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Carnaval adiado no Rio e a contradição com festas e cultos lotados

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Evento ‘Ensaios da Anitta’ reuniu multidão na noite deste domingo no Rio. Foto: rede social

O adiamento do carnaval no Rio está sendo considerado uma decisão contraditória e um erro do prefeito Eduardo Paes (PSD). Isso porque festivais, cultos e praias permanecem lotados aos finais de semana.

Além do retorno do Campeonato Carioca, que promete encher estádios da Capital. Na última sexta-feira (21), Paes anunciou o adiamento dos desfiles das Escolas de Samba na Sapucaí — sob justificativa do agravamento da pandemia de Covid-19, com o advento da variante Ômicron no Estado.

É um 'erro fatal', na visão da infectologista Tânia Vergara, consultora da Sociedade de Infectologia do Rio, atrelar apenas os desfiles pelo maior risco de disseminação do vírus.

"Qualquer evento que implique em aglomeração se relaciona a maior risco de contaminação. Qualquer um: shows, eventos religiosos, festas privadas ou não"

Os desfiles das escolas de samba foram adiados para o fim de semana do feriado de Tiradentes, em abril, com a premissa de 'ter um cenário epidemiológico mais seguro', conforme defende a Secretaria de Saúde.

O governo municipal do Rio justifica que a decisão foi tomada em respeito ao atual quadro da pandemia no Brasil, e a necessidade de, neste momento, preservar vidas e somar forças para impulsionar a vacinação em todo o território nacional.

Contradição

Mas movimentos apontam contradições na decisão da prefeitura e do Governo do Estado. Neste final de semana, por exemplo, inúmeros shows lotaram espaços no Rio.

A exemplo do Feijuca Original, no Maracanã, na Zona Norte do Rio; e os Ensaios da Anitta, no Parque Olímpico, na Zona Oeste. Ambos tiveram ingressos esgotados na sexta (21) e domingo (23), respectivamente.

Além disso, diversos eventos fechados foram registrados ao redor da cidade, com presenças de artistas renomados. As lotações nas praias, sem medidas restritivas, também foram criticadas pelas redes sociais.

"Não sei o que é pior: confusão ou a aglomeração? Tô ficando chato ou as pessoas vivem numa realidade paralela? Não vai acabar nunca!", disse o internauta Cid Blanco.
 "Eu sinceramente não vejo qual o sentido de adiar o carnaval de rua e das escolas de samba e deixar as baladas funcionando como se nada estivesse acontecendo, incluindo shows enormes [...]. O que justifica adiar um e manter outro?", escreveu o influenciador digital Willian de Lucca. 

As prefeituras da Região Metropolitana ainda não declararam se pretendem adotar medidas restritivas em espaços como igrejas, clubes e praias.

As administrações do Rio, Niterói e Maricá se calam sobre a possibilidade de retornar ao esquema de rodízio de horários para acessos às praias. Neste final de semana, as praias de Niterói ficaram lotadas, inclusive com tumulto na Praia de Itacoatiara.

O governador Claudio Castro, que no último dia 7 se mostrou contrário a realização de blocos de carnaval, participou no último dia 16, de um evento musical gospel reunindo milhares de fiéis no Parque Olímpico.

https://twitter.com/claudiocastroRJ/status/1482885056070885384

Cultos remotos

A deputada estadual Mônica Francisco (Psol), que também é pastora evangélica, recomenda o retorno dos cultos remotos. Ela afirma que a Comissão do Trabalho da Assembleia Legislativa Estadual do Rio de Janeiro (Alerj), da qual preside, trabalha em medidas para garantir direitos aos trabalhadores do carnaval.

"Defendo que haja respeito às leis e às restrições sanitárias para salvar vidas. É preciso bom senso neste momento em que avançam as contaminações pela variante Ômicron. Eu, como pastora, recomendo a nossa comunidade de fé que continuemos com os cultos remotos"

A parlamentar alerta que há uma série de ferramentas digitais que possibilitam que os cultos sejam feitos com segurança sanitária.

"É preciso que nós que ainda estamos aqui, usando uma terminologia evangélica, nesse mundo material, no reino dos homens, sigamos as orientações das autoridades sanitárias. A Bíblia orienta que as autoridades devem ser respeitadas, então que haja o respeito às autoridades sanitárias, à ciência e que haja defesa da vida, porque essa é a essência cristã: o amor incondicional e a defesa da vida do próximo"

Desamparo

Sambódromo Sapucaí vazio
Adiamento do carnaval prejudica trabalhadores do setor. Foto: Marcelo Tavares

A Secretaria Municipal de Saúde do Rio esclarece que está acompanhando o comportamento da nova variante, referente aos números de casos, internações e óbitos, assim como a evolução da vacinação da população com a dose de reforço.

E que qualquer alteração no mapa de risco, nas medidas restritivas, ou na necessidade de abertura de novos leitos, por exemplo, passam pela análise criteriosa dos dados epidemiológicos e que novas medidas e estratégias poderão ser adotadas conforme necessidade.

'No momento, a SMS-Rio orienta que a população mantenha o distanciamento, use máscaras e higienize as mãos com álcool 70 ou, quando possível, água e sabão; além das demais medidas de proteção à vida', diz a pasta.

O vereador Tarcísio Motta (Psol) defende que os trabalhadores da maior festa do país não fiquem desamparados com o adiamento do carnaval. Ele criticou pelo Twitter os atuais eventos permitidos, sem fiscalização de distanciamento e sem uso de máscaras.

"E as aglomerações de agora dos mais variados tipos? Falta um plano de ação imediata para conter a transmissão hoje! E o auxílio aos trabalhadores? A nova data engloba Sapucaí, Intendente, bate-bolas e blocos?"

Erro fatal

Segundo a infectologista Tânia Vergara, considerar apenas o carnaval na Sapucaí como ofensor para a proliferação do vírus é um grande erro.

"O carnaval é a maior festa do Rio de Janeiro e de muitos outros estados. Participam dele milhares de pessoas, que vêm de todos os lugares. O desfile é o desfecho e, obviamente, envolve uma probabilidade maior de contágio, mas há toda uma preparação, ensaios, locomoção etc. Entretanto é um erro — que eu chamaria de fatal — responsabilizar apenas os desfiles pelo maior risco de disseminação do vírus"

Praias

Por conta das altas temperaturas do verão, as praias do Rio e Niterói ficaram lotadas neste semana. Uma briga generalizada foi flagrada nas areias da Praia de Itacoatiara, na Região Oceânica, na tarde deste domingo (23).

Quem presenciou a cena disse que a confusão acabou rapidamente, mas o motivo não foi esclarecido. A Guarda Municipal não chegou a ser acionada.

A Secretaria de Estado de Polícia Militar, através da Operação Verão, conta que reforçou o policiamento em toda a orla de Niterói, incluindo ações de abordagem nas vias de acesso em Itacoatiara.

A SOAMI (Sociedade dos Amigos e Moradores de Itacoatiara) disse ao Enfoco que tomou conhecimento das imagens e afirmou estar em 'profunda tristeza' com o ocorrido.

A SOAMI conta que vem buscando sensibilizar as autoridades responsáveis para que esse processo seja estancado e considera que a única saída para a situação é o trabalho colaborativo entre as forças públicas envolvidas, com uma presença preventiva e ostensiva ao longo do espaço da praia.

'A fim de evitar que um dos patrimônios naturais mais importantes da cidade continue a ser dilapidado a cada dia de sol'.

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