Filipe Vianna - Segue o Jogo
Estão acabando com o meu Brasil!
A grande afirmação de todos os tempos é que o Brasil é o país do futebol. Afinal, procure uma seleção que tenha cinco títulos de Copa do Mundo. Certamente não achará.
O Brasil sempre foi aquele que encantava. Apesar de todas as glórias, houve tempos “sombrios” também, mas ainda assim, que seleção teve em um mesmo mundial um time com Zico, Falcão, Sócrates e cia? Ou até mesmo Ronaldo, Ronaldinho, Kaká, Robinho e Adriano?
Não era só a badalação dos atletas que faziam os torcedores se encantarem com o futebol brasileiro, mas também o sentimento de que quando a amarelinha entrava em campo, não havia rivalidade. Era a hora de juntar Vasco e Flamengo, Palmeiras e Corinthians, Grêmio e Inter e muitos outros clubes. Meu time de coração na Terra e a Seleção Brasileira no Céu. Esse era o lema. Mas isso acabou.
Recentes convocações e atrapalhadas fizeram o interesse do torcedor diminuir a ponto de quase sumir. Não há como torcer para um time e ignorar escândalos de corrupção do presidente da entidade que controla esse time. Não dá. Ricardo Teixeira iniciou a queda brasileira. Depois vieram: José Maria Marin e Marco Polo Del Nero.
Há quem diga que sempre houve esse tipo de questão, mas que nunca afetou o futebol jogado. João Havelange, ex-presidente da FIFA e homem influente no futebol mundial, foi acusado de diversos escândalos. Dentre estas acusações, a Justiça da Suíça afirmou que ele e Teixeira (seu genro) receberam propinas de cerca de R$ 45 milhões pela venda de direitos de mídia de torneios da Fifa.
A questão não é se a corrupção é nova ou antiga, mas sim até que ponto a influência dos cartolas afeta dentro das quatro linhas. Por exemplo: Quando Dunga foi técnico pela primeira vez do Brasil (2006-2010), ele chamou Afonso Alves. Afonso era um atacante que jogava no Heerenveen (HOL) e fazia bastante gols. Foi tão esquisita essa convocação, afinal era um atleta desconhecido e, quando entrou em campo com a camisa amarela, fez nada. Absolutamente nada. Ali já começava um questionamento maior de jogadores chamados “estranhamente”. E não só isso: marcações de jogos contra adversários fracos e em locais “estratégicos”.
Em 2015, O Estadão noticiou com exclusividade documentos que ligavam a CBF à uma empresa que cuidava dos jogos feitos pelo Brasil. Entre diversas cláusulas no contrato, está explicita que a seleção deve sempre usar o seu melhor time para jogar. Além desse detalhe, cita também que não pode ocorrer o que aconteceu em novembro de 2011.
Nessa época, houve amistosos realizados no Gabão e em Doha (Catar) para enfrentar o próprio Gabão e o Egito. Nesses amistosos, Mano Menezes – então técnico da Seleção – escalou uma equipe que não contivesse: Leandro Damião, Lucas Moura, Kaká, Neymar e Ganso (jogadores presentes na lista original para os amistosos).
Para piorar, o documento diz que “qualquer alteração à lista, a ISE (empresa contratada pela CBF) deverá ser comunicada por escrito e confirmada mútuo acordo. Nesse, caso a CBF fará o possível para substituir os jogadores com outros de nível similar, com relação a valor de marketing, habilidades técnicas, reputação”. Olha que louco!
Esse assunto até foi um pouco abafado depois da prisão de José Maria Marin e o impedimento de Marco Polo Del Nero em sair do país. No entanto, voltou à tona com as recentes enxurradas de críticas aos amistosos feitos. Por exemplo: será que alguém acordou às 9h de uma quinta-feira para ver Brasil x Senegal? Mas é claro que não. Afinal, o jogo foi em Singapura (fuso horário de 11h a mais em relação à Brasília). Mais alguém viu Brasil x Perú às 0h em um dia de semana em Miami, num campo horroroso de futebol americano, cheio de marcação e pintado por cima para ser adaptado ao “soccer”? Mas é claro que não também.
Para quem não sabe, a CBF tem contrato com a Pitch. A empresa inglesa é a responsável por organizar e explorar comercialmente os amistosos realizados pelo time verde e amarelo. A Pitch apresenta um leque de opções de locais e adversários. A CBF tenta conciliar com os interesses da comissão técnica, e esse processo tem sido desgastante. Para se ter uma ideia, havia uma partida a ser realizada em Bangladesh. E outra a ser realizada com a seleção da Malásia (Meu Deus! O que estão fazendo com a nossa seleção?). Vale lembrar que o contrato atual vai até 2022. E o acordo é fruto de uma subcontratação feita pela ISE (desde a gestão de Ricardo Teixeira).
A verdade, caro leitor, é que as coisas estão indo de mal a pior. O Brasil está completamente perdido. Mas veja bem.... Eu falo de Seleção Brasileira de Futebol Masculino. O interesse pelo futebol brasileiro está de pé, cada vez mais eufórico com o Flamengo arrasando, o Athlético Paranaense fazendo história, com o Grêmio todo ano aparecendo entre os semi-finalistas da Libertadores... Só que aquele sentimento de juntar todos estes com um único propósito está em declínio.
Quando foi a última vez que pintaram a rua para a Copa do Mundo? Quando foi a última vez que acordaram cedo para ver Brasil x Alemanha? Os títulos ajudam a maquiar toda uma realidade, um problema, mas não a resolvê-lo. Do que adianta ser penta, futuramente Hexa e depois Hepta, se o “jogamos juntos” está cada vez mais distante? Do que adianta se a Seleção está longe da sua torcida fazendo um “Brasil Tour”, apresentando a marca “Seleção Canarinho” para o mundo todo menos para a sua própria casa?
Filipe Vianna - É apaixonado por análises táticas e coberturas esportivas. Ele fala sobre futebol e o mundo dos esportes.
Perdeu documentos, objetos ou achou e deseja devolver? Clique aqui e participe do grupo do Enfoco no Facebook. Tá tudo lá!