Arteterapia

A Arte cura! Como a atividade traz significado e sentido à vida

Como as manifestações artísticas podem dar lugar ao conforto

Everaldo Oliveira com uma de suas criações
Everaldo Oliveira com uma de suas criações |  Foto: Divulgação
  

A arte faz parte da vida de todos nós e ela cura! De acordo com diversos estudos, produzir e consumir arte afeta diversas áreas do cérebro, principalmente, as partes cognitivas que potencializam o aprendizado e expandem a capacidade de percepção. 

Foi buscando o processo de cura, que o aposentado Everaldo Oliveira, de 77 anos, achou na arte o seu refúgio. Após a perda da sua filha em 1993, ele mergulhou em um processo depressivo que só foi pausado após visitar o ateliê de uma artista que também era psicóloga, a convite do seu filho e desde então, viu a sua vida mudar.

"Em 1973, entrei para a Associação Fluminense de Belas Artes e logo depois abandonei.  Fui para o Senac, fiz vários cursos, mas não tinha foco algum. Fazia por fazer. Após essa grande dor emocional, que me isolou do ambiente social, vi na Arte a forma de sair do fundo do poço. Comecei a fazer tratamento e busquei acompanhamento de um processo psicoterapeutico com abordagem da arteterapia. Nesse processo, fui resgatando minha autoestima, confiança em mim e percebi que tinha potencial criativo e comecei!", conta.

Everaldo lembra que no auge de suas crises pensou em tirar sua própria vida e nesse momento, que sempre acontecia nas madrugadas, ele ia para seu ateliê e extravasava nos papeis e lápis de cor. E foi assim que ele afirma que desabrochou o que estava guardado dentro de si. Atualmente, suas esculturas são compostas por uma variedade de objetos da natureza e o artista já expôs nas cidades de Niterói, São Gonçalo, Cabo Frio e Arraial do Cabo e já foi tema de um espetáculo no Teatro Popular oscar Niemeyer em 2021, denominada "TIC-O Espelho do Ser", que abordou a saúde mental e a arte, promovido por uma academia de dança local.

"Meu olhar sobre a matéria prima para minhas obras sempre teve o cunho da sustentabilidade, pois, vejo no reaproveitamento de materiais descartados e elementos orgânicos encontrados no ambiente, um grande tesouro. Faço desde desenhos geométricos, formas e manchas de tinta e pigmentos, aquarela sobre papel e papelão, até escultura e modelagem em terracota, cimento, gesso, papel, metal e plástico.  Posso dizer que minha produção artística é comtemporânea e conceitual", conta Everaldo.

Diego Moura em sua exposição no Espaço Cultural Correios, em Niterói
Diego Moura em sua exposição no Espaço Cultural Correios, em Niterói |  Foto: Divulgação
  

A arte como instrumento de registro histórico

É assim que o artista Diego Moura, denomina o processo do fazer artístico. O jovem explica que a arte marca no tempo a história sobre nossa sociedade, comportamentos e as individualidades dentro de determinadas épocas. Então, ele acredita que o que fazemos enquanto seres humanos, é preparar o "terreno", no sentido figurado mesmo, para que no futuro outras gerações desfrutem. 

"O meu trabalho como artista, por exemplo, é recheado de referências de outros movimentos culturais de diferentes tempos históricos. Mas também carrega o ineditismo da nossa época. E a minha missão nesta vida, é cativar o olhar do outro através do meu trabalho e deixar uma mensagem para o futuro contar um pouquinho da nossa história através dos meus traços".

Diego, que atualmente está com sua exposição "Um dedo de arte: do digital ao orgânico", com curadoria de Angelina Accet, no Espaço Cultural Correios de Niterói, revela que quando está imerso criando suas peças, usa o lúdico para refletir sobre a nossa realidade.

"Minha inspiração e impulso para a criação vem do outro, do contato, do afeto ou mesmo de uma característica física ou comportamental que me prende a atenção. Tento extrair do diferente, um comportamento comum a um grupo ou uma cultura. Muitas das minhas artes nascem depois de um sonho, por exemplo. Eu vivo, sinto e imagino e a arte nasce", diz.

