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Polícia tenta impedir a transformação de Itaboraí em faroeste de bandidos

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Assassinatos no último dia 12 revelam o movimento da crescente onda de criminosos que avançam por diferentes bairros da cidade. Foto: Marcelo Tavares

Conhecido por ser um município pacato, Itaboraí nunca foi uma das preferências do crime organizado. Acontece que nos últimos meses, um forte investimento feito pela organização criminosa Comando Vermelho (CV), principal facção criminosa do estado, vem dando novo rumo para diversas localidades do município, que passaram a contar com a presença diária de criminosos armados, ameaçando e executando qualquer chance de retorno de grupos paramilitares, que, há anos, controlavam regiões como Visconde e Porto das Caixas. Mudam as lideranças opressoras, mas se mantém a rotina do medo e extorsão.

"O Comando Vermelho investiu forte em Itaboraí e os criminosos são muito agressivos. Agem com brutalidade, matam sem qualquer sentimento e buscam expandir o seu território. Os relatos mostram execuções desse grupo pelo simples motivo de encontrarem nas vítimas algum apreço com grupos paramiliares. E não trata-se apenas de bandidos da cidade, são criminosos de outros municípios e até estados do Norte e Nordeste do país"

Norma Lacerda, titular da Delegacia de Itaboraí (71ªDP)

De acordo com a delegada, com apoio de traficantes do Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, criminosos do CV de Itaboraí conseguiram, nos últimos meses, expulsar milicianos que atuavam nessas regiões, formando uma espécie de 'condomínio fechado'. Logo após chegar na cidade, o CV se espalhou como uma praga para aumentar a sua lucratividade, através de tráfico de drogas, além de roubos de veículos, cargas e pedestres.

Norma Lacerda
Polícia vem trabalhando na investigação e localização do 'Cangaço do Comando" em Itaboraí. Foto: Karina Cruz

"É dificil dizer o que atraiu esses criminosos para Itaboraí. Nós acreditamos que seja a facilidade para se esconder em caso de incursões policiais em razão da vasta vegetação existente em Itaboraí. Desde que chegaram nessas regiões como Porto das Caixas, Visconde e áreas próximas, eles vem agindo de forma truculenta e atuando com forte armamento, como fuzis e outras armas de grosso calibre. Vários são os relatos da atuação desenfreada desses marginais, que ameaçam, matam e tentam avançar sobre Itaboraí. São traficantes de diversas partes do Rio e de outros Estados"

Tráfico x Milícia

Segundo a polícia, após o avanço dos traficantes em diferentes regiões, não foram percebidas novas ações de milicianos, que teriam sido expulsos do município pelo forte investimento do CV. A queda da milícia em Itaboraí deve-se principalmente a prisão de milicianos, nos últimos dois anos. O líder do grupo paramilitar atuante na cidade, conhecido como 'Edu Negão', foi preso por policiais da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (DRACO). Contra o chefe da milícia de Itaboraí, constavam dois mandados de prisão: homicídio e organização criminosa. Já contra a companheira dele, que também foi presa na ação, constavam três mandados de prisão: organização criminosa, homicídio e milícia privada.

Itaboraí, faroeste de bandidos
Casal que chefiava a milícia de Itaboraí foi preso no ano passado. Foto: Portal dos Procurados

Outros integrantes de grupos paramilitares foram presos, em maio deste ano, por policiais militares do Batalhão de Itaboraí, no bairro Visconde. Uma dessas ações retirou sete acusados das ruas, no dia 21 de maio. Com os criminosos, a polícia apreendeu três pistolas, uma submetralhadora, duas granadas, um revólver calibre 38. Dois veículos que os criminosos utilizavam para fazer as cobranças também foram apreendidos.

Cangaço do Comando

Aproveitando a queda dos rivais, o Comando Vermelho investiu no envio de soldados de outras regiões e a tática teria dado certo.

"Desde o avanço desses traficantes aqui em Itaboraí, identificamos que não existem mais aquelas ações de grupos paramilitares, principalmente nos bairros Visconde, Porto das Caixas e áreas próximas. Costumamos chamar esses traficantes vindos de outras regiões do país como o 'Cangaço do Comando', em razão das suas origens e costumes"

São Joaquim, a mina de sangue

Vídeo flagrou o ataque criminoso que resultou em mortes e feridos. Foto: reprodução

Uma das regiões que a organização criminosa trabalha para conflagrar é o bairro São Joaquim, palco da chacina ocorrida no último domingo (12), que resultou em cinco mortes, inclusive do policial civil e ex-vereador de Itaboraí Wellington Emerick, de 59 anos. O agente, indiciado em nove inquéritos da Divisão de Homicídios de Niterói, Itaboraí e São Gonçalo por suposta ligação com a milícia, era tratado como ameaça para os traficantes.

“Ontem isso aqui ferveu. A pior sensação foi o medo depois dos tiros. Ninguém sabia o que poderia acontecer, se eles iriam voltar. Quem morreu estava na padaria bebendo uma cerveja e alguns estavam numa partida de futebol no campo. Aqui nunca foi dessa forma, ficamos com muito medo”

Moradora há 30 anos no bairro, que preferiu ter a identidade preservada

Prova do interesse dos criminosos ligados à facção no bairro São Joaquim foi a mensagem que circulou nas redes sociais em tom ameaçador.

'Só um aviso pro bairro São Joaquim. Nós já matou marmotinha, o resto do cara vai cair tudo. Isso só foi o começo da guerra, nós vem falando há muito tempo que nós vai tomar esse bairro, a mina de dinheiro. Eles estão ligado que todos do bairro de vocês vem em nossas favelas do comando comprar nossas drogas. Então, pode deixar avisado aos demais miliciano, que nós vai entrar, mas não vai avisar nem dia e nem horário [sic].

