveck, de 25 anos, os dois acusados continuam trabalhando normalmente e andando de moto pelo Centro de Niterói, na rua onde ocorreu o crime.
A PM informou, em nota, que tomou conhecimento do caso na segunda-feira (21) quando policiais do 12º BPM (Niterói), foram acionados para verificar a entrada de uma vítima de disparo de arma de fogo no Hospital Azevedo Lima. A ocorrência foi encaminhada à 78ª DP (Fonseca) antes de ser transferida para a delegacia do Centro de Niterói.
Suporte
A Coordenadoria de Defesa dos Direitos Difusos e Enfrentamento à Intolerância Religiosa (Codir) da Prefeitura de Niterói também está acompanhando o caso, conforme o subsecretário Felipe Carvalho, de 36 anos, que tem histórico de militante pelos movimentos sociais.
“Nosso órgão cuida da pauta LGBTQIA+ e de intolerância religiosa no município. Recebemos a denúncia na segunda-feira à noite por uma liderança travesti que já faz um trabalho conosco há tempos e, a partir daí, prestamos suporte a vítima e vendo o que podemos fazer enquanto poder público”, afirmou ele.
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