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    Vale dos Suicidas em Niterói: veja o local de gravação de 'A Viagem'

    Cenário do Umbral foi montado em pedreira no Barreto

    Publicado 19/07/2025 às 6:36 | Autor: Tayná Ferreira
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    O cenário Vale dos Suicidas, gravado em Niterói, foi um dos principais cenários da novela 'A Viagem', exibida em 1994
    O cenário Vale dos Suicidas, gravado em Niterói, foi um dos principais cenários da novela 'A Viagem', exibida em 1994 |  Foto: Péricles Cutrim

    Você assistiu, em 1994, ou assiste hoje em dia, na reprise, à novela 'A Viagem'? Um dos cenários mais marcantes da trama, o Umbral, conhecido como o Vale dos Suicidas na trama, foi montado no Barreto, em Niterói. O ENFOCO foi até o local para ver como local está atualmente e conversar com moradores que acompanharam as movimentações das gravações na época.

    As cenas foram gravadas dentro de um condomínio residencial localizado na Rua Doutor Horácio Campos, onde existia uma pedreira desativada que serviu de cenário. À época, casas próximas foram alugadas para que os atores pudessem trocar de figurino e descansar entre as gravações. Atualmente, a área ao redor da antiga pedreira é cercada por residências.

    'A Viagem' marcou uma geração ao unir espiritismo, drama e uma estética sombria que causava tanto fascínio quanto temor. Escrita por Ivani Ribeiro, a novela tem forte inspiração na doutrina espírita de Allan Kardec. Com uma produção ambiciosa, recriou de forma simbólica e inventiva cenários espirituais como o Céu e o Vale dos Suicidas.

    Paisagem sombria

    O Vale dos Suicidas é uma representação do Umbral, para onde vão os espíritos que tiraram a própria vida. Foi para esse lugar que personagem Alexandre (Guilherme Fontes) foi levado após a morte.

    O personagem Alexandre (Guiherme Fontes) no Vale dos Suicidas, gravado em Niterói
    O personagem Alexandre (Guiherme Fontes) no Vale dos Suicidas, gravado em Niterói |  Foto: Reprodução

    O espaço escuro, sombrio e angustiante, era habitado por espíritos atormentados, que ali permaneciam até alcançarem arrependimento. Alexandre, já em forma de 'espírito', era o personagem central desse cenário, para onde retornava sempre após praticar suas maldades.

    A aposentada Ângela Branca, que acompanhou de perto as gravações da novela, relembra como era a movimentação intensa no local. Segundo ela, havia muitos seguranças espalhados por toda a área. Ângela morava proxímo à pedreira onde as cenas foram filmadas.

    "Eu já entrei lá, mas só quando o diretor permitia. Levava as crianças também", contou, lembrando que moradores próximos à sua casa eram selecionados para participar das cenas como figurantes. "Eles colocavam as pessoas na Kombi e levavam para gravar a cena em que se arrastavam no chão."

    Ao acompanhar as gravações de perto, Ângela teve a oportunidade de conhecer diversos atores do elenco, como o próprio Guilherme Fontes, Christiane Torloni (Diná) e Antônio Fagundes (Otávio).

    Natália Maleval, de 46 anos, dona de casa que mora no condomínio residencial onde as cenas foram gravadas, foi uma das figurantes do temido cenário. Na época, com apenas 15 anos, ela foi selecionada para participar das cenas no Umbral.


    Aspas da citação
    Eles precisavam de muita gente no chão, suja de lama. Então começaram a pegar os moradores daqui mesmo. Eu, minha mãe, minha prima, minhas amigas... Era muito legal, tudo era novidade, víamos um monte de artistas
    Natália Maleval, dona de casa e uma das figurantes da trama
    Aspas da citação

    Segundo Natália, havia regras para a participação dos adolescentes e crianças. As cenas que eram noturnas só eram gravadas após o retorno da escola. “Tinha que estar estudando. Depois que a gente voltava do colégio, podia gravar.”

    Ela conta ainda que os figurantes almoçavam junto com os atores. “Todo mundo comia na mesma mesa. Os artistas junto com a gente. A gente ficava empolgado.”

    Para Natália, gravar as cenas era divertido e encantador, já que tudo era novidade
    Para Natália, gravar as cenas era divertido e encantador, já que tudo era novidade |  Foto: Péricles Cutrim

    As gravações chamavam a atenção de toda a vizinhança. A rua era interditada e ficava lotada de moradores curiosos, que tentavam acompanhar tudo, mesmo de longe. Apenas quem participava das filmagens podia entrar na área da pedreira.

    Natália confessa que ficou ansiosa para se ver na TV. “O cenário era muito escuro, era difícil se achar. Quando passava, a gente corria pra frente da televisão. Às vezes dava pra ver o rosto e a gente falava: ‘Gente, eu tô passando na televisão!’”, relembra, rindo.

    Escalada em pedras, ida escondida da mãe e desafios

    A enfermeira Flávia da Silva, de 45, que era adolescente na época das gravações da novela, relembra que o local se transformou em um verdadeiro “point” para os jovens da região.

