'Rodovia do medo': BR-101 volta a ser aterrorizada em arrastões

Apesar da Polícia Rodoviária Federal (PRF) não ter números oficiais de crimes, a BR-101 (trecho Niterói-Manilha) voltou a ser chamada de ''Rodovia do Medo'' pelos arrastões constantes, especialmente na altura de São Gonçalo.

Segundo os motoristas, os casos acontecem, na maioria das vezes, durante a noite ou em horários de menor movimento.

O ENFOCO foi até a via entre esta segunda (12) e terça-feira (13) e notou a ausência de patrulhamento entre os quilômetros 316 e 319, justamente os trechos que cortam os bairros de São Gonçalo. 

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Terror

O caso mais recente aconteceu no último domingo (11), Dia dos Pais, quando criminosos realizaram um arrastão na altura do Jardim Catarina. Motoristas e passageiros ficaram aterrorizados enquanto os bandidos bloqueavam a rodovia, abordavam veículos e roubavam pertences pessoais.

Na madrugada do último dia 5, uma família também teve o carro e pertences roubados por bandidos armados também durante assalto na BR-101, altura de Neves, em São Gonçalo.

As vítimas, sendo cinco adultos e duas crianças, ficaram a pé na beira da pista, por volta de 3h, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF). Quatro criminosos estão envolvidos na ação, conforme relatos.

O veículo roubado é um Jeep Compass de cor branca, que seguia na pista sentido Niterói. Os assaltantes fugiram.

Estratégias

A guia de turismo Lúcia Helena, de 63 anos, mora em Mangaratiba e tem o hábito de passar pela BR-101 com a família sempre que vai para a Capital. Em todas as viagens, ela adota a mesma estratégia para dificultar a visibilidade de criminosos.

"O meu carro tem insulfilm, e sempre que passo por essa rodovia, trafego com os vidros fechados para que ninguém saiba quantas pessoas estão dentro do carro. Apesar de estar atenta à direção, fico de olho na forma como os outros veículos se aproximam, pois nunca sabemos quando podemos ser vítimas de um assalto. Sempre ouvimos falar de assaltos nessa BR", relatou.

A gerente de um posto de combustíveis situado às margens da rodovia, na altura de São Gonçalo, contou que já se acostumou com os assaltos frequentes na região. Ela diz que ela e os demais funcionários trabalham com medo.

"São vários assaltos. Tem vezes que são três em um único dia. Nos acostumamos, mas claro, trabalhamos com medo. Sabemos quando tem arrastão, quando vemos os carros voltando na contramão aqui em frente ao posto", explicou.

Outro motorista, João Pedro, que trafega regularmente pela BR-101, também compartilhou sua experiência.

"Eu já presenciei um assalto na rodovia. Estava dirigindo quando vi os bandidos abordando um carro mais à frente. Desde então, redobro a atenção, principalmente à noite. Infelizmente, a insegurança aqui é constante".

Histórico de outros períodos 

A audácia dos criminosos é tanta que, em março de 2022, criminosos realizaram assaltos na rodovia usando trajes que imitavam o uniforme da Polícia Civil. No mês anterior, motoristas foram obrigados a dirigir na contramão para escapar de um ataque criminoso na BR-101, novamente em São Gonçalo.

Em janeiro de 2022, um incidente também chamou a atenção: trabalhadores foram feitos reféns durante um ataque criminoso na rodovia, reforçando a imagem da BR-101 como uma "rota do medo" para quem precisa trafegar pela região.

Apenas um mês antes, em dezembro de 2021, a situação já era alarmante: empresas de ônibus tiveram que alterar suas rotas para evitar os assaltos na BR-101.

Há câmeras?

Em resposta ao crescente número de incidentes, a concessionária Arteris Fluminense, responsável pela administração de parte da BR-101, destacou que, embora a segurança pública seja uma atribuição do Estado, a empresa colabora com as autoridades, por meio de suas políticas independentes de segurança.

"Para ampliar a segurança e monitoramento na rodovia, a Arteris Fluminense concluiu, em dezembro de 2023 a instalação de 54 novas câmeras digitais ao longo da BR-101/RJ, elevando a cobertura para 70% do trecho sob sua concessão", informou a empresa em nota. 

Ainda de acordo com a concessionária, o monitoramento também inclui o contato via radiocomunicação digital com as duas delegacias da Polícia Rodoviária Federal que operam no trecho entre Niterói e Campos dos Goytacazes.

Atualmente, o Centro de Controle Operacional (CCO) da Arteris Fluminense monitora 161 câmeras ao longo dos 322 quilômetros da rodovia, sendo 20 delas localizadas no trecho de 20 km que atravessa a região conhecida como Niterói-Manilha.

"Esse centro, localizado em São Gonçalo, opera 24 horas por dia e é responsável por coordenar os atendimentos a todas as ocorrências na via, utilizando um videowall que projeta as imagens captadas pelo sistema de câmeras", enfatiza a concessionária. 

Além do CCO, a Arteris também diz que realiza o serviço de monitoramento através das praças de pedágios espalhadas ao longo da via.

"Todas as cinco praças de pedágio da Arteris Fluminense estão equipadas com câmeras de Reconhecimento Óptico de Caracteres (OCR), que registram as placas dos veículos para fins de controle e segurança. Essas praças estão localizadas em Campos dos Goytacazes, Casimiro de Abreu, Rio Bonito e São Gonçalo, reforçando o monitoramento ao longo de toda a extensão da rodovia", finaliza.

Número de casos, agentes e viaturas não divulgados

Questionada sobre número de casos de arrastão, a PRF limitou-se a informar sobre a ocorrência do último domingo. Sobre número de agentes e viaturas, a corporação disse que não divulgado estes dados. 

"Reforçamos o policiamento na região, principalmente nos acessos e saídas próximos a localidades fora da rodovia, que têm atuação de quadrilhas de criminosos que cometem roubos na área", disse a PRF sobre estratégias de atuação informando o seu número de emergência. 

Em caso de emergência em rodovias federais, basta ligar 191, de acordo com a PRF.