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Clubes cariocas encerram a temporada com mais dúvidas do que certezas

Terminou a emocionante e turbulenta temporada de 2021. Com objetivos completamente diferentes, Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco viveram em mundos diferentes — mas chegam ao fim do ano com mais dúvidas do que certezas visando o calendário de 2022.

Com a rivalidade mais fragmentada da história — já que, pela primeira vez, dois gigantes cariocas foram rebaixados simultaneamente à Série B do Brasileirão, ficou mais fácil analisar individualmente o desempenho de cada um dentro de suas principais missões.

Botafogo

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É a hora de decidir se será apenas mais um capítulo do ciclo vicioso que o Glorioso vive há décadas ou se chegou o momento da virada. Foto: Divulgação

O Alvinegro viveu uma verdadeira história de filme — que, não por acaso, acabou virando documentário no canal de streaming Globoplay. Desacreditado após um rebaixamento vexaminoso ao fim da temporada de 2020, o clube de General Severiano superou as expectativas. Nem mesmo o mais otimista botafoguense imaginaria a reviravolta que inspirou os oito capítulos de Acesso Total.

Mas nem tudo foram flores. O Botafogo fez campanhas ridículas no Campeonato Carioca e na Copa do Brasil, antes de iniciar a Segundona sob muita desconfiança. Poucas rodadas depois, o técnico Marcelo Chamusca foi substituído por Enderson Moreira, que mudou drasticamente os rumos da temporada e disparou do 14º ao 1º lugar da tabela.

Após atropelar adversários — inclusive o rival Vasco fora de casa por 4 a 0 — e garantir o título da competição, o Alvinegro encerrou o ano jogando por música. Ficou embalado. Orgulhou seu torcedor como há muito não fazia; e, em retribuição, viu o Estádio Nilton Santos lotado para a festa de despedida, contra o Guarani, na última rodada.

Mas, para ser de fato um adeus e não um até logo, o Botafogo precisa se preparar para um ano ainda mais espinhoso. Isto porque, sem orçamento para trabalhar até o início de maio, a diretoria precisará de muita criatividade para montar um grupo competitivo — agora com a régua bem mais alta — visando os desafios da próxima temporada.

Expectativas

É a hora de decidir se será apenas mais um capítulo do ciclo vicioso que o Glorioso vive há décadas ou se chegou o momento da virada. As expectativas estão viradas para a primeira gestão profissional do clube, mas a esperança dos torcedores está depositada na possível transformação em clube-empresa, que aportaria uma grande quantia de dinheiro, possibilitando a montagem de um elenco bem mais competitivo.

A certeza é de que o trabalho profissional começou, mesmo que ainda esteja engatinhando. No entanto, o futuro depende de diversas questões pendentes; naming rights, patrocinadores, andamento das obras do Centro de Treinamento, negociação com investidores pela profissionalização e montagem de um elenco competitivo.

Flamengo

Ao lado de Palmeiras e Atlético-MG, a tendência é que o Rubro-Negro siga dominando todos os campeonatos que disputar. Foto: Divulgação

O Rubro-Negro era, de longe, o clube que mais gerava expectativa no Rio de Janeiro. Empilhando títulos desde 2019, a equipe entrou em 2021 tentando fugir da sombra do técnico Jorge Jesus para alçar vôos próprios. Isto porque, mesmo com o título brasileiro de 2020, Rogério Ceni não convenceu a Nação.

Tudo depende do ponto de vista. Baseado nos resultados, o Flamengo foi campeão do Carioca e da Supercopa do Brasil, além do segundo lugar no Brasileirão e na Libertadores, excelentes resultados para qualquer clube do país. No entanto, baseado nas expectativas e no investimento, o clube acabou deixando a desejar diante do que era esperado.

Principalmente pelo gostinho de ter chegado tão perto da Glória Eterna, conquistada em 2019 de maneira histórica contra o River Plate, e desta vez ter perdido para o rival nacional Palmeiras com requintes de crueldade, em um erro individual já na prorrogação. O vento que soprou a favor, há dois anos, desta vez soprou contra.

A impressão é que faltou identidade. É inevitável relembrar o Mister, que deu uma cara e personalidade únicas ao Flamengo. Com Rogério Ceni e Renato Gaúcho, faltava sempre o 'algo mais' que consagrou o português. Entradas e saídas, a chegada de David Luiz e a venda de Gérson também ajudaram a quebrar o padrão de jogo.

Expectativas

As decepções não tiraram o Flamengo do patamar mais alto do futebol brasileiro. Ao lado de Palmeiras e Atlético-MG, a tendência é que o Rubro-Negro siga dominando todos os campeonatos que disputar. Num futebol onde cada vez mais se dá melhor quem tem dinheiro, o equilíbrio e o bom trabalho da diretoria mantém o Flamengo no topo.

