Crime
Rainha de bateria da Imperatriz denuncia caso de racismo
Jovem foi alvo de comentários ofensivos na internet
Maria Mariá, a rainha de bateria da Imperatriz Leopoldinense mais jovem da agremiação, de 20 anos, esteve na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) na manhã de quarta-feira (27). Junta de seu advogado, ela registrou um boletim de ocorrência em relação a ataques racistas e misóginos que sofreu online.
A jovem, que está no seu segundo ano como rainha de bateria, afirmou ter sido alvo de insultos por parte de internautas após postar um vídeo dela sambando no último sábado (23), durante as eliminatórias de samba-enredo para o Carnaval de 2024.
No vídeo, Maria Mariá usava uma longa trança que ocasionalmente roçava em algumas das ritmistas próximas a ela. Uma internauta reagiu dizendo: "Incrível como essas minas adoram jogar esses cabelos de boneca velha na cara dos outros", reagiu uma internauta.
Além disso, algumas pessoas sugeriram que a rainha de bateria estava atrapalhando os integrantes que tocavam chocalho devido aos movimentos de suas tranças.
"Se eu fosse (integrante) do chocalho eu acenderia um isqueiro na trança dela e ela não ia nem ver de onde veio o fogo", escreveu uma pessoa na publicação. "Eu puxava essas tranças feias ou ela ia conhecer o som do chocalho", disse outra.
Maria Mariá explicou que decidiu relatar o incidente à delegacia porque não deseja que esse tipo de crime passe impune. Ela destacou que, como uma mulher negra, já enfrentou diversas formas de racismo, mas considerou este episódio particularmente grave, uma vez que se originou de um vídeo que se tornou viral na internet, acumulando mais de 2 milhões de visualizações até o momento.
“Estou aqui para registrar tudo e tomar todas as medidas legais porque as pessoas acham que podem falar (o que bem entenderem) e nada vai acontecer. Mas não é bem assim. Espero que essas pessoas aprendam que racismo é crime sim e que não se repita. O perigoso é achar que a pessoa vai ser racista e sairá impune. Não é bem assim”, disse a rainha de bateria.
Após deixar a delegacia, o advogado Leonardo Orlando Teixeira da Silva Vicente, responsável pela defesa da rainha de bateria, enfatizou que os ataques direcionados à sua cliente, relacionados às suas tranças afro, já configuram um crime de discriminação racial.
“Agora a Polícia Civil vai tentar identificar os autores para que eles possam responder criminalmente. Também quando forem identificados, a gente vai ajuizar uma ação civil para pedir indenização pelo crime cometido, afirmou o advogado.
A polícia concordou com essa interpretação e vai investigar o caso como um crime de intolerância étnica, racial e de cor, conforme consta no boletim de ocorrência. A defesa da jovem manifestou o desejo de responsabilizar civilmente os autores, devido ao constrangimento que Maria Mariá passou.
A Imperatriz Leopoldinense divulgou uma nota oficial em apoio à rainha de bateria e repudiando veementemente os ataques sofridos por essa integrante da agremiação.
"O conhecimento e a luta contra qualquer forma de racismo, seja ele individual, estrutural, institucional ou ambiental, são pautas urgentes. Como característica singular, a humanidade nos une através da pluraridade. O Carnaval, por si só, une os povos em festa, amor e empatia", diz o texto.
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