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    Espionagem

    Sobrevivente a facadas em São Gonçalo expõe rotina de ameaças

    Cuidadora de idosos tem diversas marcas pelo corpo

    Publicado 25/11/2024 às 13:02 | Atualizado em 25/11/2024 às 16:00 | Autor: Tiago Souza
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    Graciele contou que conheceu seu agressor em uma roda de samba no Rio
    Graciele contou que conheceu seu agressor em uma roda de samba no Rio |  Foto: Lucas Alvarenga

    Antes de levar vários golpes de faca dentro de um prédio comercial no bairro Alcântara, em São Gonçalo, em outubro deste ano, a cuidadora de idosos Graciele dos Santos Silva, de 38 anos, revela ter sido vítima de uma série de abusos físicos e psicológicos do mesmo agressor, que culminaram na descoberta de que ela estava sendo vigiada por um aplicativo espião.

    O caso trouxe à tona as ameaças crescentes das tecnologias de espionagem em situações de violência contra a mulher. O acusado está preso por tentativa de feminicídio.

    Cerca de 1 mês e 15 dias após sobreviver ao ataque, Graciele concedeu entrevista ao ENFOCO, nesta segunda-feira (25). Ela contou que conheceu seu agressor em uma roda de samba no Rio de Janeiro, em junho do ano passado. Inicialmente, o contato foi casual e se manteve por telefone durante oito meses.

    "Ele tirava informações sobre meus filhos, minha mãe, onde morávamos. Eu achava que era curiosidade, mas tudo tinha um propósito", relatou a vítima.

    Após encontros esporádicos, o comportamento do homem se tornou controlador.

    "Com apenas 15 dias de relacionamento, ele começou a me apresentar como mulher dele. Quando tentei terminar, ele disse: 'Não é você que decide'. A partir daí, vieram as ameaças: 'Se você continuar dizendo que acabou, eu vou fazer você entender que não acaba quando você quer'", relatou.

    Cárcere privado

    Apesar do trauma, Graciele escolheu transformar sua experiência em força
    Apesar do trauma, Graciele escolheu transformar sua experiência em força |  Foto: Lucas Alvarenga

    A situação piorou quando Graciele foi trancada por dois dias na casa do agressor.

    "Ele me ameaçou: 'Ninguém sabe que você está aqui, eu te mato e ninguém vai descobrir'. Foram dois dias de horror até ele me soltar", disse.

    Graciele procurou ajuda na Delegacia de Atendimento à Mulher de São Gonçalo (Deam SG), mas, devido à falta de estrutura, foi orientada a registrar um boletim online.

    "Eu senti que nada seria feito. Voltei para casa, mas as ameaças continuaram. Ele aparecia na porta do meu trabalho, sabia onde meus filhos estudavam. Era como se ele estivesse em todos os lugares", contou.

    Descoberta da espionagem

    A virada no caso aconteceu quando uma prima descobriu que o celular de Graciele havia sido invadido.

    "Minha prima encontrou um número vinculado ao meu telefone na noite anterior. Levamos isso à polícia e descobrimos que ele usava um aplicativo espião que dava acesso a todas as minhas mensagens, localização, câmera frontal e até aos áudios”, disse.

    Graciele ficou estarrecida ao saber que era a nona vítima do agressor.

    "Quando perguntei à policial onde estavam quando ele atacou as outras oito vítimas, ela não soube o que responder", contou.

    Apesar do trauma, Graciele escolheu transformar sua experiência em força.

    "Eu quero dizer para outras mulheres que elas não precisam ser submissas ou aceitar violência. Peçam socorro, falem com alguém de confiança. Não carreguem correntes que não pertencem a vocês”, disse.

    Grasielle agora luta para reconstruir a vida e por Justiça. “Ele não é meu dono, ninguém é dono de ninguém. Eu preciso viver meus sonhos", contou.

    Denuncie!

    Segundo Marisa Chaves, fundadora do Movimento de Mulheres em São Gonçalo, as mulheres que vivem em relacionentos abusivos tendem a esconder o fato da família. Ela orienta às vítimas a acionarem às autoridades competentes. 

    "É um grande perigo! Eu quero deixar essa mensagem a todas as mulheres: que quando ela perceber que algo está tirando a liberdade, ela está sendo monitorada excessivamente, ela é obrigada a contar tudo o que faz, com quem está, para onde foi, que horas vai voltar [...] não é aquela preocupação carinhosa, é uma preocupação controladora, obsessiva; que ela tem que contar para a família, sim, e que ela tem que contar para as pessoas que ela confia, porque homens que têm perfil extremamente violento, isso muitas das vezes não vem na cara, a pessoa aparentemente não vai demonstrar isso, mas é pelas atitudes e comportamentos que a mulher vai se sentindo sempre tendo que conciliar aquilo que não é conciliável. Ela tem que estar sempre poupando e evitando estresses para que este homem não se irrite. É muito importante procurar a polícia, procurar o Movimento das Mulheres para receber todo o apoio necessário", enfatiza.

    Relembre o caso

    Graciele dos Santos Silva, de 39 anos, foi esfaqueada por um homem dentro de um prédio comercial na Rua Yolanda Saad Abuzaid, em Alcântara, São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, na manhã de 11 de outubro deste ano. 

    O caso aconteceu em frente a uma farmácia. Segundo relatos, o agressor invadiu o prédio em que a vítima estava e a acertou com a faca. Em seguida, se escondeu em uma loja para não ser linchado por populares, que o perseguiram.

    Imagens que circulam nas redes sociais mostram o momento em que os policiais militares chegam para intervir na situação. Do lado de fora do estabelecimento, uma multidão se reuniu para linchá-lo.

    O Corpo de Bombeiros foi acionado por volta das 11h20. De acordo com a corporação, a vítima foi encaminhada ao Hospital Estadual Alberto Torres (Heat), no Colubandê. Ela chegou a ser levada para o centro cirúrgico em estado grave. Apesar dos ferimentos, ela se recuperou e teve alta médica.

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