Debate
Caso Ângela Diniz ganha minissérie com Marjorie Estiano
Produção revisita o feminicídio que marcou o país

Na manhã desta terça-feira (11), durante coletiva de imprensa acompanhada pelo ENFOCO, elenco e direção de “Ângela Diniz: Assassinada e Condenada”, nova produção da HBO Max, apresentaram ao público detalhes da série que estreia nesta quinta-feira (13). Os dois primeiros episódios chegam à plataforma já no lançamento.
Inspirada no podcast "Praia dos Ossos", a obra revisita o feminicídio que chocou o país em 1976 e expõe como a violência de gênero e o julgamento moral de mulheres continuam sendo reproduzidos quase cinco décadas depois do crime.
A produção parte da trajetória de Ângela Diniz, socialite mineira conhecida pela vida social intensa e pela postura considerada livre demais para os padrões da época. Ao lado disso, estava o relacionamento conturbado com Raul Fernando do Amaral Street, o Doca Street, que resultou no assassinato de Ângela com quatro tiros à queima-roupa em Búzios. O caso tornou-se um símbolo de como a sociedade tende a responsabilizar as mulheres pela violência sofrida.
Durante anos, a defesa de Doca sustentou que o assassinato teria ocorrido em legítima defesa da honra, tese que buscava justificar o crime ao apontar que ele reagiu para preservar sua imagem diante de um suposto comportamento de Ângela. A argumentação foi utilizada em diversos julgamentos no país como forma de atenuar crimes motivados por machismo.
Assista ao trailer
Apenas em 2021 o Supremo Tribunal Federal considerou essa tese inconstitucional por violar princípios de igualdade, dignidade e proteção à vida. Mas, apesar da mudança jurídica, o pensamento que sustentou a justificativa ainda permanece socialmente enraizado.
“Ela pode não existir mais na lei, mas ainda existe na sociedade. Homens e mulheres se incomodam com mulheres livres. Essa série vai dividir opiniões”, afirmou uma das produtoras durante a conversa com jornalistas.

Sem recorrer ao sensacionalismo, o diretor Andrucha Waddington explicou que o foco da narrativa não é o criminoso, mas a vítima e tudo o que foi construído socialmente em torno dela.
"A série é sobre a assassinada, não sobre o assassino. Se fosse para transformar a tragédia em espetáculo, daríamos mais espaço ao Doca, e não fizemos isso", afirmou Andrucha.
Elenco
Além de Marjorie Estiano (Ângela) e Emilio Dantas (Doca Street), também estiveram na coletiva Joaquim Lopes, Renata Gaspar, Thiago Lacerda, Yara de Novaes e Renata Brandão. A produção é da Conspiração, com roteiro de Elena Soárez e produção executiva de Waddington, Lorena Bondarovsky e Renata Brandão.
Emilio Dantas, que interpreta Doca Street, não economizou ao descrever o personagem. Para ele, o comportamento do agressor reflete um tipo de masculinidade que ainda encontra espaço no país.
Essa Ângela hoje seria muito mais massacrada na internet. O meu personagem hoje poderia ter equipe de marketing, ser influenciador e estar no Congresso.
O ator explicou que a série provoca desconforto justamente para expor a permanência do machismo. "Quero que as pessoas terminem a série sentindo raiva. De perceber que ainda cometemos os mesmos julgamentos de antes", falou.

Marjorie Estiano relatou que interpretar Ângela Diniz a levou a reflexão sobre a própria relação com prazer e autonomia. "Mulheres sentem culpa por ter prazer. A Ângela se autorizava a viver. Isso é revolucionário".
Segundo a atriz, o papel a fez enxergar com mais clareza o impacto da estrutura social na vida das mulheres.
Quando você entende o machismo estrutural, não dá mais para desver. Eu já sofri inúmeras violências de gênero e sei que vou continuar sofrendo. Ainda precisamos de leis para nos proteger porque a mentalidade não mudou
Joaquim Lopes, que participa da série, destacou o valor do projeto em sua vida pessoal. Pai de duas meninas de 4 anos, ele disse que a obra representa um compromisso com a formação das próximas gerações.
"Fazer parte de uma história que fomenta discussão e informação é muito importante. Quero deixar esse legado para as minhas filhas", falou o ator.
Para Waddington, revisitar a história de Ângela Diniz é um exercício de memória e alerta.
"A Ângela foi julgada por ser livre. Quando percebemos que esse julgamento ainda existe, é sinal de que a ferida continua aberta", disse o diretor.
A série também conta com Antônio Fagundes, no papel do advogado Evandro Lins e Silva, além de participações de Thiago Lacerda, Camila Márdila, Renata Gaspar, Thelmo Fernandes e Yara de Novaes.
Ao reconstruir o caso, a produção confronta o público com uma pergunta: o que realmente mudou na forma como mulheres são vistas e julgadas no Brasil?

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