Preconceito

"Ambiente do futebol é hostil para um gay", diz ex-goleiro do Fla

Emerson participou de podcast especial do Globo Esporte

Emerson atuou em grandes clubes como Flamengo, Grêmio e Bahia
Emerson atuou em grandes clubes como Flamengo, Grêmio e Bahia |  Foto: Arquivo Pessoal
 

O futebol, apesar de toda a sua evolução ao longo das décadas, ainda é considerado um ambiente machista e homofóbico. Os relatos de quem sentiu na pele o preconceito mostram a complexidade da necessidade de "esconder" a própria personalidade para ter igualdade de oportunidades.

No último episódio do podcast "Nos Armários dos Vestiários", produzido pelo Globo Esporte, traz falas fortes do ex-goleiro Emerson, que atuou por clubes como Grêmio, Flamengo, Bahia e Juventude. Até mesmo sua lesão grave no início da carreira teve influência indireta do preconceito.

Em 1993, durante amistoso de pré-temporada, Emerson, que já era um goleiro de destaque e com convocações para as seleções de base do Brasil, acabou se machucando após uma decisão intempestiva de se jogar contra o adversário - causada pelo medo de ser descoberto enquanto homossexual.

"Eu me joguei desesperado. Na verdade, o desespero era outro, não era um desespero para não tomar gol. A minha vida pessoal, a cada defesa que eu fazia, cada vez que eu me destacava mais dentro de campo, o buraco vazio aumentava também inversamente proporcional. Quanto mais famoso eu ficava, mais difícil se tornava ser gay dentro desse ambiente", revelou.

A decisão de aceitar o convite para participar do podcast foi tomada devido à vontade de ser um exemplo positivo para atletas mais jovens que eventualmente se sintam "presos no armário" por causa do preconceito. No entanto, não mediu as palavras para mostrar como o esporte pode ser duro.

"O ambiente do futebol é muito hostil para um gay, muito mesmo. Eu fico imaginando quantos garotos desistiram de se tornar jogador de futebol por conta disso, por perceberem essa situação. Quantos talentos foram perdidos? O futebol perdeu, os clubes perderam, porque o ambiente realmente não ajuda. Eu segui com tudo isso, mas sofri com as consequências de seguir, era o meu sonho. Eu queria ser goleiro do Grêmio. Eu queria ser um jogador de futebol. Eu eu conquistei isso, só tive que que enfrentar um outro lado que é muito difícil", disse.

Emerson, à época da carreira, nunca assumiu publicamente a sua sexualidade. Mesmo assim, diante das desconfianças, revelou que já perdeu oportunidades em outros clubes por puro preconceito. 

"Eu parei de jogar com 35 anos, fui até o final, joguei em vários clubes. Sei que a fama me prejudicou bastante. Eu poderia até ter tido muito mais sucesso. Poderia ter feito muito mais coisas do que fiz, ter conquistado muito mais coisas. Eu acredito que é muito positiva [a carreira], principalmente por ter conseguido enfrentar tudo isso, ter sobrevivido até o final. O fato de ser gay não me parou, eu fui até o final. Mas sei de dirigentes que não me contrataram porque eu sou gay", contou.

Apesar de todas as dificuldades relatadas, Emerson deixou uma mensagem de incentivo - e de que é possível ter sucesso no esporte independente da sexualidade.

"É possível ser gay, ídolo e ganhar títulos. Dá para ser um jogador talentoso. Dá para ter sucesso no futebol. Eu cumpri minhas obrigações dignamente. Fui profissional e entreguei desempenho, isso acaba me motivando para deixar um legado fora de campo também. Falar sobre o assunto, jogar luz sobre o assunto vai fazer, com certeza, primeiro, quebrar um pouco esse silêncio que existe, porque sempre existiu gay no futebol", garantiu.

O ex-goleiro foi revelado pelo Grêmio e teve passagens por Flamengo, América-RN, América-RJ, Ituano-SP, Bragantino-SP e Vitória-BA. Os dois principais momentos de sua carreira foram o título da Copa do Brasil pelo Juventude, em 1999, e a Bola de Prata como melhor goleiro pelo Bahia, em 2001.

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