Política
Candidatos alvos de ameaça de morte e preconceito em Niterói
Com a proximidade das eleições municipais, candidatos ao cargo de vereador em Niterói viraram alvos de ameaças de morte e ataques preconceituosos, nas ruas e pela internet. Com ataques denunciados caberá a polícia a investigação.
As queixas-crime já estão nas mãos da Delegacia do Centro (76ª DP) e do Ministério Público (MP), que receberam documentos das intimidações nas últimas semanas.
A 1ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Territorial do Núcleo Niterói confirmou o recebimento de representação feito pelo vereador Paulo Eduardo Gomes (Psol), que no dia 1º de setembro foi ameaçado através da rede social Facebook com a frase: “Vocês são a doença e a bala é a cura”.
O print com a ameaça foi encaminhado ao MP, que informou 'avaliar a adoção de possíveis medidas cabíveis'. A assessoria do parlamentar preferiu não divulgar o documento, temendo atrapalhar o andamento do inquérito.
"Este tipo de política de ódio já vitimou nossa companheira Marielle Franco, morta há 2 anos e 7 meses. Fez com que Talíria Petrone, deputada federal de Niterói, precisasse recorrer à ONU para tentar garantir segurança estatal após tantas ameaças", disse o vereador que é candidato à reeleição.
Benny Briolly, do mesmo partido de Paulo Eduardo, também entrou na lista de alvos. Primeira candidata a vereadora mulher transsexual de Niterói, ela afirma que precisou recorrer à polícia, nesta quarta-feira (21), para registrar boletim de ocorrência por crimes de ameaça de morte e injúria racial - que segundo a Polícia Civil, pode ser comparado com homofobia.
"Ronnie Lessa já está de olho em você, cuidado com a metralhadora de matar maconheiros".
comentário em publicação no Facebook
A referência ao miliciano acusado de participar do assassinato da então vereadora Marielle Franco, também do Psol, em 2018, teria motivação ainda desconhecida pelos investigadores.
De acordo com Benny Briolly, no último sábado (17), um grupo foi até uma banca de campanha do partido, em Icaraí, e proferiu ofensas contra apoiadores.
"Estávamos panfletando em frente a um shopping de Icaraí e um grupo de bolsonaristas chegou na nossa banquinha e começou a gritar. Um senhor, de forma agressiva, queria derrubar a banquinha: nos chamaram de putas (sic), piranhas, sexualizadoras de criançinhas, que queríamos destruir a família [...]", relatou a candidata.
Benny, de 28 anos, conta que no dia seguinte surgiram publicações e comentários em sua página oficial pelo Facebook com ameaças de morte. Nas referidas postagens, feitas por perfis diversos, foram publicados termos como:
"Nunca vai ser mulher..., se encher de hormônio, mas mulher nunca será, toma vergonha nessa cara"
"Essa foto é ela ou ele, na boa, essa galerinha merece uma surra de gato morto, mas bater até o bicho miar"
Ainda conforme a vítima, os perfis são de pessoas reais. "São pessoas que se sentem na coragem de nos ameaçar, de engajar o ódio a partir de um preconceito. Eles estimulam o nosso corpo a estar na linha de confronto de um assassinato", denuncia.
Integrante do movimento Orgulho e Luta Trans de Mulheres Transexuais e Travestis de Favela e em situação de prostituição, a militante atuava no mandato da deputada federal Talíria Petrone, mas precisou se afastar há cerca de um mês para trabalhar na própria campanha rumo à Câmara de Niterói.
Diz que já não se sente segura nas ruas e teme pela própria vida.
"A gente sempre temeu, mas agora, mais do que nunca, já que não consigo andar três quarteirões sem ser xingada por pessoas que estão fazendo campanha e por pessoas aleatórias com palavras como 'vagabunda' (sic), 'piranha' (sic), 'você tem que morrer' e todos os xingamentos que você imaginar", lamenta.
Violência política
Segundo relatório da Justiça Global e do Terra de Direitos, publicado mês passado, que trata da “Violência Política e Eleitoral no Brasil”, existem, pelo menos, 27 casos de ataque à vida de mandatários eleitos e pré-candidatos por ano no Brasil.
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