    Ela conta que ia escondida da mãe para tentar assistir às gravações. Junto com as amigas, saía de casa determinada a ver de alguma forma o que acontecia na pedreira. Como o condomínio onde as cenas eram filmadas era fechado, e a entrada, proibida, elas buscaram alternativas arriscadas.

    No último bloco do condomínio onde morava, havia uma trilha que levava até uma pedra, utilizada como ponto de observação. Ela e suas amigas escalavam o caminho na tentativa de se aproximar da pedreira e acompanhar as gravações à distância. Atualmente, o local conta com um portão que bloqueia o acesso dos moradores.

    “Eu ia escondida da minha mãe. A gente subia até o final do condomínio, onde tinha uma rampa. De lá, seguíamos por uma subida até o morro. Era um caminho estreito, tipo uma trilha. A gente passava por lá para ver as gravações, que aconteciam num abismo. Como não era permitido entrar pela entrada principal, a gente se arriscava por trás dos prédios. Era bem perigoso.”

    • Local por onde Flávia e as amigas entravam para tentar acompanhar as gravações das cenas
      Local por onde Flávia e as amigas entravam para tentar acompanhar as gravações das cenas | Foto: Péricles Cutrim
    • Hoje, o local tem um portão para bloquear o acesso dos moradores
      Hoje, o local tem um portão para bloquear o acesso dos moradores | Foto: Péricles Cutrim

    Mesmo se arriscando, Flávia diz que não conseguia ver claramente tudo o que acontecia, já que o local era de difícil acesso. Mas, à distância, conseguiu avistar o ator Guilherme Fontes (Alexandre), o protagonista do enredo espiritual.

    Segundo ela, o ambiente causava medo. “Como a gente não conseguia ver muito bem, só dava para escutar os sons. E eram muitos gritos. Isso assustava a gente, porque além de perigoso, aquele lugar tinha uma energia pesada. Escutar gritos saindo da pedreira dava muito medo.”

    Ponto turístico improvisado

    Durante as gravações, a região virou ponto turístico informal. Flávia conta que não apenas o condomínio residencial, mas toda a área ao redor passou a receber visitas de curiosos.

    “Vinha gente de São Gonçalo, da Engenhoca e de outros bairros de Niterói para ver as gravações. Era a sensação do momento.”

    Após o fim das filmagens, o local continuou atraindo visitantes interessados em conhecer o cenário do temido Vale dos Suicidas. “As pessoas vinham ver onde tudo tinha sido gravado”, relembra Natália Maleval.

    Luzes vermelhas e muita curiosidade

    Mãe de Flávia, a instrumentadora cirúrgica Adi Soares, de 69 anos, também falou sobre a movimentação intensa que as gravações causavam na região. “A rua ficava cheia, muita gente querendo ver as gravações. Até os ônibus passavam devagar”, relata.

    Adi Soares relembra que a rua, no Barreto, ficava lotada durante as gravações
    Adi Soares relembra que a rua, no Barreto, ficava lotada durante as gravações |  Foto: Péricles Cutrim

    Adi lembra que o cenário do Umbral era especialmente chamativo por conta da iluminação. “A pedreira ficava toda iluminada com luzes vermelhas, o que chamava muito a atenção e aumentava a curiosidade.”

    Questionada sobre como foi ver na televisão cenas gravadas ao lado de casa, ela não esconde a emoção. 


    Aspas da citação
    Foi emocionante. Eu passava praticamente na mesma rua. Depois de ver aquela multidão, assistir à novela e saber que foi gravada aqui pertinho foi muito especial. Muitos funcionários da produção moravam no condomínio também. Era bem legal
    Adi Soares, moradora da região
    Aspas da citação

    Mesmo tantos anos após as gravações, moradores da região ainda lembram com carinho daquele momento. Mesmo aqueles que já se mudaram dizem que, sempre que passam pelas redondezas, se recordam das cenas marcantes e da movimentação intensa que tomou conta do bairro.

    A novela

    A trama gira em torno de temas como vida após a morte, culpa, perdão e justiça espiritual. O sucesso foi tão grande que a novela já está em sua terceira reprise na TV Globo, somando 31 anos desde sua estreia. Além da exibição original em 1994, também foi reapresentada pelo canal Viva.

    No enredo, o ator Guilherme Fontes interpreta Alexandre, um jovem playboy inconsequente que mata um homem durante uma tentativa de roubo. Após o crime, ele é entregue à polícia pelo próprio irmão, Raul (Miguel Falabella), e pelo cunhado, Téo (Maurício Mattar). O renomado advogado criminalista Otávio Jordão (Antônio Fagundes) se recusa a defendê-lo, já que a vítima era seu amigo pessoal.

    Alexandre encontra apoio apenas em sua irmã mais velha, Diná (Christiane Torloni), que tenta livrá-lo da prisão. Nem mesmo sua namorada, Lisa (Andréa Beltrão), permanece ao seu lado. Condenado a mais de 20 anos de prisão, ele comete suicídio na cadeia e jura vingança contra todos que o traíram, nesta vida ou na próxima.

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    Tayná Ferreira

    Tayná Ferreira

    Repórter sob Supervisão

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