Imbróglio
Queima de arquivo em escola de Niterói vira caso de polícia
Caso foi denunciado por pai de aluno que alega crime na prática
Pais e responsáveis de alunos do Centro Educacional de Niterói (Centrinho) denunciam que o acervo com os arquivos dos estudantes foram destruídos pelo casal que assumiu a gestão da unidade de ensino. A atual gestão confirmou a acusação e o caso foi parar na delegacia, sendo registrado na 77ª DP (Icaraí).
O administrador de empresas Guilherme Brondi, de 44 anos, tem um filho que estuda no local, e outro que já se formou. Segundo ele, o mais velho, que já finalizou os estudos, está encontrando dificuldades em se matricular na faculdade por conta da falta do histórico escolar.
Nos últimos dois anos comecei a perceber uma alteração da metodologia de ensino da escola. Eu vi caixas box jogadas no fundo da rua e suspeitei que tivessem dado fins em documentos
"Eu vi caixas box jogadas no fundo da rua onde fica a escola. Suspeitei que tivessem dado fins em documentos, porque o meu filho mais velho, que estudou muitos anos na escola, precisou do histórico escolar para fazer matrícula na UFF e não conseguiu. Eles [o casal] alegaram que o documento estava com a Fubrae, só que todos sabiam que os documentos estavam na escola", explicou.
Apesar dos problemas, a atual direção da unidade diz que as aulas estão normais
A gestão do colégio pertencia à Fundação Brasileira de Educação (Fubrae), mas, devido a um contrato de cogestão com a Empresa Sistema Educacional CEM Ltda, a unidade foi repassada para o casal. Desde então, o responsável começou a perceber mudanças na unidade. Apesar dos problemas, a atual direção da unidade diz que as aulas estão normais.
"Nos últimos dois anos comecei a perceber uma alteração da metodologia de ensino da escola, das filosofias construtivistas e até do comportamento dos profissionais. Logo o Centrinho, que é reconhecidamente, em Niterói, uma escola diferenciada pela liberdade de pensamentos e expressões dos alunos, pelo incentivo ao tratamento igualitário e humanizado", ressaltou.
A Fubrae retomou o controle da instituição na última quinta-feira (25), afastando o casal das atividades administrativas da unidade. Mas, segundo os responsáveis, os antigos gestores possuem as senhas e acessos de redes sociais, o que ainda gera preocupação.
A Polícia Civil informou que os envolvidos serão ouvidos e diligências serão realizadas para esclarecimento dos fatos.
O que a unidade diz
Funcionários da atual administração, que preferiram não se identificar, confirmaram as denúncias e a queima dos documentos no pátio da escola.
Ao ENFOCO, a direção e os advogados do colégio informaram que, para superar um momento de crise, foi necessário realizar um contrato de cogestão com a empresa citada.
"Em 2007, a fundação do Centrinho estava passando por problemas financeiros e pensamos o seguinte: vamos chamar um investidor, uma empresa, para entrar aqui e ajudar a gente a pagar as dívidas, colocar mais alunos, para conseguir equilibrar as contas. E aí chamamos uma empresa, Empresa Sistema Educacional CEM. Fizemos esse contrato com essa empresa. Então, o objetivo era só prestar esse serviço para a Fundação", contextualizou o advogado da unidade, Luiz Antônio de Lemos, sobre o motivo da empresa ter atuado em conjunto com a unidade.
O objetivo da contratação da empresa, ainda de acordo com o advogado, era prestar auxílio e ajudar a superar um período complicado para a gestão, e que os problemas começaram a ficar mais evidentes em 2017, quando o Sistema Educacional CEM foi vendido para o então casal citado.
"Só descobrimos que a empresa foi vendida para esse pessoal quando os funcionários chegaram e eles estavam aqui dentro. A partir de 2017, para 2018, os problemas começaram a acontecer. Eles expulsaram a diretora daqui, ela não podia mais entrar, pôr os pés aqui, e depois foi a nossa equipe técnica", continuou.
Em 2018, a equipe da Fubrae entrou com um processo judicial para rescindir o contrato de cogestão e assumir o controle, novamente, do colégio. Por meio de nota, a atual direção lamentou o ocorrido e pediu desculpas aos pais, alunos, colaboradores e funcionários da escola 'pelo desconforto e insegurança' que o contrato trouxe nos últimos anos.
"Em 25 de agosto, quando retomamos o colégio e conseguimos novamente ingressar em suas dependências, nos deparamos com um cenário triste, a escola não era mais o nosso Centrinho, muito embora a empresa que realizava a cogestão tivesse nos usurpado esse nome", diz a nota.
Acervo queimado
Sobre a queima do acervo dos arquivos dos alunos, os gestores informaram que após a retomada e uma busca complexa pela unidade, não encontraram a documentação. Foi então que um funcionário percebeu papéis destruídos no pátio da unidade.
"Nós verificamos e identificamos que tinha histórico escolar, a vida acadêmica toda dos alunos da Fubrae. A gente não tem dimensão ainda, estamos encontrando documentos. Fomos na delegacia e fizemos o B.O no mesmo dia", relatou outra advogada.
Sobre a insegurança em relação à senhas de sistema, a direção disse já ter tomado as medidas necessárias de precaução para garantir o acesso de todos os alunos.
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