Tragédia
'Sempre culpam quem caiu', diz irmã de adolescente morto no BRT
Eduard Leonardo, de 16 anos, ficou uma semana internado
A família de Eduard Leonardo Bandeira de Mello, que morreu aos 16 anos depois de cair do BRT, não se conforma que o jovem tenha caído do articulado, que segundo testemunhas, circulava sem as portas e superlotado no momento do acidente que aconteceu há uma semana.
Parentes estiveram no IML de Campo Grande nesta quarta (30) para liberar o corpo do jovem. Segundo eles, Eduard era brincalhão, divertido e adorava estar perto de amigos. O sonho dele era trabalhar com gastronomia e ser rapper.
O adolescente caiu do articulado em movimento na estação do Mato Alto, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, na última quinta (24). Ele foi atendido por um médico, que passava pelo local, e prestou os primeiros socorros. De lá, Eduard foi levado para o Hospital Pedro II, em Santa Cruz, na Zona Oeste da cidade.
O irmão de Eduard, Gabriel, contou que ele estava indo na casa da namorada, no Recreio, para assistir o jogo do Brasil.
“Ele estudava em Campo Grande, perto de casa, sempre ia de boa, sempre usava o BRT. Ia fazer um ano fazendo o mesmo trajeto, para a casa da namorada. Era a segunda vez na semana que ele fazia o trajeto. De terça para quarta, ele foi com ela na praia e contou para a gente que no BRT o pessoal andava pendurado e com as portas abertas, aí na quinta aconteceu isso com ele. No dia que ele morreu, ele foi pra escola, chegou, se arrumou e saiu e depois soubemos o que ocorreu”, afirmou o motorista de aplicativo Gabriel Leonardo Bandeira de Melo, de 24 anos.
Ele contou também como soube da queda do irmão.
Meu irmão tinha 16 anos, sem vícios, não bebia, namorava, estudava, era um garoto de família, educado e muito amado. É imensurável a dor por saber que meu irmão está lá dentro para ser sepultado, sem ter voz para se defender e nós estamos aqui lutando por ele. As autoridades e os responsáveis vão sempre acusar quem caiu
“A princípio, soubemos que ele tinha tido uma queda no BRT. A gente não sabia, até então, se estava em alta velocidade ou parado e procuramos saber em qual hospital ele estava. Fomos no Rocha Faria, por morarmos perto, e não tinha nada lá. Chegou uma ambulância lá e perguntamos se poderia dar uma informação de queda no BRT. Ai falaram que tinham duas quedas naquele dia e o meu irmão era o que estava sem identidade. Falaram que ele estava no Pedro II e fomos para lá. Chegou lá e vimos o real estado dele, com sangramento na cabeça, traumatismo craniano, diversas fraturas, quatro costelas quebradas, os ossos do peito quebrados. Ele caiu na estação do BRT no Mato Alto”, afirmou.
Em sua rotina, Eduard, que era caseiro, ia pro colégio, voltava e ia para a casa da namorada.
“Eu levava ele e quando não dava, ele ia de BRT e deu essa confiança para a gente. Ele ia na sexta à tarde e voltava no domingo de tarde e sempre fazia esse trajeto com segurança, nunca ocorreu nada, nem tentativa de assalto, até acontecer isso. Ele era muito querido. Se as pessoas conhecessem ele, iam ver como ele ia fazer falta. A própria escola dele, que é particular, decretou luto e não abriu. Está sendo complicado, lá em casa não sabemos o que faz, nossa irmã mais velha, como se fosse nossa mãe, se sente culpada. Não sabemos o que fazer”, disse Gabriel, que morava com Eduard, a irmã Miriane e o cunhado.
“Queremos justiça, porque vimos a Mobi Rio falando que a culpa era dele por ter forçado a porta e, se você olhar, todos os BRTs que passam, estão de porta aberta. Tem muitas fiscalizações de carro e moto na rua e não tem para BRT. Esses do BRT passam a 60 km de porta aberta e ninguém fala nada”, afirmou o irmão.
