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    Política

    Surgem novos rostos e ideias nas eleições para vereador

    Publicado 04/10/2020 às 6:00 | Autor: Ezequiel Manhães
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    Vereador, vereadores, câmara, Niterói
    Candidatos às Câmaras Municipais conversam com o Plantão Enfoco. Foto: Pedro Conforte

    Na contramão de uma sociedade cada vez mais decepcionada com a atuação de parlamentares no Brasil, eles surgem com ideologias diferentes e nunca disputaram cargo eletivo — são os estreantes na política municipal nestas eleições 2020. Aspirantes a vereadores do Rio, Niterói, São Gonçalo e Maricá, se apresentam com rotas alternativas e revelam os motivos que os levaram à corrida pela 'vida pública'.

    "Historicamente não temos educação política. Não somos educados para sermos politizados desde a escola. Isso é ruim porque precisamos discutir em casa, no colégio, na mídia. Não tem sociedade sem política [...]"

    Guilherme Carvalhido - cientista político e sociólogo (UFRJ)

    O sociólogo Guilherme Carvalhido da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desafia os estreantes quando diz que os mais jovens não têm tantas experiências acumuladas naquilo que chama de 'espírito público', embora esta não seja uma regra.

    "Uma pessoa com mais idade costuma ter mais [experiência], com 18, 19, 20 anos ainda está acertando a vida, às vezes não demonstrou ao longo da trajetória se tem espírito para isso. Não que não possa ter, mas ainda não construiu", comenta.

    Para Carvalhido, o primeiro ponto é a consciência desse grupo de que sem política a sociedade não anda. "Todo cidadão tem o direito de ser político. Se a gente se afasta desse segmento, nos afastamos dos nossos próprios direitos", resume.

    Entre os recém-lançados à política, o mais novo postulante é da Capital e tem apenas 18 anos: Luan Lennon é líder nacional da União Libertadora Estudantil e se auto declara conservador.

    Luan de 18 anos coleciona milhares de seguidores nas redes sociais. Foto: Divulgação

    "Estou bem curioso para o resultado, até porque não é todo dia que um jovem de 18 anos, do subúrbio, conservador, faz tanto barulho sem ter um centavo investido na campanha", afirma o candidato.

    Com mais de 25 mil seguidores nas redes sociais, ele garante que o eleitorado têm nos jovens uma 'saída' para um futuro melhor.

    Antes filiado ao Partido Novo, migrou recentemente para o PSL. "Hoje estou feliz, posso apoiar o meu espelho na política: Jair Bolsonaro (sem partido)", argumenta Luan.

    É lógico que pessoas mal intencionadas usam a idade para atacar, mas tudo bem, no final o bem vence.

    Luan Lennon

    Munido de bagagens acadêmicas, o mestre em História Marcelo Almeida, de 37 anos, estreia na disputa em São Gonçalo sob a justificativa do distanciamento do parlamento municipal com a população gonçalense.

    Marcelo Almeida acredita que houve distanciamento entre a Câmara e a sociedade. Foto: Divulgação

    "A atitude de me lançar candidato veio na verdade da falta de diálogo da Câmara de São Gonçalo com a sociedade civil organizada (seja associação de moradores, ONGs ou sindicatos)", diz o candidato que vem pelo Partido Socialismo e Liberdade (Psol) .

    Para ele, enquanto professor pode garantir uma olhar voltado para a juventude e a educação.

    "A eleição de Bolsonaro representa a ascensão do autoritarismo e do pior da velha política, com um mar de corrupção e de gente tosca ao seu redor. Nosso presidente não faz ideia de como administrar um país"

    Marcelo Almeida

    Escolher candidato a prefeito e vereador é algo complexo, na visão do cientista social Rafael Mello da UFRJ — já que, segundo ele, essa acaba sendo uma decisão pessoal de cada eleitor.

    Partindo da premissa individual, o especialista informa que os eleitores devem avaliar a partir de demandas em que cada um acredita.

    "Buscar candidatos que os representem, como por exemplo: mulheres buscarem candidatos que tenham pautas para mulheres e que de preferência sejam mulheres. Idem para os negros, lgbtqia+, trabalhadores e etc"

    Estudiosos lembram que o voto é uma instrumentalização de um direito democrático à cidadania. E, além disso, um dever coletivo, tendo em vista que pessoas [candidatos] são legitimadas para representar as decisões mais importantes dos rumos da organização de toda uma sociedade.

    Em Maricá, Luiz Felipe - mais conhecido como Hadesh - é um dos que inicia sua jornada rumo ao parlamento da cidade. Ele que foi filiado ao Partido Comunista do Brasil (PC do B), entra na disputa após migrar para o Partido dos Trabalhadores (PT).

