Entrevista
Beth Goulart celebra 50 anos de carreira em Niterói: 'Me sinto abraçada'
'Simplesmente Eu' terá apresentação gratuita na cidade

Em meio às luzes suaves e à atmosfera intimista que envolvem o espetáculo "Simplesmente Eu, Clarice Lispector", Beth Goulart vive um momento de reencontro com o palco, com Clarice e, sobretudo, consigo mesma. A montagem, que chega em curta temporada gratuita ao Theatro Municipal de Niterói, na Região Metropolitana do Rio, neste sábado (18) e domingo (19), marca não apenas o retorno de um sucesso que emocionou mais de 1,3 milhão de pessoas, mas também os 50 anos de trajetória da atriz, celebrados com serenidade e gratidão.
“É um reencontro comigo mesma, com minha linguagem cênica e com a obra de Clarice Lispector”, conta Beth. “Foram quase dez anos desde a última temporada, um período em que vivi duas grandes perdas, a de meu pai e da minha mãe. Passamos também por uma pandemia, e tudo isso nos transforma. Ganhei camadas mais profundas de interpretação. O tempo nos amadurece e muda a forma como enxergamos a vida”.
Essa maturidade transborda do palco. Em cena, Beth dá corpo e voz a quatro personagens femininas que representam diferentes fases da escritora: Joana, Ana, Lóri e a mulher sem nome de "Perdoando Deus". A simplicidade da cenografia e a precisão da luz criam um ambiente que convida o público ao mergulho interior.
“Hoje o espetáculo tem mais profundidade, mais intensidade, e, ao mesmo tempo, mais simplicidade. O tempo nos ensina a valorizar o que realmente importa. Nada mudou no espetáculo, mas tudo mudou porque eu estou diferente”, reflete.
Em casa
Apresentar-se em Niterói traz um sabor especial. É ali que Beth se sente acolhida por laços afetivos que vêm de família.
Tenho um carinho muito especial por Niterói, a terra natal de minha mãe (atriz Nicette Bruno). Ela sempre falava com saudades da infância e das memórias afetivas que se tornaram nossas também. Sempre que me apresento na cidade, tenho essa sensação amorosa de ser abraçada por ela
O retorno ao palco do Theatro Municipal de Niterói também desperta encantamento. “É um teatro muito lindo. É a primeira vez que me apresento nele, mas dá para sentir o carinho e o zelo com que é cuidado. Ele faz parte do acervo cultural da cidade e é um orgulho para Niterói ter um espaço assim”.
Beth valoriza, especialmente, o acesso gratuito ao espetáculo. “É uma alegria garantir que todos possam conhecer melhor a obra de Clarice Lispector. Sinto-me distribuindo sementes de arte e cultura”, afirma.
Público
Ao falar sobre o público niteroiense, um sorriso surge espontaneamente. “Eles são muito afetivos, carinhosos e abertos. Essa gentileza e acolhimento tornam Niterói uma referência. É sempre um prazer estar aqui e poder abraçar o público com nosso trabalho”, afirma a artista.
O amor, de alguma forma, permanece
Para ela, o reencontro com uma nova geração de espectadores é motivo de esperança. “É maravilhoso ver jovens descobrindo Clarice e a escolhendo como referência. Ela tem uma literatura que nos olha por dentro, que nos faz melhores por nos colocar em contato com nossa essência. Clarice nos leva a um autoconhecimento muito importante para nossas escolhas e atitudes diante da vida”, falou.
Entre as frases da autora que mais ressoam em sua vida, Beth cita uma que carrega como um mantra: “Amar não acaba”. E completa: “Depois de tudo que vivi, essa frase resume o espírito dessa nova fase. O amor, de alguma forma, permanece”.
Celebração

Ao celebrar meio século de carreira, a atriz se mostra tão curiosa e apaixonada quanto no início.
“Parece que foi ontem que comecei. Cada trabalho é um universo que se abre dentro da gente. Vivi muitas vidas, muitos encontros e aprendizados", relembra. "Somos o resultado de tudo o que vivemos, não só profissionalmente, mas como seres humanos. Nossa profissão é uma troca constante entre o palco e a plateia, entre o estudo e a vida. Sou uma estudiosa da vida e uma eterna aprendiz do meu ofício”, completou a atriz.
O público, segundo ela, é parte fundamental dessa caminhada.
Espero que saiam do teatro querendo ler mais, não só Clarice, mas todos os grandes autores. A leitura abre mentes e corações, nos torna pessoas melhores e mais sensíveis. Também desejo que saiam tocados pela experiência coletiva da arte teatral, que valoriza nossa humanidade.
Sucesso
E a boa notícia é que quem não conseguir assistir em outubro terá nova chance em novembro. Ainda sem data definida, espetáculo será apresentado no Teatro da UFF, em Icaraí, na Zona Sul da cidade.

“Ah, que alegria retornar para Niterói!”, revela, empolgada. “Estamos todos animados com as apresentações no Teatro da UFF. Será mais uma oportunidade especial de encontro com o público. Agradeço de coração por essa receptividade maravilhosa. Minha alma agradece”.
Entre reencontros, memórias e novos olhares, Beth Goulart segue, como Clarice, acreditando que o amor (e a arte) realmente não acabam.
Serviço
- Local: Theatro Municipal de Niterói
- Ingressos gratuitos – retirada de 1 ingresso por pessoa na bilheteria, 1h antes do início do espetáculo.
- Duração: 60 minutos
- Classificação: 12 anos


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