Afinidades
Vamos falar de amor: escolhas e os relacionamentos que valem a pena
Erika Figueiredo provoca uma reflexão sobre as formas de afeto
Enquanto escrevo este artigo, lembro-me que o último dia 19 foi o Dia de São José e agradeço-lhe, silenciosamente, por tanto amor e tanta generosidade. Foi graças a ele, à sua firmeza moral e à sua postura de fé e lealdade, a Maria e a Deus, que Jesus teve uma família unida e acolhedora, que serviu-lhe de base e alicerce. José sacrificou-se por amor, ouviu piadas, foi desacreditado, humilhado, julgado. Mas aguentou a barra, sem reclamar, por amar e confiar.
Portanto, esse é um texto sobre o amor. Para os que estão em uma relação amorosa, para os que buscam uma, para os que duvidam que possam encontrar, para os que estão de coração partido... Sempre será atual falar desse sentimento tão poderoso, que a todos mobiliza e por todos é perseguido, ao longo da vida terrena.
A maturidade me ensinou que tantos estão infelizes e vazios por um simples motivo: o amor verdadeiro não pode ser utilitário. O que significa isso? Bem, nós não podemos selecionar pessoas por aquilo que elas têm para nos fornecer. Isso não é amor, é relação de interesse. Amar envolve gostar em qualquer circunstância, apesar de. Como José amou Maria, apesar de ela estar carregando um filho que não fora concebido por ele.
Do mesmo modo, não há como preparar-se para receber o amor. Ele simplesmente acontece. Evidentemente, é possível ir se aperfeiçoando como pessoa, amadurecendo, galgando camadas de personalidade. A partir daí, será possível fazer escolhas melhores, interessar-se por pessoas que combinem com você. Mas quando ele chegar, é preciso ser corajoso para agarrá-lo, porque amar se aprende amando, assim como andar de bicicleta.
E como seria alguém que combina com a gente? Como identificar quando isso acontecer? Acredito firmemente (e só a experiência me trouxe isso), que a máxima de Santo Tomás de Aquino, idem velle et idem nolle aqui se aplica, como uma luva . Em latim, esta expressão quer dizer “quem ama e repele as mesmas coisas que você”.
Questão de afinidade
Porque esse papo de que os opostos se atraem só serve para novelas e filmes de hollywood, onde quanto mais briga e confusão, reviravoltas e separações, maior a audiência e a bilheteria. Na vida real, apenas a afinidade, a convergência de ideias e de interesses, podem render uma boa união. A convergência de opiniões, interesses, valores e ideais é primordial, para que duas pessoas sigam juntas.
Ter projetos em comum, olhar na mesma direção, ter os mesmos sonhos, desejos e planos, buscar no outro apoio e abrigo, gostar de ficar junto, da companhia e, sobretudo, da CONVERSA, isso é o que produz uma relação bem sucedida.
Se a presença do outro não bastar, em muitos momentos, para você, vai ser difícil quando precisarem atravessar o deserto juntos. Pois os desertos chegam , para todos nós. Será preciso encontrar a força e a coragem. Mas, como atravessar o deserto brigando, discutindo, divergindo em tudo, competindo, desmerecendo, desacreditando? Difícil, não é mesmo? Por isso, é necessário que sejam almas afins...
Entretanto... o que mais vemos , hoje, são as escolhas equivocadas, baseadas em critérios rasos, meramente exteriores, em bens concupiscíveis, e não em bens irascíveis. Mas o que é isso??? Eu explico: Os primeiros são bens que nos dão prazer imediato, de fácil aquisição, bens que nos trazem um pequeno gozo, e não nos marcam ou impactam profundamente.
Quando você escolhe alguém pelo corpo, pelo dinheiro que possui, pelo carro, pela carreira, pelo que pode te proporcionar, está-se fazendo um pacto com uma relação concupiscível, consumível, de prazer imediato, pelo que esta pode te dar. Uma relação utilitária, mas que não será capaz de marcar-lhe a alma, tocar-lhe o coração, transformar você intimamente.
Depois de algum tempo, o vazio se instala, pesando no meio deste casal, que não extrai dessa relação, nada de profundo e verdadeiro, e que valeu-se do que ela poderia fornecer, mas não tem mais motivos para ali permanecer, se esses elementos se esgotam.
Assim, o rapaz que se casou com a 'gostosa da academia' somente por esse motivo, para exibi-la como um troféu, após a gravidez da esposa, procurará outras mulheres, pois esta não representa mais o que ele desejava, quando a ela se uniu.
Se a moça casa-se com o homem por dinheiro, no primeiro revés da vida ( e eles acontecem), ela se separa dele, ou procura um outro com boa situação financeira, a fim de substituir o seu provedor, mantendo-se na mesma situação que buscou, anteriormente.
Se o que se busca é um parceiro de aventuras e viagens, como se a vida fosse uma eterna festa, ao menor sinal de doença ou cansaço, de um dos dois, o outro reclama, sai sozinho, abandona o barco. Afinal, o que queria era companhia e diversão, e não os problemas e as dificuldades inerentes a qualquer relação. E elas existem.
Maturidade
Ao longo da vida, à medida em que vamos amadurecendo, vamos percebendo que os momentos mais preciosos são os que vivemos na intimidade, com nossos amores, filhos, amigos. Nada pode substituir a felicidade de ter os afetos sinceros, ao redor.
Somente poderá sentir essa plenitude, e atravessar todos os problemas e obstáculos da existência, ao lado de seus amores verdadeiros, aqueles que souberem escolher os bens irascíveis, de difícil aquisição, que demandam crescimento e evolução moral e espiritual, mas nos geram ganhos de caráter permanente, ganhos imateriais. Aqueles que precisamos conquistar.
Apenas os ganhos imateriais, que decorrem dos sentimentos, das virtudes e dos valores elevados, permanecem. Só estes são duradouros, imperecíveis, imanentes.Por isso, a regrinha de ouro, para que se encontre um amor verdadeiro, é ir em busca de uma conexão baseada em ideias, virtudes, admiração, respeito, sentimentos, bem querer.
Evidentemente, a atração física é necessária e bem vinda. O primeiro fator que nos desperta para o outro é o desejo. Caso contrário, essa relação será de mera amizade, não vale a pena insistir no romance. Mas se, ultrapassada a etapa do desejo, os sentimentos e a admiração não subsistem, tampouco o desejo de elevar o outro, fazê-lo feliz, esqueça.
José morreu cedo, mas amou profundamente Maria, Jesus e seus outros filhos – estes sim biológicos – até o fim. Seu propósito de elevar sua esposa ao céu fez com que este homem suportasse tudo, sempre com grande altivez e enorme sabedoria. Tratou Jesus sem distinção, ensinando-lhe respeito, humanidade, amor, generosidade e bondade. E entrou, ele também, no céu. Viveu uma vida com sentido, à medida em que valorizou as coisas certas.
Aos que desejam amar, uma dica: busquem valores imateriais, persigam no outro bens irascíveis, almejem a construção – da relação e de vocês, ao mesmo tempo, como casal e como seres humanos. Estamos em eterna evolução, e isso aplica-se aos nossos parceiros, a quem temos que dar a mão, caminhando juntos.
Felicidade
A dificuldade do encontro da verdadeira relação de amor é grande, mas será proporcional à sua felicidade, ao desfrutar de algo verdadeiro, que te complete, recheando sua vida de sentimentos sinceros e ideais elevados. Idem velle et idem nolle. Não desistam. Orem e confiem em Deus. E foquem no que merece atenção.
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