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    Vale o Escrito escancara o escárnio da impunidade no Brasil

    Série documental mergulha no universo do jogo do bicho

    Publicado 10/11/2023 às 20:40 | Autor: Cícero Borges
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    Imagem ilustrativa da imagem Vale o Escrito escancara o escárnio da impunidade no Brasil
    |  Foto: Reprodução de vídeo
    Globoplay

    A jogatina do bicho há séculos paira no submundo não só das contravenções, mas também do crime. Personagens do folclore carioca dão as caras e falam abertamente sobre os seus ‘trabalhos’.

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    Apesar de não ser um assunto que traga muitas novidades, a nova série do Globoplay ‘Vale o escrito: a história do jogo do bicho’, é bem montada e, dirigida por Fellipe Awi, traz elementos, nuances, tragédias e dilemas relacionados ao segmento, dentro de um roteiro de docudrama pitoresco.

    São sete episódios que, ao final de cada um, sempre fica uma sensação de medo e curiosidade. A chance de assistir tudo de uma vez é grande.

    Rico na fotografia, a trama amarra de forma bastante didática as histórias, com falas que deixam qualquer um perplexo e de estômago revirado.

    Com direito a narração de Pedro Bial para juntar algumas peças deste tabuleiro, que acabam — naturalmente — soltas, ali, na cadeira do entrevistado, estão famílias e herdeiros dos homens mais poderosos do Rio de Janeiro. É a primeira vez que falam abertamente sobre desavenças e tramas tendo como principal motivo o jogo do bicho. Impressiona nas falas a naturalização dessas atividades e onde tudo isso termina. Vemos famílias em frangalhos e esfaceladas, a ponto de não sobrar quase ninguém. É a guerra invisível. Ou quase!

    Castor de Andrade

    Figuras como Rogério Andrade, sobrinho e herdeiro a qualquer custo de Castor de Andrade, dono de um dos maiores monopólios da atividade listam entre os participantes. E temos ainda Bernardo Bello, que ao entrar na família Garcia, que geria os ‘negócios’ e tinha o Salgueiro como pano de fundo, acabou se tornando inimigo número 1 do mesmo Rogério Andrade, que também herdou a mocidade do tio.

    A linha de raciocínio é tão minuciosa que chega a relacionar com a morte da vereadora Marielle Franco, executada dentro de seu carro junto com o motorista Anderson Gomes, em março de 2018. Dali, nomes conhecidos como Fabrício Queiroz, acusado de comandar o esquema de rachadinhas dentro do gabinete da Alerj do hoje senador, Flávio Bolsonaro; Ronnie Lessa, apontado como o executor da parlamentar, e até Adriano da Nóbrega, descrito por sua mulher como um homem ‘maravilhoso’.

    Roda da fortuna

    É como uma roda, um espiral do jogo do bicho, onde os nomes vão surgindo e fazendo crescer a atividade.

    O herdeiro do octogenário Capitão Guimarães, Luizinho Guimarães, é quem vai, possivelmente, gerir os ‘negócios’ do pai, que não nega que é bicheiro. Luizinho, de 25 anos, em casa, guarda quadros e menções à máfia italiana, e diz se inspirar nos lemas dos Corleones, clássico sobre a atividade no cinema e obra prima de Coppola.

    É duro assistir aos ‘senhores’ dentro de suas mansões. Empoderados, circulando como deuses em seus redutos. Imunes e impunes. A Justiça não pune a contravenção com pena de prisão. Muitas vezes, vão pra cadeia por associações ou lavagens de dinheiro. Morte e assassinatos, jamais esclarecidos, ficam difíceis de serem colocados na conta de alguém. Mas o jogo tá aí e precisa continuar sendo jogado. Seja pela chamada ‘cúpula’ (reunião dos antigos bicheiros), seja pelos filhos da ‘cúpula’.

    Voltando ao nome da série, a famosa frase serve para confirmar o que se escreve no papel de quem escolhe algum bicho e espera que dê ‘na cabeça’. Um atestado de legalidade a uma atividade ilegal. Se escreveu, tá correto. Afinal, vale o que está escrito.

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