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Do Morro do Bumba a um papel numa novela: conheça a atriz Cláudia Macedo
De uma infância cheia de desafios no Morro do Bumba, no Cubango, em Niterói, a um papel numa novela. Prestes a estrear em "Reis", da Rede Record, Claudia Macedo, de apenas 24 anos de idade, é a personificação de um Brasil feroz. Filha e neta de mulheres trabalhadoras domésticas, ela cresceu sabendo o quão forte é ser uma mulher negra periférica no país.
Quem diria que aquela menina que não tinha nenhum contato com o mundo cultural teria seu destino traçado nos palcos? No espetáculo chamado vida, ela, desde cedo, aprendeu que é preciso muita coragem para enfrentar as adversidades do cotidiano.
"Meu contato com a arte foi libertador. Se eu consigo falar hoje sobre essa tragédia e resgatar algumas memórias que foram interrompidas, é por conta da arte", ressaltou ela, que foi bastante incentivada pelos pais e pela avó a se dedicar cada vez mais ao teatro, tempo depois do deslizamento de terra que acometeu sua comunidade, quando era adolescente, deixando mais de 250 pessoas mortas, casas destruídas e mais de 3 mil famílias desabrigadas, em abril de 2010.
Trabalhando há nove anos na arte de representar, Cláudia, apesar de nova, é fonte de inspiração quando o papo é resistência.
"Não sei o que me motivou exatamente a ser uma atriz, mas acredito que foi um encontro de corpo e alma. O teatro apareceu na minha vida, comecei a fazê-lo, trabalhá-lo e a viver dele. É isso que me motiva. Nunca consegui parar e nem quero. Fico inquieta", revela.
Apaixonada pelo ofício, não é necessário conhecê-la há anos ou mais intimamente para saber que a atriz vibra pelo o que faz.
"Teatro é sinônimo de coletividade e não se faz sozinho. Ao longo desses anos eu tive a sorte de encontrar pessoas incríveis que me ensinaram muito sobre o fazer teatral. Receber o prêmio de 'melhor atriz' e 'melhor iluminação' no Festival de Teatro Universitário deste ano, é para mim, um reconhecimento de todos esses anos de muito estudo, trabalho, dedicação e aprendizado. Além da importância do olhar cuidadoso da Pietra e do Fabiano, que assinaram a direção da cena, na construção do trabalho", afirmou.
Atenta ao racismo estrutural que abarca o país desde a era colonial, a atriz acredita romper barreiras.
"Nós sempre vemos as mesmas pessoas em todos esses lugares, ganhando todos os prêmios, tendo todas as oportunidades, entre outros privilégios que nem precisam ser mencionados. Nos deslocamos da Zona Norte, Baixada Fluminense e fomos para o Teatro Ipanema, na Zona Sul do Rio de Janeiro, levando com a gente nossa arte, nossas raízes, dores e nossas inquietações mediante a esse sistema que nos persegue há tanto tempo. Utilizamos a nossa arte como arma para questioná-lo, acreditando na potência do nosso trabalho", ressaltou.
E se engana quem acha que Cláudia só atua. Ela começou sua carreira artística como modelo e manequim, vindo a se formar em 2012. Tímida, foi orientada na época a buscar um curso de teatro para se soltar, vindo a ingressar, no mesmo ano, na Oficina Social de Teatro, se formando em 2014.
"Eu tive a sorte de ter como professora Erika Ferreira, que me mostrou o mundo através da arte, mais especificamente do teatro. Me formei também no curso de Formação de Atores da Escola Técnica Estadual Henrique Lage - Cetep Barreto, em 2013. E desde 2018 curso na Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Penna", explicou.
Além disso, desde 2014 Cláudia pertence ao Agromelados Cia Teatral (companhia fundada por Erika Ferreira), tendo participado de mais de 30 festivais de teatro por todo o país, passando por Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia e Rio de Janeiro.
E, há sete anos, integra ainda a equipe do Theatro Municipal João Caetano, como Coordenadora de Palco, gerenciando e organizando questões da área técnica do espaço, dos eventos e da área da produção de espetáculos. Paralelo a isso, a artista também colhe experiências nas áreas de figurino, maquiagem, cenografia, produção e apresentação.
Entusiasmada e ansiosa pelos próximos projetos, como a estreia da próxima produção bíblica da Rede Record, ela salienta.
"A arte, dentro de todas as suas linguagens, é para mim uma ferramenta de transformação e de cura. Eu me alimento da arte, vivo dela, para ela e tento multiplicá-la sempre. Meu sonho é continuar exercendo o que amo da melhor forma, trabalhando com pessoas que respeitem e acreditem na arte. Um outro sonho também é continuar exercendo o que amo sem precisar correr duas vezes mais que outras pessoas para ser reconhecido e valorizado profissionalmente", desabafou.
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