Polícia

Reta Velha, em Itaboraí, na preferência de bandidos do Norte

Prática comum entre as décadas de 80 e 90, o êxodo de moradores das regiões Norte e Nordeste para o Sudeste do país, em busca de melhores oportunidades de trabalho, é uma prática que acontece até os dias de hoje. Segundo última pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca 1,5 milhão de migrantes estão apenas no estado do Rio. Acontece que, apesar da maioria buscar o ‘ganha-pão’ de forma honesta, existem aqueles que seguem por outro caminho, o da criminalidade.

Bandidos turistas transformaram comunidades do Rio de Janeiro em hotéis, refúgio para escapar de operações policiais e angariar recursos através do tráfico de drogas. Um dos locais afetados por essa migração são os ‘paraíbas’ - como são chamados - na comunidade da Reta Velha, em Itaboraí, que, além de já ser conhecida como a principal favela da cidade, estaria servindo de ‘hotel’ para os criminosos de outras regiões do país.

 Sai da Reta

Imagem ilustrativa da imagem Reta Velha, em Itaboraí, na preferência de bandidos do Norte
Barricadas são comuns nos acessos a comunidades em Itaboraí. Foto: Marcelo Tavares

Recentemente, um vídeo circulou nas redes sociais mostrando um desfile de bandidos vindos da Região Nordeste em uma área de mata localizada na comunidade da Reta Velha. Nas filmagens feitas pelos próprios criminosos, eles ostentam armas de grosso calibre e realizam as próprias refeições escondidos na mata. Controlada pela facção criminosa Comando Vermelho (CV), o principal grupo de traficantes existente no Rio de Janeiro, a localidade é conhecida pelas principais atividades criminosas da cidade como roubo de veículos, além de possuírem alto poderio bélico.

De acordo com investigação da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da Polícia Civil, criminosos de estados como Amazonas, Paraíba, Pará e Ceará também se dividem entre os complexos da Maré e do Alemão, no Rio, e o do Salgueiro, em São Gonçalo.

Segundo o delegado adjunto da especializada, Rodrigo Coelho, o principal objetivo desses bandidos é se esconder em locais de difícil acesso de operações policiais e arrecadar recursos auxiliando as lideranças do tráfico nessas localidades.

“Estão se escondendo em áreas dominadas pelo Comando Vermelho (CV) em uma espécie de consórcio entre os grupos criminosos existentes lá e a principal facção criminosa do Rio. Isso inclui comunidades do Rio de Janeiro, São Gonçalo, além de outras cidades menores”

Os policiais investigam a origem do bando turista que atua na Reta Velha, em Itaboraí. A hipótese inicial mostra que, pelo menos, 30 bandidos sejam oriundos do Pará, na Região Norte.

Só aprende o que não presta!

Ainda de acordo com investigação da Delegacia de Itaboraí (71ªDP), o tráfico da Reta Velha, assim como em outras comunidades do município, estaria agindo como milícia cobrando taxas ilegais por serviços como internet, TV a cabo e telefonia. Além disso, estariam assassinando e escondendo corpos de vítimas ligadas a antigos grupos paramilitares que atuavam na região, como o bairro Visconde. Um desses casos aconteceu com uma comerciante, em agosto. Ela foi executada por traficantes sob a justificativa que seria ligada a antigos milicianos no bairro Porto das Caixas, ligados ao tráfico da Reta Velha.

Segundo investigadores, o chefe do tráfico é identificado como ‘Dodô, de 46 anos, preso desde 2004, mas que tem como representante na comunidade o traficante ‘Branquinho da Reta Velha’. Ele seria o responsável por orquestrar as principais ações criminosas do bando e chefiar os mais de cem soldados do crime na comunidade.

Preso há mais de 15 anos, Dodô é um dos nomes fortes do Comando Vermelho (CV) e já foi condenado há mais de 80 anos de prisão por crimes como tráfico de drogas, formação de quadrilha e roubo.

Consórcio amigo

Pelo menos 40 fuzis espalhados pela comunidade, já foram identificados pela polícia. Uma clara demonstração de força e poder bélico. Segundo a 71ªDP, traficantes estariam financiando uma espécie de ‘consórcio’ entre três comunidades para formar um cinturão de traficantes em Itaboraí. Tratam-se das localidades conhecidas como Visconde, Reta Velha e Itambi.

A ideia dos criminosos, segundo a polícia, é expandir o domínio, dificultado pela entrada e saída de policiais, além de evitar uma improvável invasão de grupos paramilitares.

Cuidado!

Prova de força da criminalidade que, de acordo com investigações, monitora a entrada e saída de policiais, aconteceu na manhã desta sexta-feira (18) com a equipe de reportagem do Enfoco.

A partir da Avenida 22 de Maio, uma das principais vias de Itaboraí, de acesso à comunidade, a equipe de reportagem foi abordada por um motociclista que fez o alerta:

“Cuidado, aqui é muito perigoso. Não ultrapasse, cuidado!”

Enxugando gelo

De acordo com um dos investigadores da distrital, um dos maiores percalços da polícia para atuar na região é o baixo efetivo na delegacia, além da restrição imposta pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Segundo a delegacia, a polícia faz importantes ações na cidade, mas acaba ‘enxugando gelo’, através das retiradas de barricadas e prisões.

Já o comandante do Batalhão de Itaboraí (35°BPM), tenente-coronel Gilbert dos Santos, ressaltou que a Polícia Militar vem atuando de forma veemente no combate ao tráfico de drogas no município. Prova disso são as recentes quedas nos roubos de veículos e cargas nos últimos meses.

Tenente-Coronel Gilbert dos Santos,
Comandante do 35º BPM de Itaboraí enalteceu o desempenho da PM na região. Foto: Vítor Soares

“A população de Itaboraí pode confiar no trabalho do Batalhão, que vem realizando um trabalho incessante de combate ao tráfico de drogas, realizando ações baseada em informações do serviço de inteligência, que resultaram em prisões, apreensões, recuperação de veículos roubados e retirada de barricadas, não só na Reta Velha como em qualquer localidade do município”

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