Pertencimento

Sempre falo que todos nós procuramos pertencer a algo ou a algum lugar. Fazer parte de um projeto, um grupo social, uma associação de pessoas, ideias, religião, hobbies. O homem é um ser gregário, embora nasça e morra só.

Acontece que esse desejo ou sensação fica profundamente abalado, quando começamos a questionar o nosso entorno. Seus valores. As ideias compartilhadas. Os projetos e sonhos. A percepção da realidade.

No momento em que rompemos com a estrutura em que estamos inseridos, porque percebemos nesta algumas incongruências, criamos um outro tipo de situação: a crítica alheia sobre o nosso comportamento.

É por essa razão que a intelectualidade e a busca da verdade são, na maior parte das vezes, o início de uma busca solitária. Porque para participarmos de grupos, não podemos pôr à prova aquilo que o coletivo elegeu como prioritário, certo, imutável, verdadeiro.

Mas, não há como avançar nos pensamentos e na busca de algo a mais, que justifique a nossa existência e nos leve a algumas respostas sobre por que estamos aqui, sem questionar...

Tosltói precisou isolar-se, para começar a escrever. Romper com antigos padrões e atitudes, comportamentos e pessoas. Como ele, a maioria dos grandes pensadores e escritores que valem a pena serem lidos e estudados.

Muitos foram imensamente criticados, boicotados, desacreditados publicamente, por trazerem luz sobre verdades inconvenientes, que a poucos interessavam, naquele momento. Outros tantos, foram presos e mortos por regimes autoritários nos quais estavam inseridos.

Mas certo é que, uma vez que começamos a descobrir o que está por trás de todo o verniz social – e isso envolve todo tipo de assunto e toda a estrutura da sociedade – nunca mais seremos os mesmos.

Seja quem você for, sempre será possível buscar a verdade. Isso, contudo, requer um maior entendimento da vida, das pessoas, das reações e comportamentos, dos interesses envolvidos em cada situação e do que está em jogo, quando se questiona algo.

Portanto, para buscar a essência das coisas, você precisa se tornar mais inteligente e mais sábio, para que possa ter um olhar atento para as entrelinhas, o que não foi dito, o que se encontra oculto, por trás dos padrões predeterminados.

A difícil constatação de que, ao pertencermos a grupos, não conseguimos ter um pensamento próprio, não contaminado pelo nosso entorno, faz com que entendamos que a busca pelo que é bom, justo, verdadeiro e belo é solitária.

Então, se você está tendo dificuldades em se manter popular e aceito por todos, ou em pertencer a muitos grupos e circular por inúmeros eventos, esse é um bom sinal: talvez você esteja começando a ter contato com o seu eu verdadeiro, refletindo sobre seus pensamentos e atitudes, tentando estabelecer uma coerência entre o que você é e o que você faz.

Que você possa descobrir, diariamente, quem você é e qual é o seu propósito nessa vida. No final das contas, isso é o que fica. E é esse indivíduo que você construir, ao longo da jornada, que vai te acompanhar até o seu último dia. Aprenda a ser feliz consigo mesmo. Essa é, por si só, uma grande conquista nos dias de hoje.