Polícia
Tráfico expulsa empresa de internet na Região Oceânica
Criminosos ligados à facção criminosa Comando Vermelho (CV) expulsaram uma empresa provedora de internet do Engenho do Mato, na Região Oceânica de Niterói. Em dezembro do ano passado, três casos de ameaças a trabalhadores que faziam reparos no bairro foram registradas na Delegacia de Itaipu (81ªDP), que instaurou um inquérito para identificar os responsáveis por essas ações criminosas.
Após as recentes ameaças e investidas criminosas com o objetivo de monopolizar o serviço na região, a empresa divulgou um comunicado através das redes sociais se posicionando sobre os casos e relatando as ameaças contra as equipes.
“Aos Moradores do Engenho do Mato. Pela 3ª vez no mês de dezembro, nossas equipes foram expulsas da localidade. Todas as ocorrências devidamente documentadas na 81ª Delegacia Policial. Temos clientes com chamados na localidade, alguns por sabotagem clara na rede, e não poderemos atender. Os meliantes agora impedem até a chegada em condomínios. Não é novidade que nenhuma outra operadora faça mais investimentos na região e estamos trabalhando junto com as autoridades para resistir e não entrarmos neste grupo”, diz um trecho do comunicado divulgado em uma rede social da empresa.
Após os recentes casos, a empresa de internet informou que não está enviando equipes para alguns locais do bairro, já que, em alguns casos, os funcionários chegaram a ouvir dos criminosos que eles iriam “caçar-los” em caso de novas visitas.
A equipe do Enfoco foi até o bairro, nesta terça-feira (4), e ouviu relatos de moradores de áreas próximas às comunidades que relataram a expulsão da empresa e que tem causado transtornos para quem reside no bairro. Os criminosos obrigam os 'clientes' a consumirem a internet clandestina oferecida por eles que possui uma qualidade bem inferior às empresas legalizadas, dizem os moradores.
“Nessa história toda quem sofre são os moradores de bem, que contam agora com uma internet péssima. E quem tem coragem de reclamar? Quem mora em comunidade sabe como funciona com que reclama de bandidos. Esperamos que a polícia entre em ação e possamos a voltar a ser como era antes. Moro aqui há mais de vinte anos e nunca tinha passado por isso”, disse um servidor público, que preferiu não se identificar.
Questionado sobre a investigação dessa prática criminosa, o delegado Fábio Barucke, titular da Delegacia de Itaipu, afirmou que a distrital segue monitorando as ações criminosas e que conseguiu avançar nas últimas semanas com a identificação de um dos envolvidos e o pedido de prisão do chefe do tráfico local, conhecido como João Coroa.
“Estamos apurando esses fatos recorrentes e, antes do Natal , conseguimos um reconhecimento de um autor e pedi prisão por extorsão. A dificuldade está em cessar essa atividade que tem a proteção do tráfico. Além disso, pedi a prisão do chefe do tráfico do Engenho do Mato por autor mediato e estamos aguardando decisão judicial. Esses criminosos se utilizam de outras pessoas para realizar os ilícitos. Um deles, segundo as nossas investigações, é o João Coroa, por isso pedi a prisão dele”, disse o delegado.
Responsável pelo policiamento, o Batalhão de Niterói (12°BPM) informou, através do comando da unidade, que segue realizando ações com o intuito de coibir ilícitos no bairro.
“O 12°BPM segue realizando patrulhamentos rotineiros em toda a nossa área de atuação para coibir toda e qualquer ação criminosa. Isso vale também para o Engenho do Mato, que é uma área de extrema importância para o município de Niterói”, disse o comandante da unidade, tenente-coronel Marcelo Carmo.
Expansão
Uma investigação da Delegacia de Itaipu mostra que os criminosos vêm utilizando o serviço para aumentar a lucratividade em diversos pontos de Niterói. Segundo a polícia, a prática é realizada pelo fato de ser uma renda fácil e acontecer de forma "silenciosa".
“Nós estamos investigando a informação de que criminosos estão utilizando o ‘gatonet’ para expandir os seus lucros. Isso acontece devido ao 'gatonet' ser uma atividade altamente lucrativa. Seguimos com o procedimento investigativo nessas regiões e buscaremos reprimir toda e qualquer ação criminosa”, concluiu o delegado.
Em julho do ano passado, moradores do Cafubá ficaram sem internet em razão desse modus operandi dos bandidos. Criminosos ligados ao Comando Vermelho (CV), cortaram cabos de conexão do serviço em parte do bairro.
Denúncias feitas por moradores daquela região apontaram que a intenção dos traficantes é obrigar moradores a contratarem o serviço de internet fornecido por eles. A suposta empresa que oferece pacotes entre R$ 39,99 a R$ 139,99, apontada por moradores como ligada aos traficantes, negou a informação.
Lucro de R$ 1 milhão
Com uma clientela de mais de 20 mil clientes e um faturamento mensal bruto estimado em mais de R$ 1 milhão, uma empresa ligada a traficantes do Comando Vermelho (CV) que cobra e obriga moradores a consumirem serviços clandestinos, como telefonia e TV a cabo, em comunidades no Rio de Janeiro, foi descoberta por policiais civis, em novembro do ano passado. Um dos locais de atuação dos criminosos é a comunidade do Jacaré, na Região Oceânica de Niterói. Além da localidade niteroiense, o grupo criminoso atua em favelas da cidade do Rio de Janeiro, Cabo Frio e São João de Meriti.
Uma investigação realizada pela Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados (DDSD) conseguiu detectar uma empresa localizada na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, que funcionava como base da quadrilha. Segundo a polícia, a empresa prestadora de serviço de distribuição de sinal de internet, telefonia e TV a cabo paga valores semanais às lideranças do tráfico das comunidades para que outras empresas que prestam o mesmo serviço sejam impedidas de atuar nesses locais, criando-se assim um monopólio que favorece o provedor associado ao crime organizado.
Ainda segundo a polícia, diversos relatos feitos por funcionários de empresas como Oi, Vivo e Claro, revelam que os traficantes, aliado da empresa, expulsam os técnicos que tentam instalar redes que não sejam do provedor associado ao tráfico, fazendo ameaças com emprego de armas de fogo. Além disso, como forma de demonstração de força, também vandalizam as redes instaladas, cortando cabos e ateando fogo em equipamentos, além de impedir com ameaças o reparo dessas redes pelos funcionários das concessionárias.
Perdeu documentos, objetos ou achou e deseja devolver? Clique aqui e participe do grupo do Enfoco no Facebook. Tá tudo lá!