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Polícia rebate versão da família no caso de lutador morto em SG

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|  Foto: Foto: Karina Cruz
Reprodução simulada foi realizada na tarde desta terça-feira (4). Foto: Karina Cruz

"Tudo leva crer que o Vítor era dependente químico. Não estamos falando que ele era bandido. Não há duvidas sobre a autoria do disparo, foram os próprios policiais militares. O próximo passo é descobrir se ele estava na companhia de outros traficantes da região e se houve algum excesso por parte dos militares". O relato é do delegado Leonardo Macharet, titular da Delegacia de Neves (73ªDP), responsável pela investigação da morte do lutador Vítor Reis da Silva, de 19 anos, ocorrida, em dezembro do ano passado, durante uma incursão policial de policiais militares do Batalhão de São Gonçalo (7ºBPM) no Morro da Jaqueira, no bairro Patronato, em São Gonçalo.

Horas após a morte do lutador, que atuava em competições de boxe e muay thai, familiares e amigos da vítima iniciaram uma enxurrada de mensagens através das redes sociais defendendo a inocência da vítima e acusando policiais militares do batalhão gonçalense de serem os responsáveis pela morte do jovem atleta. Um dos mais efusivos após a notícia do falecimento do morador do Morro da Jaqueira era o pintor Valneci Ferreira, pai de Vitor. Na versão do familiar, não houve confronto entre policiais e traficantes e um único disparo teria sido feito pelos agentes, atingindo seu filho que, segundo ele, saía de um estabelecimento comercial.

Pai do lutador afirma que filho é inocente e que espera pela justiça. Foto: Arquivo/Alex Ramos

“Quero deixar claro que não teve nenhum confronto como eles vem dizendo. Acredito que quando erramos, devemos assumir o erro e buscar os responsáveis por isso. Meu filho era inocente, nunca fez mal a ninguém e agora teve a vida ceifada por uma equipe despreparada. O que será da minha vida? Dos meus outros filhos? Da minha esposa? Ele era muito colado a nós, sempre foi uma pessoa muito educada e teve a vida encerrada dessa forma. É muito triste”, disse o pai da vítima.

Vítor Reis foi morto em dezembro do ano passado no Patronato. Foto: Arquivo Pessoal

Entretanto, na versão do titular da Delegacia de Neves (73ªDP), alguns pontos observados pelo pai da vítima não batem com as observações feitas pelos agentes durante a reprodução simulada feita no local do ocorrido, nesta terça-feira (4), no Morro da Jaqueira. Segundo Macharet, que esteve presente na reunião do Conselho Comunitário de Segurança de São Gonçalo, na manhã desta quarta-feira (5), o local em que Valneci teria relatado que Vítor foi atingido não tinha nenhuma marca de disparo, o que afasta a possibilidade de que os policiais teriam entrado naquela região e efetuado os tiros que atingiram o lutador.

"A reprodução simulada que fizemos ontem [terça] foi bastante esclarecedora no que diz respeito a entender o que aconteceu naquele dia. Descobrimos que houve dois confrontos durante aquela incursão dos policiais e o Vítor foi atingido por um disparo quando estava em uma laje localizada naquela comunidade. Fomos até o estabelecimento comercial onde ele teria sido atingido e não encontramos qualquer marca de tiro. Além disso, o próprio proprietário do bar alegou que não viu o Vítor no dia do ocorrido. Tudo leva crer que ele era um dependente químico, mas a investigação segue em curso. Em alguns momentos, as falas dos familiares não condizem com a verdade".

Macharet afirmou que o próximo passo da investigação é ouvir o pai da vítima, além de outras duas testemunhas do ocorrido, que são aguardados nos próximos dias para as oitivas referentes ao inquérito policial. Segundo ele, o procedimento investigativo deve ser concluído até o fim do mês. O titular da distrital afirmou que existe a possibilidade de uma acareação entre familiares, testemunhas e policiais envolvidos na ação em caso de ausências de informações após a finalização das oitivas.

Reconstituição contou com aparato da elite da Polícia Civil

Com apoio de blindado e viaturas da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE), a elite da Polícia Civil, foi realizada a reprodução simulada do caso do lutador Vítor Reis da Silva, de 19 anos. A ação contou com a participação de cinco peritos, incluindo Denise Rivera, delegada e assessora Técnica Especial da Secretaria de Polícia Civil.

Reprodução simulada contou com forte aparato policial. Foto: Arquivo/Karina Cruz

A reprodução simulada durou cerca de duas horas e serviu para esclarecer alguns pontos, como o local da perfuração no corpo da vítima. Na ação, foi possível constatar que o tiro que matou o lutador entrou na lateral direita do corpo e saiu pelo ombro. No local da reprodução, Macharet afirmou que a ação foi importante para a elucidação do caso.

"Nós conseguimos identificar o local para onde o Vítor teria corrido, e posteriormente teria sido encontrado já baleado pelos policiais militares. O local ainda tava sujo de sangue e nós conseguimos colher material, só para certificar de que o sangue realmente seria do Vítor", concluiu Macharet.

MP investiga ação do 7ºBPM

Um Procedimento Investigatório Criminal (PIC) foi instaurado pelo Ministério Público para apurar as circunstâncias que envolveram a morte do lutador Vitor Reis, de 19 anos, em São Gonçalo.

Segundo o órgão, agentes do Grupo de Apoio aos Promotores de Justiça (GAP/MPRJ) já estiveram no Morro da Jaqueira, no bairro do Patronato, local onde aconteceu o crime, com a finalidade de identificar eventuais testemunhas e fazer levantamento das câmeras de segurança para possível recolhimento de imagens que possam auxiliar na investigação.

Ministério Público instaurou um Procedimento Investigatório Criminal (PIC) para investigar a ação da Polícia Militar. Foto: Arquivo/Marcelo Tavares

A promotoria informou também que manteve contato com o pai da vítima e que toda prova produzida no inquérito policial será analisada e aproveitada junto ao procedimento instaurado.

Mortes por intervenção do Estado aumentaram em SG

Segundo um levantamento feito pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), o município de São Gonçalo registrou um aumento no número de casos de mortes por intervenção do Estado nos onze primeiros meses de 2021. De acordo com os dados, a cidade registrou 202 registros dessa magnitude, um aumento de 5,8% com relação ao mesmo período de 2020.

Mortes por intervenção do Estado aumentaram em SG nos onze primeiros meses de 2021. Foto: Arquivo/Enfoco

Já com relação a novembro do ano passado, último mês com dados disponibilizados pelo instituto, a cidade registrou 18 casos, uma queda de 10% com relação ao mesmo de 2020, quando 20 casos dessa magnitude aconteceram.

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