Miriane Bandeira de Mello, de 36 anos, irmã mais velha de Eduard, contou que o pai dele não era presente e a mãe deles faleceu há cinco anos por causa de um câncer. Por isso, ela cuidava do irmão.
“É imensurável a dor por saber que meu irmão está lá dentro para ser sepultado, sem ter voz para se defender e nós estamos aqui lutando por ele. Sempre as autoridades e os responsáveis vão sempre acusar quem caiu, quem se acidentou porque eles não vão ter voz e a família vai ter voz, mas depois é esquecido. Meu irmão tinha 16 anos, sem vícios, não bebia, namorava, estudava, era um garoto de família, educado e muito amado. As redes sociais estão todas mobilizadas. A namorada dele descobriu que ele caiu depois de ligar muito pra ele, porque ele estava demorando, e o médico do Samu que atendeu. Já eu descobri com amigos me ligando, porque eu estava trabalhando”, afirmou ela.
Em nota, a MOBI-Rio informou que o passageiro sofreu a queda na última quinta-feira (24/11) após forçar a porta do articulado para abri-la no corredor Transoeste, segundo testemunhas relataram ao motorista. O SAMU foi acionado e conduziu o passageiro para o Hospital Pedro II, onde ficou internado. O registro da queda foi feito na 43ª DP (Guaratiba). A MOBI-Rio sempre alerta que forçar as portas para mantê-las abertas coloca em risco não só a vida de quem pratica a ação como a dos demais usuários. Muitas vezes, os motoristas são ameaçados quando param o articulado após constatarem o ato, que ocorre independentemente da quantidade de passageiros no veículo.
A família, no entanto, alega que Eduard jamais abriria a porta do BRT e que ela já estava aberta. Em sua homenagem, a escola dele, que era particular, decretou luto e não funcionou nesta quarta-feira (30). A namorada de Eduard fez uma tatuagem com o nome dele no braço.
A ocorrência, segundo a família, foi registrada na 36ª DP (Santa Cruz). O enterro de Eduard será amanhã, no Jardim da Saudade, no Salucap. Ainda sem horário do enterro e do sepultamento.
Outro caso
Um outro jovem, Henrique Lima, de 21 anos, está internado no Rocha Faria. Ele sofreu traumatismo craniano após cair do BRT no dia 19. Ele está internado na unidade de saúde desde então. Ele também caiu próximo da estação do Estação Mato Alto, em Guaratiba. Ele estava retornando para casa.
A tia dele, Rita de Cássia Gonçalves, de 44 anos, contou que ele está sedado e em estado muito grave. “Fazem dez dias do acidente e, desde então, ele não tem reação nenhuma, está no CTI. Assim que aconteceu o acidente, o ônibus seguiu viagem. O motorista só parou na estação seguinte. O tombo foi feio, a pancada foi na cabeça e, na hora, passou uma ambulância da Cegonha que prestou os primeiros socorros. A mãe dele começou a ligar por achar estranho a demora dele de retornar para casa, só que estavam rejeitando a ligação. O padrasto dele entrou em contato de outro número e foi aí que o socorrista falou do acidente e fomos para o Rocha Faria”, afirmou ela.
“Eles não deram nenhum suporte e nem para saber como o Henrique está. Na verdade, estão acusando meu sobrinho de abrir a porta, mas ela anda aberta, mesmo porque lá dentro são várias pessoas, de janela fechada e acho que até por isso a porta fica aberta, para ter um pouco de ventilação dentro daquele inferno. O Henrique e o Eduard não serão os primeiros e nem os últimos e todo dia continua essa vergonha. As pessoas saem para trabalhar e não sabem se vão voltar. Ele voltava do trabalho e estava indo para casa”, afirmou a tia do Henrique. O caso de Henrique foi registrado na 35ª DP (Campo Grande).
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