Crise

Os valores essenciais da civilização

Vemos a corrupção da inteligência e o sepultamento do pensar

Sociedade acostumou-se com a bizarrice, a mediocridade e a burrice, com a ideologia e a politicagem sem-vergonha
Sociedade acostumou-se com a bizarrice, a mediocridade e a burrice, com a ideologia e a politicagem sem-vergonha |  Foto: Reprodução
 

Estive, esse fim de semana, em Londrina, participando do 3°FORUM EDA – Educação, Direito e Alta Cultura, capitaneado por um casal muito querido e admirado por mim, a Cláudia e o Edson Piovezan, este fundador da Editora de mesmo nome – EDA.

O evento reuniu, nessa edição, que foi adiada por conta da pandemia, pois seria realizada em 2020, grandes nomes da literatura, da educação, do jornalismo e do Direito, como seu próprio nome já indica, para que fosse abordado um tema que muito me interessa: a crise na civilização.

Esse tipo de encontro busca demonstrar, por meio de evidências colhidas nas artes, na educação e na aplicação do Direito, como a sociedade acostumou-se com a bizarrice, a mediocridade e a burrice, com a ideologia e a politicagem sem-vergonha. Vemos, hoje, a corrupção da inteligência e o sepultamento da capacidade de pensar de cada indivíduo, por si mesmo e tirando suas próprias conclusões.

A educação clássica, tão essencial na formação do ser, através da leitura de grandes obras, do desenvolvimento da capacidade intelectual e da identificação das aptidões, foi sendo deixada de lado. Em seu lugar, entraram discursos repletos de ideologia, amparados por livros igualmente tendenciosos e aulas ministradas por verdadeiros militantes políticos. Esvaziou-se a educação, na busca por um resultado: a alienação. E parece que tem dado certo.

O conceito de universidade, que nasceu na Idade Média como local de estudos e debates, por meio dos quais extraiam-se a verdade e a sabedoria, foi totalmente deturpado, nos dias atuais. Temos, hoje, nas Faculdades, meros centros reprodutores de diplomas, saindo o aluno tão ou até mais ignorante, do que entrou.

Não há um compromisso intelectual, um critério moral de formação integral do ser, como se buscava, ao tempo em que a noção de universidade começou. A reunião de grupos de intelectuais, em bibliotecas inicialmente existentes em mosteiros e catedrais, para o estudo de temas relevantes, foi o embrião desses centros do saber. Era imperioso que fossem ministradas, aos alunos, as ciências fundamentais, a fim de que estes fossem ramificando o seu saber, para áreas de seu interesse pessoal. Mas a

base estava ali, sempre posta, tendo esse tipo de ensino superior tido, como sua ciência inaugural, a filosofia.

Hoje, não há base sólida ou pedra filosofal. Há Faculdades sobre todos os assuntos, cursos diversos. Somente no Brasil, há mais de 1200 faculdades de Direito registradas, mais do que todas as do restante do mundo, reunidas. Entretanto, o que ali se ensina é ideologia, pura e simples. Grandes autores, grandes obras, sequer passam pelas portas dessas instituições públicas e privadas, que se transformaram em verdadeiros supermercados de ensino.

Ali lê-se Foucault, Habbermas, Marcuse, Antonio Gramsci, Karl Marx e outros. A diversidade de idéias, base dos debates da universidade, em seus primórdios, não existe mais. Há um só inimigo a combater: a estrutura conservadora. Nada do que deu certo, na História da Civilização, deve ser preservado. Ao contrário, deve-se criar um mundo novo, composto de pensamentos e comportamentos de vanguarda, no qual é proibido questionar-se a nova ordem social.

Mas, se o que deu certo, para a Humanidade, deve ser descartado, como teremos exemplos a seguir, escritores e artistas para admirar, comportamentos virtuosos para copiar, conhecimento ancestral para adquirir? Não teremos. E o pior disso tudo é: não teremos fontes de comparação, se tudo que veio antes de nós for destruído.

E é isso que os progressistas mais desejam: criar uma civilização do zero, na qual o certo e o errado confundem-se , misturam-se e relativizam-se, até que não se saiba mais em que acreditar. É tão importante destruir o que deu certo, incluindo-se a beleza, os valores morais, a religião e a própria noção de civilização, para que não haja contestação, à nova estrutura social que se apresentar.

Assim, a primeira geração que testemunhou as mudanças de paradigma, nos anos 60, demonstrou estranhamento. A segunda, indiferença. A terceira, adaptou-se. E é isso que vivemos, nesse século 21, com gerações que se sucedem: aceitamos o inaceitável, pois não nos insurgimos contra esses absurdos, quando estes surgiram.

É por isso que precisamos de mais e mais iniciativas, como o Fórum EDA. Para que nos lembremos da educação clássica. Da alta cultura. Da literatura. Dos grandes pensadores da Civilização, que nos precederam e

criaram o que herdamos. Dos heróis que morreram, para que tivéssemos liberdade. Dos gigantes, sobre os ombros dos quais podíamos nos equilibrar.

A Humanidade perde, a cada dia que passa, sabedoria, valores, liberdade e exemplos. Para os que chegam na universidade, só restam ideologia e diploma. Tão valorizado e de tão pouca importância prática, o diploma virou o passaporte profissional, para a entrada no mercado de trabalho. E é somente isso que ele representa – um pedaço de papel, a ser exibido.

Porque não se sai da Faculdade mais inteligente do que se entra. O que adquire-se, na passagem por lá, é um discurso progressista, demolidor e identitário, de pensamento uno e avesso ao debate ou a questionamentos. O conhecimento de qualidade está cada vez mais escasso, difícil de ser encontrado.

Luiz Vergilio Dalla Rosa, em seu maravilhoso livro O Direito Perdido de Si, editado pela Armada, discorre sobre isso. No quanto deturpou-se o ensino e em como o Direito está irreconhecível, nessa nova versão de Universidade que temos , por aqui. Não temos instituições de ensino: temos fábricas de ideologia perversa.

Portanto, meus amigos, mãos à obra! Vamos fazer lives, escrever artigos, publicar livros, dar aulas, ocupar espaços. Vamos pôr pra fora o que está dentro de nós e que não pode ser calado. Vamos escolher as guerras que queremos lutar, optando pelas que merecem nossa atenção, já que a alta cultura está sendo bombardeada por todos os lados.

E se você não tem certeza de que pode fazer isso, comece. Apenas comece. Conversando com o vizinho, com o colega do trabalho, com o amigo da igreja, com seus filhos, parentes... e essa corrente do bem, na qual estive inserida no último fim de semana, renderá frutos e se espalhará por aí, recuperando o bom, o belo e o verdadeiro, que têm sido tão espezinhados, sacrificados e vilipendiados na modernidade! Nunca é tarde para salvar a Civilização! As gerações futuras agradecem!

Erika Figueiredo - Filosofia de Vida

Erika Figueiredo - Filosofia de Vida

Promotora de justiça.

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