CV, em mensagem circulada pelas redes sociais

Após a mensagem chegar à Polícia Militar, o Batalhão de Itaboraí (35ºBPM) instaurou uma base no bairro São Joaquim para coibir o possível avanço de criminosos no bairro, considerado como tranquilo e sem qualquer movimentação do crime, segundo moradores. A ação, iniciada na última terça-feira (14), visa combater crimes violentos na região, coibindo furtos, roubos e, principalmente, ameaças que vem sendo feitas por criminosos contra comerciantes e empresários daquela região.

Gilbert dos Santos
Comando do 35ºBPM reforçou patrulhamento para impedir o avanço de criminosos. Foto: Karina Cruz

"O principal objetivo da instalação dessa base é garantir a segurança e tranquilidade para funcionamento de todo o comércio daquela região, impedindo a ação de marginais da lei. Eles podem ter certeza que a Polícia Militar atua e continuará atuando para combater-los em prol da população de bem"

Gilbert dos Santos, tenente-coronel comandante do 35º BPM

Brutalidade e desaparecidos

Edinalva Rodrigues de Almeida
Comerciante está desaparecida desde o dia 14 de agosto. Foto: Arquivo/Lucas Benevides

A chegada dos novos criminosos em Itaboraí já fez a polícia detectar duas ações criminosas que mostram a brutalidade e o modus operandi dos bandidos.

Três mulheres teriam sido mortas por integrantes do Comando Vermelho, entre agosto e novembro deste ano, por apresentarem ameaça aos interesses do crime organizado. Uma delas é a comerciante Edinalva Rodrigues de Almeida, de 47 anos, desaparecida desde 14 de agosto. Ela teria sido assassinada por ordem do bandido conhecido como 'Bigode'. O comércio da vítima também foi roubado e familiares e vizinhos foram intimidados para evitar denúncias.

Outras duas mulheres teriam sido executadas por traficantes, em novembro deste ano, após os traficantes descobrirem que uma delas era integrante de um conhecido grupo de extermínio em Itaboraí, responsável por dezenas de mortes em 2019. As vítimas foram levadas para uma área de mata de Visconde, sendo executadas friamente por integrantes de um grupo, liderado por um criminoso conhecido como Silvinho.

Semanas após ambas as denúncias das ações truculentas dos criminosos, os corpos das três mulheres ainda não foram encontrados e os casos seguem sob investigação da Divisão de Homicídios de Niterói, Itaboraí e São Gonçalo (DHNISG), que informou apenas que as 'investigações seguem em andamento para identificar os criminosos responsáveis pelas ações criminosas e detectar a forma de ação desses traficantes'.

Itaboraí e os 26 ladrões

Junto dos "novos" atuantes em Itaboraí, a Delegacia de Itaboraí (71ªDP) identificou a participação de 26 criminosos, responsáveis pelo tráfico de drogas em Itaboraí. Alguns deles são velhos conhecidos da polícia como o traficante, identificado como Maurício Pereira Marques Filho, o Branquinho da Reta Velha, apontado pela polícia como líder solto na comunidade, principal favela da cidade. Ele foi designado por um criminoso, conhecido como Dodô - o 'dono' da comunidade - preso desde 2004, para osquestrar e cuidar do tráfico de drogas no principal reduto do Comando Vermelho em Itaboraí.

Considera a principal localidade com atuação de criminosos na cidade, a Reta Velha abriga outros cinco bandidos: Bi, Dudu, Peixe e Sagaz, apontados pela polícia como gerentes do tráfico de drogas na localidade, que possui lucratividade superior a R$ 100 mil mensal.

Reta Velha, em Itaboraí
Reta Velha é a principal localidade de atuação de criminosos em Itaboraí. Foto: Marcelo Tavares

Já sobre os bairros de Visconde, Areal e Porto das Caixas - principal área de investimento recente dos criminosos — a polícia identificou a participação de três criminosos que, apesar de presos, orquestram toda a ação dos marginais na região. Tratam-se de bandidos, conhecidos como Paiol, Silvinho e Sabino ou Careca. Um outro criminoso que, segundo a polícia, detém importante função no crime em Itaboraí é Júlio Cesar Simão, o Magrinho da Viúva. Preso esse ano, ele é apontado pelos investigadores como o líder de comunidades no bairro Apollo, bairro limitrofe entre São Gonçalo e Itaboraí.

Já em Cabuçu e Penedo, áreas localizadas na parte rural da cidade, os responsáveis pelo tráfico de drogas são conhecidos como Pônei e Duduzinho. Eles são procurados pela polícia pela atuação no crime organizado. No bairro Ampliação, quem controla as atividades criminosas são os traficantes Macarrão, Playboy, Sem Batata e Baton. Já no bairro Vila Gabriela, um ex-traficante da Reta Velha, conhecido como Orelha da Reta, é apontado pela polícia, mesmo preso, como peça chave no crime local.

Nos bairros Marambaia e Gebara são os traficantes Liu e Padrinho os donos do jogo. Uma outra localidade importante para o funcionamento do tráfico de drogas é Itambi. Lá, sete integrantes do Comando Vermelho são os responsáveis por diversas ações criminosas, entre a venda de entorpecentes e roubos. São eles os traficantes conhecidos como Sombrão, Gordo, Morobá, DR, Chupa Bife, Nona e Júnior.

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