A certeza é o poder aquisitivo; por outro lado, europeus e até brasileiros querem arrancar nomes como Gabigol, Arrascaeta, Pedro, Rodrigo Caio e Michael da Gávea. Falta, também, encontrar um técnico que faça o clube enfim superar a saída de Jorge Jesus, além da recuperação do departamento médico, que deixou o Fla na mão este ano.

Fluminense

Para a próxima temporada fica a missão de buscar o último salto de qualidade. Foto: Lucas Merçon/FFC

Uma vez pode ser sorte ou acaso, mas duas seguidas mostram planejamento e solidez. O Fluminense surpreendeu mais uma vez e conquistou uma vaga na Libertadores pelo segundo ano consecutivo. Depois da quinta colocação no Brasileirão de 2020, o Tricolor ficou com o sétimo lugar em 2021.

Se esse ano o clube foi direto à fase de grupos, caindo nas quartas de final pelo gol fora de casa após dois empates diante do Barcelona de Guayaquil, a missão para 2022 é um pouco mais espinhosa, com dois confrontos de pré-Libertadores antes de ir às chaves com quatro equipes.

O Fluminense vem montando equipes competitivas e lutando sempre na parte de cima da tabela, mas ainda não conseguiu cumprir o principal objetivo do presidente Mário Bittencourt: voltar a disputar títulos de expressão. O processo de reestruturação é lento e gradual, mas luta contra o tempo devido à impaciência da torcida.

Na Copa do Brasil, a queda foi diante do campeão Atlético-MG também nas quartas de final. No contexto geral fica o orgulho de ter batido de frente com o Flamengo, perdendo na final do Campeonato Carioca, mas vencendo os dois confrontos do Brasileirão. Não fosse a instabilidade, a equipe de Marcão poderia ter lutado por títulos.

Expectativas

Para a próxima temporada fica a missão de buscar o último salto de qualidade. O que separa as boas equipes das equipes campeãs. O diferencial que faz o time avançar às últimas instâncias e traz taças para casa. O desafio é grande, mas o Tricolor também é. Quem espera sempre alcança.

A certeza é a regularidade; ainda assim, o planejamento passa por uma reformulação que, até o momento, aposta em peças com qualidade, mas idade avançada. Com uma média etária alta, resta saber se o elenco terá fôlego para uma temporada tão longa e cansativa. Interrogação também sobre o nome de Abel Braga, técnico escolhido, que já não realiza um trabalho consistente há alguns anos.

Vasco

A certeza é a força da camisa e de sua torcida; todo o resto é uma incógnita. Foto: Rafael Ribeiro/CRVG

O Cruzmaltino foi quem terminou 2021 mais em baixa. Rebaixado com o Botafogo, não conseguiu igualar a arrancada do rival em meio à Série B mais difícil da história e ficou para atrás; pela primeira vez em sua rica trajetória, o clube permanecerá por dois anos seguidos na segunda divisão nacional.

Foram muitos erros, desde a montagem de um elenco não identificado com a competição até a completa zona política que domina o clube há décadas. O grupo já dava indícios desde o Campeonato Carioca, no qual não avançou nem às semifinais, e também na Copa do Brasil, onde foi eliminado pelo São Paulo nas oitavas de final.

A torcida demorou a cobrar e a perceber que o panorama não mudaria à gosto do Vasco. Os clubes grandes costumam se achar superiores à Série B e, consequentemente, pensam que podem resolver tudoquando quiserem - mas, quando o Cruzmaltino percebeu, já era tarde demais. A missão já havia ficado impossível e a arrancada final não aconteceu.

Nas palavras do próprio presidente Jorge Salgado, 2021 foi um desastre. Com Marcelo Cabo, Lisca Doido e Fernando Diniz como técnicos em menos de 10 meses e um elenco comandado por nomes como Cano, Zeca, Leandro Castán, Leo Matos, Marquinhos Gabriel e Morato, o time de São Januário não deu liga e sequer criou uma identidade.

Expectativas

O clube, agora, busca oxigenar. Respirar novos ares. O ambiente, ainda muito pesado, precisa aliviar. Um clube do tamanho do Gigante da Colina precisa respeitar suas tradições, mas também se renovar quando necessário. E, mais do que nunca, é preciso que surja um novo Vasco.

A certeza é a força da camisa e de sua torcida; todo o resto é uma incógnita. Desde as brigas políticas nos corredores até o grupo que subirá ao campo de São Januário. Sem um diretor executivo definido, o clube ainda não traçou seus rumos para a temporada que já se avizinha. O técnico Zé Ricardo precisará se provar como nome ideal para o desafio.

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