Thais Ribeiro com uma de suas peças onde ela capta e transmite suas histórias
Thais Ribeiro com uma de suas peças onde ela capta e transmite suas histórias |  Foto: Divulgação
  

O (re)conhecimento através da arte

Sempre latente na vida da artista visual Thaís Ribeiro, carioca que atualmente mora em São Paulo, a Arte em sua concepção, a ajuda a processar processos e fatos que mantemos escondido, ou que não sabemos exatamente como expressar. É um tipo de linguagem que todos sabem entender de alguma forma, porque não se trata de ser estudioso ou “entendido” no assunto, mas de sentir o que ela te traz. 

"Ser artista está na minha essência, nasci assim. Sempre foi algo que expressei naturalmente, provavelmente aprendi a desenhar muito antes de falar ou ler. Mas claro, conforme crescemos, o sistema vai aos poucos nos podando e nos colocando em caixas. Comecei a sair oficialmente da minha caixinha quando meu filho nasceu em 2013 e percebi que eu tinha que fazer finalmente algo que eu gostava, sem me importar com o que diziam sobre o retorno financeiro. Comecei instintivamente a trabalhar com upcycling (ouvindo as roupas paradas) e surgiu uma demanda por aplicar esse conhecimento em Arte Educação. Usei esse lugar de mediar o processo criativo dos outros pra me esconder do meu. Mas tudo tem consciência e o meu eu artista também tem. Faz uns dois anos que ele voltou com força total, como um tumulto muito grande e um mergulho no auto conhecimento que agora começa a fazer sentido", explica.

Thais diz que todas as coisas que deixou de fazer estão sendo retomadas pouco a pouco, cada uma ganhando seu lugar no mundo. E com isso o seu "eu artista" e seu "eu educadora", conseguem agora conviver mais em paz, cada um no seu lugar e trabalhando em conjunto, pois "fazer arte", é mais que uma profissão, é questão de sobrevivência e saúde mental. E quando estamos bem conosco, todas as coisas começam a fluir naturalmente, sem que a percebamos.

"A maneira por exemplo, que certas músicas têm de nos transportar para alguns estados emocionais, ou como dançar ou fazer um trabalho manual pode te ajudar a se entender melhor, ou expressar coisas que você nem sabia que tinha pra dizer. A Arte sempre tem algo pra nós. Eu trabalho com objetos esquecidos. Podem ser fotos, roupas, aquelas coisas que a gente dá tanto valor que não usa, ou que não dá valor nenhum e nem percebe que estão a nossa volta o tempo todo. Acredito que tudo tem consciência e que essas coisas deixadas de lado também querem se expressar no mundo. Meu trabalho é escutar o que elas tem pra dizer, interpretar que histórias elas querem contar e dar uma nova forma de expressão para além, dos seus significados iniciais. É um trabalho quase meditativo, de silenciar a mente e “ouvir” o que o objeto tem pra contar e como ele quer contar".

O olhar profissional

A psicóloga e arteterapeuta, Henriqueta Sasso, conversou com o Enfoco e explicou que quando o potencial criativo é acionado, carrega evidências que se transformam em expressão de arte.

"É como se o paciente acessasse partes escuras e ocultas (subconsciência), que na luz (consciência), produzem prazer e mudanças. Em um processo terapêutico, toda e qualquer forma de expressão em sintonia com a escolha de preferência do paciente, facilita o autoconhecimento, autoestima e transforma sua relação com o outro, consigo próprio e com o mundo", diz a especialista.

  • Imagens do artista foram expostas no Teatro Popular Oscar Niemeyer
    Imagens do artista foram expostas no Teatro Popular Oscar Niemeyer
  • O artista plástico Everaldo Oliveira com uma de suas criações
    O artista plástico Everaldo Oliveira com uma de suas criações
  • Diego Moura em sua exposição no Espaço Cultural Correios, em Niterói
    Diego Moura em sua exposição no Espaço Cultural Correios, em Niterói
  • Thais Ribeiro com uma de suas peças onde ela capta e transmite sua histórias
    Thais Ribeiro com uma de suas peças onde ela capta e transmite sua histórias
 

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