Atriz Kelzy Ecard exalta Niterói no retorno com 'Meu caro amigo'

Niterói será palco de uma noite especial nesta terça-feira (23). O Teatro Popular Oscar Niemeyer recebe, às 20h, a atriz Kelzy Ecard com o monólogo musical “Meu caro amigo”. A montagem, que já foi vista por mais de 20 mil pessoas desde sua estreia em 2009, retorna à cidade em apresentação única, celebrando a obra de Chico Buarque de Hollanda e revisitanto as memórias de uma personagem que é tão real quanto simbólica: a professora de História Norma Aparecida.

Depois de uma passagem pelo Teatro da UFF, em Icaraí, zona sul da cidade, o espetáculo chega ao palco projetado por Niemeyer com ainda mais emoção. Para Kelzy, o texto de Felipe Barenco, aliado às músicas de Chico, segue atualizado em 2025.

“O texto do Felipe tem uma humanidade impressionante! É comum as pessoas pensarem que estamos contando uma história real, que eu sou a personagem, que todos os fatos ali são verdadeiros", contou a atriz ao ENFOCO.

"Mas jamais iríamos imaginar que, no contexto político, o que era o registro de uma época daria conta do momento presente. Nesse aspecto, vimos com espanto e tristeza até a atualidade do texto. E quando percebemos isso, vimos que era muito importante voltar com o espetáculo”, completou.

A peça, ao longo dos anos, sempre dialogou com o contexto político do país. Hoje, segundo a atriz, o público reage de forma diferente.

“Hoje é um pouco mais delicado. Quando estreamos, acho que estávamos todos do mesmo lado, contra um passado que não queríamos viver mais. Hoje isso mudou, temos muitas famílias divididas pelas escolhas políticas. Tínhamos até receio das reações, porque a personagem tem uma escolha clara. Mas, para nossa surpresa, fomos recebidos de braços abertos por todos os lados. Tem muita humanidade em cena, e isso sensibiliza a plateia e a deixa mais disponível para refletir”, falou.

Norma e as memórias pessoais de Kelzy

Norma, a professora que protagoniza a peça, é uma mulher em confronto com o pai, um militar conservador, enquanto atravessa décadas de tensões políticas e afetivas no Brasil. Ao mergulhar nessa personagem, Kelzy acabou acessando lembranças da própria trajetória.

“Foi uma delícia. Norma é muito cativante, muito gente como a gente, carregada de humanidade. Apesar de ser mais jovem que a personagem, e do meu pai ser radicalmente diferente do pai da Norma, eu vivi muitos momentos que ela viveu, estive em muitas lutas que ela esteve. Foi como revisitar minha própria história”, disse.

Com direção de Joana Lebreiro e direção musical de Marcelo Alonso Neves, “Meu caro amigo” mescla teatro, música e memória. Mas como conciliar a densidade política com a leveza musical de Chico Buarque? Para Kelzy, o segredo estava na própria obra do cantor.

A obra do Chico é tão genial e maravilhosa, que o desafio foi selecionar o repertório! A obra dele transita entre o político, o social, o romântico, o lírico, o pessoal, o coletivo... Foi só seguir o mestre

No espetáculo, trinta clássicos de Chico embalam a narrativa. Alguns são interpretados ao vivo por Kelzy, acompanhada pelo pianista João Bittencourt; outros aparecem em gravações consagradas. Uma música em especial toca fundo na atriz.

“Todo o Sentimento, que é a canção que ela canta pro pai no final do espetáculo. Sempre mexeu muito comigo, mas depois que perdi meu pai, esse momento ficou ainda mais delicado. Durante um tempo, achei até que nunca mais conseguiria fazer a peça. Quando estreamos, meu pai era vivo e só a personagem cantava sua despedida. Hoje personagem e atriz vivem essa saudade", revelou.

O espetáculo transita entre humor, emoção e reflexão. Para Kelzy, a música é o que guia essa viagem coletiva.

“Todo mundo tem a sua história com o Chico, de alguma maneira. Quando criamos o espetáculo, esse era um dos nortes da peça: o mergulho na história coletiva. A música tem esse poder, de te transportar por tempos e sentimentos. O espectador faz essa viagem com a personagem e com a sua própria história pessoal”, contou a atriz.

O reencontro com Niterói

Apresentar o monólogo novamente em Niterói, cidade onde morou e iniciou a carreira teatral, é uma alegria para a atriz.

Vai ser uma celebração linda! Niterói sempre nos acolheu com muito entusiasmo. Nossa última temporada na cidade (no Teatro da UFF) foi das mais lindas que já vivemos

E se tivesse que escolher uma música de Chico para dedicar a Niterói? Kelzy sorri antes de responder. “É sempre impossível escolher só uma música do Chico, em qualquer circunstância, mas vamos lá: Eu te amo!”.

Na entrevista, Kelzy também brincou com a ideia de imaginar como Norma seria se vivesse em Niterói.

“Ela teria uma vida social pra lá de intensa (risos). Norma é a cara de Niterói! Encontraria com as amigas na UFF, nas livrarias, nos cinemas, passearia pela orla, tomaria chope nos inúmeros bares e restaurantes da cidade... Como disse, Niterói é a cidade perfeita pra Norma! Acho que o Centro de Artes UFF seria o lugar preferido dela”, imagina Kelzy.

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E a própria atriz guarda lembranças afetivas da cidade.

“Eu já morei em Niterói por dois períodos longos. Comecei a fazer teatro na cidade, inclusive, com o Leonardo Simões. Tenho muitas histórias vividas aí. Acho que os lugares que mais me lembram de mim são o Campo de São Bento, o Teatro da UFF e Itacoatiara”, relembrou.

Entre risos, Kelzy confessa que adoraria poder tomar um café com Chico Buarque depois de cada apresentação. A lista de perguntas seria longa: “A lista é interminável!!!! (risos)”.

Sobre o espetáculo

“Meu caro amigo” foi idealizado por Kelzy Ecard e tem texto de Felipe Barenco. A peça retrata a vida da professora de História Norma, que atravessa a ditadura, a redemocratização e até uma história de amor nos anos 80, sempre com Chico como trilha sonora. Entre política, afetos e memórias, Norma decide realizar o sonho de declarar em cena seu amor pelo ídolo, cantando músicas que marcaram sua vida.

Com uma carreira de sucesso no teatro e na televisão, Kelzy Ecard, conhecida por novelas como “Segundo Sol”, “Éramos Seis” e “Todas as Flores”, conduz o público do riso às lágrimas, reafirmando a força da música de Chico Buarque em tempos de mudança.

Serviço

• Data: 23/09 – 20h
• Local: Teatro Popular Oscar Niemeyer
• Classificação: 12 anos
• Acessibilidade: Audiodescrição e Libras
• Ingressos gratuitos distribuídos a partir de 18h.
• Traga 1kg de alimento não perecível.