    Hadesh, que já até foi convidado pelo próprio prefeito Fabiano Horta para ser subsecretário de Participação Popular, Direitos Humanos e Mulher, também está entre os que acredita na falta de dialogo para a insatisfação popular com a política.

    "A sociedade precisa parar de criminalizar a política, justamente para amenizar esse ódio, que vem crescendo nos últimos anos por falta de diálogo"

    Hadesh

    Inclusão

    Missionária da igreja evangélica Assembleia de Deus e coordenadora estadual do movimento 'Cristãos Contra o Fascismo', Sabrinna Nazareth, de 21 anos também escolheu se lançar na disputa em São Gonçalo por acreditar na falta de representatividade.

    Missionária da igreja evangélica Assembleia de Deus e coordenadora estadual do movimento 'Cristãos Contra o Fascismo', Sabrinna Nazareth, de 21 anos também escolheu se lançar na disputa em São Gonçalo por acreditar na falta de representatividade.

    "Se olharmos para a Câmara dos Vereadores podemos ver que não há uma representatividade do povo, onde deveria ser a casa do povo", reclama a missionária, que está inclusa na estatística de 30,8% de candidaturas femininas na cidade. O município ainda conta com maioria de homens na disputa (69,2%), segundo o Tribunal Superior Eleitoral.

    "Não é fácil para eu que sou mulher e negra ocupar esses espaços. E nem é papo de 'mimimi', é uma constatação do fato de que as pessoas não olham para a gente e eu tenho que lutar para ser notada"

    Sabrinna Nazareth

    Com 28 anos, Leonardo Schmidt, que é deficiente físico, também entrou na luta eleitoral ao lançar candidatura a vereador em Niterói. Ele tenta pela primeira vez uma chance no legislativo municipal com o 'sonho de quebrar o ódio da população com a política'.

    "Também vejo que o poder público deixa muito a desejar na questão de dar a igualdade e dignidade às pessoas com algum tipo de deficiência. Infelizmente é um defeito do ser humano em se preocupar com o problema do outro apenas quando se tem alguém próximo com deficiência"

    Leonardo Schmidt

    O movimento de campanha nas Eleições Gerais de 2018 fez Leonardo, que se define conservador, se aproximar do partido PSL, inclusive fazendo campanha para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

    Avaliações

    Segundo Guilherme Carvalhido (UFRJ) nenhum candidato consegue tratar de todos os problemas essenciais da cidade, conforme apresentado nos planos de governo. Ele orienta ao eleitor prestar atenção no real dever do vereador.

    "A população dá valor muito baixo para o cargo, até por não conhecer a função: que é legislar sobre o município", explica Carvalhido.

    Basicamente quando eleito, explica o especialista, o parlamentar vai legislar as regras que vão conduzir o município, além de regular o prefeito avaliando os pontos que devem ser feitos.

    "Não é porque [o candidato] é bonito, bacana […] De fato, precisamos observar as funções que aquele sujeito precisa exercer. Antes de tudo é preciso um espírito público. Muita gente entra na política sem o compromisso real", opina.

    Por que tentar?

    Integrante da Comissão Eleitoral da UniBairros (Federação das Associações de São Gonçalo) o candidato Marcelo Almeida observa um cenário "mais do mesmo" na política gonçalense, atrelando um velho esquema de governo, nas palavras dele, seja 'no loteamento de unidades públicas (escolas, postos de saúde, CRAS, etc), como em uma administração municipal sem o risco de impeachment'.

    Para Hadesh o Estado do Rio pratica a política do 'genocídio negro', segundo o candidato de Maricá, o governo deixa a saúde pública em estado de calamidade, a educação sucateada com chefes de governo envolvidos em escândalos de corrupção.

    Sabrinna Nazareth argumenta que 'os governadores tem tido problemas crônicos com a Justiça porque nunca tiveram compromisso real com o povo'. Já Luan Lennon acrescenta que faltam pessoas com vontade de ajudar o coletivo.

    De Niterói, Leo Schmidt diz enxergar 'uma gestão extremamente desgastada com chefes executivos enrolados em corrupção'.

    Branco / Nulo

    Para o especialista Guilherme Carvalhido, o voto em branco ou nulo não levam a lugar nenhum: 'é um voto inútil'. Segundo ele, se existe opção é preciso considerar, inclusive, o que for menos pior. O sociólogo justifica que o voto em branco pode beneficiar alguém que o eleitor não goste. "Tente buscar no pleito propostas interessantes em relação a sua opinião. Perfeição não há".

    Já o cientista social Rafael Mello considera legítima a decisão do eleitor no voto branco ou nulo, contudo, chama a atenção para a necessidade de uma construção coletiva e cultural na política e no cotidiano.

    "O voto sendo um instrumento de exercício democrático da cidadania serve como parâmetro para uma escolha consciente, seja ela qual for, ou seja, o voto branco e/ou nulo não pode ser uma negação da política ou despolitizado"

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